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A urna eletrônica é segura? Em princípio sim, mas há quem discorde

TSE se defende de críticas, considera liberar código-fonte da urna, enquanto especialistas em segurança divergem sobre a integridade do sistema eleitoral

Urna eletrônica é segura, disse o ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Bastide Horbach. (TSE/Reprodução)

Lucas Agrela

Publicado em 23 de setembro de 2018 às 05h55.

Última atualização em 23 de setembro de 2018 às 20h55.

São Paulo – Após acusações de Jair Bolsonaro à segurança da urna eletrônica e declarações presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, defendendo a integridade do sistema de votação eletrônico brasileiro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) veio a público para esclarecer que trabalha para garantir a segurança na contagem de votos e no sigilo de escolha em um evento de segurança da informação em São Paulo. No entanto, especialistas ainda discordam entre si sobre o quanto esse sistema é eficaz.

"Fico muito triste com os ataques à urna brasileira. Ela é uma conquista da democracia brasileira. Desde que foi implementada, não existem mais fraudes. Existem suspeitas, mas fraude, em si, não existe. Além disso, a urna aproximou as pessoas da democracia. Pessoas com deficiência visual e analfabetos podem votar com facilidade hoje em dia", afirmou Rodrigo Coimbra, chefe da Seção de Voto Informatizado do TSE, durante o Mind The Sec, realizado pela empresa de segurança Flipside.

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Coimbra participou de um debate para especialistas do setor com Diego Aranha, que participou dos testes públicos da urna eletrônica desde 2012 e hoje é professor-assistente da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Aranha é um dos principais críticos da segurança da urna eletrônica. Ele ficou conhecido por ter encontrado uma falha que permitia o sequenciamento de votos, o que tornaria possível quebrar o sigilo do voto. Para ele, os principais problemas são o fato de o código-fonte não ser público, não haver nenhum registro em papel para uma auditoria com recontagem de um modo que não seja digital e o processo atual de auditoria existente, que pode dar margem à fraude interna.

O representante do TSE informou que o código-fonte das urnas eletrônicas será aberto o mais breve possível. Ainda não há data oficial para que isso aconteça, mas é algo que é considerado pelo tribunal. São 24 milhões de linhas de código que contam com bibliotecas como o SSL e o kernel do Linux.

Em defesa às críticas, Coimbra lembrou que os partidos podem participar dos processos de auditoria – mas nem sempre aparecem – e que os testes são feitos junto a departamentos de tecnologia da informação de universidades brasileiras, além de integrantes do Supremo Tribunal Federal e da Sociedade Brasileira da Computação. Só depois de aprovado por todos é que o software da urna eletrônica está apto para ser usado em uma eleição.

Quando são produzidas, as urnas têm responsividade apenas nas teclas anula e confirma, justamente para evitar quaisquer tentativas de adulteração ou influência nos resultados. Todas as demais teclas só passam a funcionar depois que estão dentro do TSE.

Fernando Amatte, diretor de inteligência cibernética da Cipher, que também participou de testes públicos da urna eletrônica, garante que ela é segura. "Se a gente roubasse uma urna, o TSE cancelaria a assinatura eletrônica dela e os votos que nela constavam não seria incluídos na contagem. Em todas as pontas do processo que eu conheço, o sistema de votação brasileiro é seguro. Um ponto de crítica por ser o fato de que ele está sob uma entidade única que faz tudo, o TSE. Mas é mais fácil reclamar da urna eletrônica do que propor um teste reproduzível que demonstra uma falha. As pessoas têm que fazer mais e falar menos quando participam dos testes públicos da urna", declarou Amatte.

Mikko Hyppönen, diretor de pesquisa da empresa de segurança digital F-Secure, acredita que o sistema de votação brasileiro ainda pode melhorar e o critica pelo fato de a urna eletrônica ser como uma "caixa-preta" à qual poucas pessoas têm acesso. "Sou fã da digitalização quando ela resolve um problema. O sistema de votação tradicional, em papel, funciona bem. Você pode recontar os votos, se quiser. Se você deixa isso com um computador, não há como checar duas vezes o número encontrado como no voto em papel", afirmou Hyppönen, em entrevista a EXAME. 80% das 4 mil pessoas que responderam à pesquisa do aplicativo Eleitor Digital se disseram a favor do voto em cédulas de papel.

O registro biométrico da população que está em curso hoje no país poderá oferecer uma camada adicional e importante de proteção para o processo eleitoral. Com sistemas de registros nos estados brasileiros sem interligação eficaz, é mais fácil fraudar a identidade de uma pessoa do que os votos em uma urna eletrônica.

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