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Uma Copa do Mundo ambiciosa: o projeto de esporte para 2026

Um Mundial com 48 equipes disputado em três países traz novas audiências, mais direitos de transmissão e novas receitas para a FIFA

Carlo Ancelotti: novo comando da seleção ainda não se traduziu em confiança (Marc Atkins/Getty Images)

Carlo Ancelotti: novo comando da seleção ainda não se traduziu em confiança (Marc Atkins/Getty Images)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 10h28.

Prepare-se para assistir a Portugal x Uzbequistão. E também a Espanha x Cabo Verde. Uzbequistão e Cabo Verde estreiam em um Mundial, assim como Curaçao e Jordânia. A Copa de 2026 será a mais diferente de todas até agora. Um dos motivos é que, pela primeira vez, serão 48 seleções disputando o troféu de ouro maciço de 18 quilates, pesando mais de 6 quilos e medindo quase 40 centímetros de altura, reservado ao time campeão.

A Copa do Mundo do Uruguai, a primeira de todas, em 1930, foi disputada por 13 seleções. Entre os Mundiais da Suíça, em 1954, e o da Argentina, em 1978, foram 16 participantes. Entre as competições disputadas na Espanha, em 1982, e nos Estados Unidos, em 1994, o número subiu para 24. E desde a Copa da França, em 1998, 32 times competiam pelo título.

A seleção de Curaçao é a menor nação a se classificar para um Mundial. A ilha do Caribe tem 155.000 habitantes e 444 quilômetros quadrados, o equivalente à cidade de Curitiba. Também estará em campo o Haiti, que não participava de uma Copa desde 1974. O francês Sébastien Migné, técnico da seleção haitiana desde meados do ano passado, jamais visitou o país, por causa da violência entre as gangues locais.

Os jogos vão acontecer em 16 estádios de três países. Dois ficam no Canadá, três estão no México, e 11, nos Estados Unidos. A abertura acontecerá no emblemático Estádio Azteca, onde o Brasil venceu a final do tricampeonato de 1970. A partir das quartas de final, todos os jogos acontecerão nos Estados Unidos. A final está marcada para Nova Jersey.

Mundial de verdade

Não é a primeira vez que uma Copa é disputada em mais de um país. Em 2002, o Brasil levou o pentacampeonato no Mundial do Japão e da Coreia do Sul. Mas a ambição cresceu. Esta será a maior edição da história da competição, a continuação de uma investida da Fifa para levar futebol para mais aficionados, oferecendo mais experiências, em países menos afeitos ao esporte da bola redonda, porém de alta renda. Cabe lembrar que em 2002 o Mundial aconteceu no Catar.

O formato também mudou. O torneio agora será dividido em 12 grupos com quatro times cada. Avançam automaticamente os dois primeiros de cada chave — e também os oito melhores terceiros colocados. Isso deve trazer mais drama e evitar jogos combinados. Desta vez a Copa terá no total 104 jogos, em vez dos habituais 64, com duração de 39 dias, sete a mais do que em edições anteriores.

Dessa forma, diminuem as chances de uma seleção forte ficar fora logo depois da primeira fase. Na Copa de 2022, no -Catar, por exemplo, a tetracampeã Alemanha foi desclassificada do grupo E. Passaram Espanha e Japão. Agora, o grupo D é considerado o mais difícil. Participam dele França, Senegal, Noruega e o vencedor da repescagem europeia 3 (que pode incluir Turquia, Romênia ou Eslováquia).

“Um número maior de participantes aumenta a audiência, com mais direitos de transmissão esportiva, ou seja, são novas fontes de receita para a Fifa”, diz Vinicius Lordello, especialista em gestão de reputação e crises no esporte. “Nesse formato, diminuemos riscos de uma zebra. A capacidade dos Estados unidos de organizar competições tem tudo para fazer dessa Copa o evento esportivo mais visto de todos os tempos.”

'Efeito Fórmula 1'

Como em outras competições e modalidades, a Copa do Mundo vem sofrendo um efeito Fórmula 1. A categoria máxima do automobilismo se reinventou após a aquisição pela -Liberty Media, em 2017. A empresa americana aumentou o número de provas em diferentes países, investiu em novas plataformas de divulgação, melhorou a experiência do consumidor. A estratégia vem sendo adotada em outros esportes. No golfe, a LIV Golf League, financiada pela Arábia Saudita, ficou conhecida por suas competições com 54 buracos. A Rolex Saill GP é uma nova regata disputada em circuitos próximos à costa, com público pagante e transmissões por redes sociais.

Para o torcedor brasileiro, acostumado a acompanhar os jogos pela Globo, a Copa de 2026 será um marco. Pelo menos oito canais e plataformas transmitirão as partidas. A única a exibir todos os 104 jogos será a CazéTV, que consolidou uma nova forma de cobertura esportiva, com maior interação com o espectador. A Globo vai transmitir apenas metade do total das partidas. O SBT volta a exibir o Mundial após 28 anos, desta vez em parceria com o N Sports, na TV aberta e no -YouTube. Os dois canais exibirão 32 jogos, inclusive todos os da seleção brasileira. Por lá, a estrela das transmissões será Galvão Bueno, que pela primeira vez desde 1974 desfiará seus bordões fora da Globo.

Por falar em futebol, o Brasil tem chances de trazer o hexa? A depender das estatísticas, sim. Das oito Copas do Mundo realizadas na América, sete foram vencidas por times do continente. Estão no mesmo grupo as seleções de Marrocos, que ficou em quarto lugar em 2022, Haiti e Escócia. Nada tão difícil assim, mas o risco de uma zebra existe. O novo formato favorece a seleção com camisa de maior peso. Mas o torcedor não parece muito convencido. Uma pesquisa recente apontou que apenas 28% dos brasileiros acreditam na seleção brasileira, mesmo com Carlo Ancelotti no comando. Para quem gosta de coincidências, vale lembrar que a seleção brasileira de 2002 chegou desacreditada à competição. Saiu de Tóquio com o pentacampeonato e a autoestima renovada.

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