Blizzard, gigante de games, enfrenta escândalo por assédio e acende debate
Empresa está sendo processada pela Califórnia por denúncias de assédio sexual, incluindo avanços físicos e verbais contra funcionárias, além de discriminação salarial e de oportunidades baseada em gênero
Thiago Lavado
Publicado em 28 de julho de 2021 às 12h25.
Última atualização em 28 de julho de 2021 às 14h24.
As denúncias de machismo e assédio sexual dentro da desenvolvedora de jogos Blizzard atingem novos patamares.
Na última semana, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, processou a empresa por denúncias de assédio sexual, diferenças salariais entre homens e mulheres na mesma posição e por um ambiente de trabalho que era conivente com avanços físicos e verbais sobre funcionárias. A situação é grave e o processo menciona até que uma funcionária cometeu suicídio após formas extremas de abuso na empresa.
Desde a abertura do processo, a situação vem escalando. A empresa contratou um escritório de advogados para lidar com o caso e já fala em remover conteúdo "inapropriado" de títulos famosos como World of Warcraft, por eles fazerem referência a funcionários acusados de investidas no processo.
Bobby Kotick, CEO da empresa, veio a público com uma carta para funcionários, investidores e o público, dizendo que a reação inicial da empresa foi "francamente, sem tom". Kotick afirmou que a Blizzard está "tomando ações rápidas" para garantir um ambiente de trabalho seguro.
Os funcionários da companhia endossaram o processo e planejam uma passeata para chamar atenção sobre o caso nesta quarta-feira. Mais de 3.000 atuais e ex-empregados assinaram uma carta digital para os líderes da empresa dizendo que a resposta ao processo foi "repugnante e desrespeitosa".
Agora, a Blizzard está sob os holofotes em uma indústria que historicamente lida com problemas de assédio contra mulheres.
Em 2019, a Riot Games, desenvolvedora de títulos como League of Legends, chegou a um acordo para pagar ao menos 10 milhões de dólares em uma ação conjunta por discriminação baseada em gênero e cultura de assédio sexual da empresa — valor que foi considerado baixo pela promotoria, a mesma que iniciou o caso contra a Blizzard.
A francesa Ubisoft também foi alvo de escândalo por abusos sexuais dentro da empresa, com ex-funcionárias dizendo que a situação se delongou por anos antes de ter vindo a público no ano passado.
Enquanto Kotick, que é CEO da companhia desde 1991, tenta contornar a situação, a empresa busca apaziguar ânimos permitindo licença para muitos comparecerem à passeata de hoje e reiterando que irá implementar novos processos para lidar com as denúncias.
O que afirma o processo
A situação é grave para a empresa. O processo afirma que a cultura interna da Blizzard permitia piadas sobre estupro, comentários sobre o corpo de mulheres e até avanços no local de trabalho sem qualquer tipo de retaliação da empresa ou de lideranças, que por vezes estimulavam o comportamento.
"Funcionárias quase universalmente confirmaram que trabalhar para a empresa era quase como trabalhar em uma casa de fraternidade, em que invariavelmente envolvia funcionários bebendo e submetendo funcionárias a assédio sexual sem qualquer repercussão", diz o processo.
"'Assaltos a mesas' [termo traduzido de 'cube crawl' e usado no processo para exemplificar avanços inapropriados de funcionários] nos escritórios da empresa eram comuns e os funcionários orgulhosamente vinham trabalhar de ressaca. De maneira similar, funcionários jogavam videogames durante o horário de trabalho, se engajavam em discussões sobre sexo, falavam abertamente do corpo de mulheres e faziam diversas piadas sobre estupro".
A situação se estendia a acontecimentos públicos, com funcionários de alto escalão, como o diretor criativo sênior de World of Warcraft, Alex Afrasiabi, assediando colegas em eventos da empresa.