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O rotativo do cartão de crédito pode acabar. E agora?

Medida está sendo estudada pela Abecs, associação das empresas de cartões, e é positiva para os consumidores, segundo planejadores financeiros


	Cartão de crédito: consumidor deve utilizar o produto com consciência
 (Thinkstock/alice-photo)

Cartão de crédito: consumidor deve utilizar o produto com consciência (Thinkstock/alice-photo)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 14 de junho de 2016 às 17h24.

São Paulo - O rotativo do cartão de crédito, o maior vilão para os consumidores, pode estar com os dias contados —pelo menos como ele é hoje. A reformulação do produto vem sendo estudada pela Abecs (associação das empresas de cartões), que deve apresentar propostas nos próximos meses. Mas, na prática, o que isso significa?

Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, a notícia é positiva para os consumidores, já que a taxa de juros do rotativo do cartão de crédito é de 450% ao ano, em média, a maior entre todas as modalidades. Para os bancos, o produto pode não estar compensando mais, diante do aumento da inadimplência, o que prejudica a imagem das instituições.

"Estamos com duas consultorias contratadas para analisar a mudança do rotativo. Não queremos gerar impacto no dia-a-dia das pessoas", diz Ricardo de Barros Vieira, diretor executivo da Abecs. "Estudamos várias frentes, mas a mais forte é a restrição no tempo de permanência no produto a 60 ou 90 dias", completa.

O diretor explica que a modalidade foi criada para atender às "urgências" dos consumidores, que precisassem de crédito pré-aprovado por poucos dias. Mas, na prática, muitos acabam utilizando o produto com frequência, como uma muleta financeira, até se tornarem inadimplentes.

O rotativo é uma linha de crédito pré-aprovada que é contratada pelo cliente automaticamente quando ele paga um valor abaixo do total devido no cartão de crédito —e pelo menos o pagamento mínimo (15%) da fatura. A proposta estudada pela Abecs é de que o consumidor fique nesta modalidade por 60 ou 90 dias, no máximo, e depois disso o saldo devedor seria migrado a uma linha de crédito com juro menor.

"Vamos apresentar algumas soluções à indústria, e esta deve ser uma delas. Não podemos impor que as empresas aceitem o que for sugerido, mas acreditamos que a aceitação será grande", diz Vieira. A Abecs representa cerca de 96% do mercado de cartões no país.

Para Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, a substituição do rotativo após 60 ou 90 dias por uma linha de crédito com juro menor pode beneficiar os bancos. "Quando o consumidor é considerado inadimplente por mais de 90 dias, isso afeta negativamente o índice de Basileia [indicador que determina o limite da carteira de crédito de uma instituição financeira] deles", diz.

Já o consumidor deve manter o cuidado: "mesmo a modalidade com juro menor, que entraria no lugar do rotativo, pode não caber no bolso dele", alerta a planejadora financeira Eliane Tanabe. 

Consciência

Para não cair em uma enrascada e se complicar financeiramente, seja no rotativo do cartão ou em outra modalidade de crédito, especialistas recomendam utilizar esses produtos com consciência. "É como bebida alcoólica, tem que ter moderação", ressalta Calil. 

"Quando o consumidor vai fazer alguma compra muito grande, como financiar um carro ou uma casa, ele normalmente estuda bastante como será o pagamento disso. Com o cartão, porém, ele não pensa muito no futuro, já que as compras são 'pequenas'. Com isso, amplia a chance de não conseguir pagar a fatura lá na frente", diz Eliane.

A primeira coisa que é preciso fazer, segundo a plenejadora financeira, é tentar mudar esse comportamento. "Muitas vezes fazemos compras irracionais, pensando que precisamos comprar um presente ou precisamos comprar uma determinada roupa, mas nem sempre essas compras são, de fato, uma necessidade."

É preciso identificar quais são os gastos obrigatórios e necessários primeiro para depois, então, saber quanto vai sobrar de dinheiro para os gastos voluntários, explica Eliane.

Segundo Calil, da Academia do Dinheiro, antes de tomar um crédito, o consumidor tem que considerar também utilizar recursos que ele pode ter em outras aplicações. "Muita gente tem um pouco de dinheiro na poupança, por exemplo, mas prefere tomar um crédito e pagar juros em vez de resgatar o valor parado na caderneta", diz.

Se for mesmo o caso de recorrer a um empréstimo, vale buscar pelas modalidades mais baratas, como o consignado —com desconto em folha de pagamento. "Parcelar no cartão de crédito é uma alternativa apenas se utilizada com consciência. Lembre-se de que este é um valor disponível para urgências e, com as parcelas, ele fica comprometido", finaliza Eliane.

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