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Adolescente cria monitor da covid-19 e recusa oferta de R$ 44 milhões

Oferta envolvia controle editorial do site; "a responsabilidade não deveria estar em uma criança aleatória", afirmou ele ao Business Insider

Avi Schiffmann (Instagram/Reprodução)

Avi Schiffmann (Instagram/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 22 de maio de 2020 às 11h33.

Última atualização em 19 de junho de 2020 às 16h35.

Aos 17 anos de idade, o estudante americano Avi Schiffmann fez uma escolha que pode parecer difícil para muitos, mas que, para ele, não foi tanto assim: recusar 8 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de reais na cotação atual). Schiffmann é o criador de um dos sites de monitoramento do coronavírus mais populares do mundo, o ncov2019.live, e recebeu a oferta milionária de uma empresa para continuar programando o site, por tempo indeterminado. "Eu só tenho 17 anos, eu não preciso de 8 milhões de dólares. Não quero me aproveitar dessa situação", afirmou ele em entrevista ao site americano Business Insider.

Segundo Schiffmann, 100% do seu tempo livre é consumido por atualizar os dados do site, que monitora a situação global da covid-19. Por dia, são cerca de 30 milhões de visitantes.

A plataforma é atualizada constantemente com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) e de sites dos governos dos países. No mapa, é possível ver onde o surto tem sido mais forte, a porcentagem de mortes, casos ativos e críticos e também quantas pessoas já se recuperaram da doença. Para o Brasil, o monitoramento de Schiffmann aponta 312.074 infectados, 20.112 mortos e 125.960 recuperados --- números um pouco maiores dos que os divulgados pelo Ministério da Saúde na noite desta quinta-feira (21).

A oferta milionária foi feita por uma empresa que pretendia ter o controle editorial do site e mantê-lo apenas como programador, colocando anúncios visando os milhões de visitantes. Segundo ele, o faturamento seria muito maior se ele colocasse seus próprios anúncios, mas "esse não é o foco do website".

O motivo por trás da decisão, de acordo com ele, é o fato de ele não querer pop-ups "arruinando o design de interface do usuário", que estaria fora de seu controle caso o site fosse vendido. Ele também não quer estar sob contrato para manter o site rodando ou para fazer mudanças que ele não concorda. Ao Business Insider, Schiffman contou que sabe que muitas pessoas não têm internets rápidas o suficiente para suportar anúncios.

O adolescente se sente orgulhoso do projeto que desenvolveu, mas não quer se tornar famoso por isso. "No futuro, eu espero que a pressão esteja na OMS para fazer uma ferramenta dessas. A responsabilidade não deveria estar em uma criança aleatória", afirmou ele ao BI.

Ele se descreve como um "aluno terrível" e conta que faltou às aulas por duas semanas para focar na ferramenta. Também ao site, Schiffmann afirmou que já ficou acordado 50 horas seguidas para atualizá-la. "Mas é óbvio que as pessoas querem saber as estatísticas."

"As pessoas vão achar que eu vou me arrepender dessa decisão, mas eu planejo fazer muitas coisas no meu futuro", contou ele. O jovem também afirma que não pretende trabalhar em nenhuma big tech. "Quero continuar com os meus projetos e também a última coisa que você quer fazer depois de desenvolver um dia todo no trabalho é desenvolver ainda mais", disse. "Eu conheço muitos investidores agora. Se eu abrisse uma empresa amanhã, eles leriam meu projeto de negócio, pelo menos", afirmou.

Após a decisão de rejeitar a oferta, Schiffmann recebeu diversos comentários odiosos nas suas redes sociais e virou alvo de memes. Em seu perfil no Twitter, ele afirmou que "as pessoas ainda não entendem o por quê". "O objetivo do site sempre foi informar as pessoas ao redor do mundo sobre a pandemia, e não fazer dinheiro, vou ter oportunidades para isso no futuro. Eu valorizo mais as oportunidades e conexões que vocês me trazem, é mais importante para mim do que dinheiro", escreveu ele.

Em relação aos dados, ao jornal americano The Seattle Times, Schiffmann afirmou que "é muito difícil saber quais são mais precisos". "Muitos departamentos de saúde não divulgam informações públicas. Mas a minha observação principal é que o mundo não está tão preparado quanto deveria. A China construiu um hospital em 10 dias. Eles deveriam se preparar antes para algo assim. Eles deveriam descobrir o que fazer se as escolas fecharem por meses. Ninguém na América estava com medo até a semana passada", disse.

A ideia do estudante é retirar o site do ar quando a pandemia acabar e transformá-lo em uma página que compara dados entre o novo vírus e a SARS ou a Gripe Espanhola. Schiffman quer entrar para a história e acredita que o site será algo que as pessoas se lembrarão daqui uns anos. Em partes, ele está certo: o site já rendeu o prêmio Webby, principal prêmio de excelência na internet.

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