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"Vá mais fundo, que tem petróleo!"

Esse é o lema de Márcio Mello. À frente da petroleira HRT, o ex-geólogo da Petrobras vem convencendo investidores de que pode achar petróleo no Amazonas e na Namíbia

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Márcio Rocha Mello, presidente executivo e do conselho de administração da HRT Petroleum (Edu Monteiro/EXAME.com)

Márcio Rocha Mello, presidente executivo e do conselho de administração da HRT Petroleum (Edu Monteiro/EXAME.com)

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Samantha Lima

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às, 11h40.

Márcio Mello chega pela manhã ao escritório em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, e, na entrada, coloca pantufas, daquelas usadas na UTI de hospitais, sobre os sapatos sociais. Da entrada, caminha sobre um carpete branquíssimo até sua sala, com vista para o mar. Descalça as pantufas e os sapatos. E passa a trabalhar de sandálias Croc, um confortável e horrível calçado de borracha, que fez muito sucesso em todo o mundo nos últimos anos.

O mineiro Mello adora o carpete branco da sede de sua empresa, a petrolífera HRT. Assim como ele, todos os visitantes, clientes, fornecedores e funcionários andam de pantufas para manter o ambiente o mais limpo possível. “Não sofro de transtorno obsessivo compulsivo”, diz Mello. “Gosto de carpete claro e quero que ele fique limpo.” A história das pantufas já se tornou famosa no setor de exploração de petróleo, área que vem dando origem a uma leva de novos empresários, ávidos por aproveitar a boa fase de uma commodity que parece imune aos vaticínios que pairam sobre ela.

Mello, um ex-geólogo da Petrobras desconhecido fora do mun do do petróleo até pouquíssimo tem po atrás, é um desses personagens. No fim de 2010, ele levantou 2,6 bilhões de reais na BM&F Bovespa na oferta inicial de ações da HRT, empresa que ainda não fez jorrar uma única gota de petróleo. Desde a abertura de capital, suas ações subiram 56% — enquanto as da Petrobras avançaram 10% e as da OGX, de Eike Batista, caíram 18%.

Plano bilionário

Na prática, Mello vendeu na bolsa um plano de negócios cuja promessa é começar a produzir petróleo ainda neste ano e chegar a 100 000 barris por dia em 2014, a maior parte no estado do Amazonas, área ainda pouco explorada pela Petrobras. Embora a meta seja equivalente a cerca de 5% da produção atual da estatal, seria suficiente para render dividendos milionários, a exemplo do que acontece com várias petroleiras desse porte nos Estados Unidos. “A HRT é uma grande promessa, e Mello é um empresário inspirado”, diz a inglesa Carmel Daniele, fundadora do CD Capital, fundo inglês especializado em investimentos em recursos naturais e um dos investidores da HRT.

Parte do entusiasmo dos acionistas com a HRT é explicada pelo enorme vigor do petróleo no mercado mundial. “O consumo forte mostra que o preço do barril não cairá abaixo de 70 dólares”, diz Nelson Rodrigues, analista do Banco do Brasil. Segundo seu plano de negócios, a HRT já é considerada financeiramente viável com o preço do barril na casa dos 20 dólares. Aos 57 anos, Mello faz o possível para alimentar a euforia do mercado.


“Ele é incrivelmente preparado e é um vendedor nato”, diz um ex-executivo da Petrobras. Em outubro do ano passado, em uma reunião de 1 hora com investidores em Nova York, durante o roadshow que precedeu a estreia da HRT na bolsa, Mello fez piadas, gesticulou, instigou a plateia com perguntas. Foi aplaudido de pé por cerca de 100 analistas. “Além de técnico, ele é um showman”, diz o analista de um grande banco americano que participou da reunião.

Nascido numa família de classe média — o pai era funcionário do Banco do Brasil, e a mãe, dona de casa —, Mello formou-se em geologia pela Universidade de Brasília e logo foi para a Petrobras, onde trabalhou por 24 anos. Lá foi um dos entusiastas das pesquisas no pré-sal. A insistência lhe valeu na época internamente o apelido de “Mr. Go Deeper” (Sr. Vá Mais Fundo). “Qualquer estúpido diria à Petrobras para ir mais fundo nas perfurações e eu disse mesmo!”, afirmou ele numa palestra para estudantes da Wharton Business School em visita ao Brasil, em janeiro.

Em 2000, decidiu sair da estatal e criar duas empresas de estudos geológicos. Ambas foram vendidas em 2004 para duas pequenas companhias do setor de petróleo, uma brasileira e outra holandesa (os valores dos negócios não são revelados). No mesmo ano, Mello fundou a HRT — abreviação de High Resolution Technology —, que nasceu também como empresa de análise sísmica. O rumo do negócio mudaria em novembro de 2008, após um telefonema.

Mello ligou para um conhecido em Nova York, o executivo americano Michael Vitton, chefe de renda variável do banco canadense BMO, especializado em investimentos em recursos naturais. Mello queria apresentar a Vitton um de seus clientes — uma pequena petroleira que procurava financiamento para extrair petróleo na bacia do Solimões, na Amazônia. Não — foi a resposta. “Mas sugeri que ele mesmo criasse uma petroleira”, diz Vitton. “Se isso acontecesse, eu ajudaria a levantar o dinheiro.”

Dois dias depois, Vitton desembarcou no Brasil, transformou-se em sócio de Mello, criou um fundo de investimento em empresas brasileiras de capital fechado e pediu demissão do BMO. No fim de 2009, Vitton usou sua rede de contatos para apresentar a HRT a investidores estrangeiros, realizando a primeira captação da empresa, com a venda de uma participação de 70%, por 276 milhões de dólares. Entre os investidores estava o fundo MSD Capital, de Michael Dell, fundador da fabricante de computadores que leva seu sobrenome. O passo seguinte foi abrir o capital na bolsa. Com dinheiro em caixa, os cerca de 200 funcionários da HRT — quase metade ex-Petrobras — hoje correm para começar a produzir óleo na bacia do Solimões e no mar da Namíbia, na África, onde estão os poços sob concessão da empresa. A HRT estima ter 2 bilhões de barris em reservas — 15% das reservas provadas da Petrobras.

Apesar do otimismo dos investidores, vale lembrar que a atividade de produzir petróleo envolve riscos elevados em qualquer parte do mundo. “Não há garantias de que a HRT vá achar óleo nas áreas de concessão”, diz um consultor. Alguns críticos de Mello afirmam, protegidos pelo anonimato, que ele só está valorizando a HRT para vendê-la antes que o petróleo jorre de seus poços. “Procurarei sócios, não compradores”, diz Mello. Sobre as dúvidas a respeito da existência de óleo no Solimões, onde até o ano passado as descobertas mais relevantes eram de gás, o empresário das Croc costuma responder com o auxílio de uma lata de Cola-Cola. Ele verte o refrigerante em um copo de vidro e explica: “O gás é mais leve, e, portanto, fica sobre o líquido. Para chegar ao óleo é preciso perfurar mais fundo, e é isso que vamos fazer”. Eis aí Mr. Go Deeper em ação outra vez.

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