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Carta de EXAME — Um serviço imprescindível

O caso do jornalista saudita Jamal Khashoggi, torturado e morto na embaixada de seu país na Turquia, é um escabroso exemplo da perseguição a jornalistas

Smartphones no Metrô de São Paulo: as redes sociais deram alcance amplo às notícias falsas (Leandro Fonseca/Exame)

Smartphones no Metrô de São Paulo: as redes sociais deram alcance amplo às notícias falsas (Leandro Fonseca/Exame)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 05h26.

Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 05h26.

O caso do jornalista saudita Jamal Khashoggi, torturado e morto na embaixada de seu país na Turquia, é um escabroso exemplo da perseguição a jornalistas no mundo inteiro. De 1992 até agora, 1.324 jornalistas foram assassinados com motivo confirmado, 1.842 considerando também as suspeitas. O Brasil infelizmente entra nessa lista, compilada pelo Comitê para Proteção de Jornalistas, uma ONG com sede em Nova York: foram 55 mortes no período, três delas só neste ano. A mais recente foi a do jornalista de rádio Jairo Sousa, assassinado a tiros no norte do Pará em junho. Sousa costumava fazer reportagens sobre corrupção, homicídios e tráfico de drogas na região.

Não é de hoje que existem ataques a jornalistas. Eles decorrem de uma das funções mais críticas da profissão: vigiar, cobrar, investigar, analisar e avaliar autoridades e gente poderosa em geral. Existe, em alguns setores da sociedade, a ilusão de que essa tarefa pode ser realizada pelo coletivo dos cidadãos, que o trabalho jornalístico pode ser substituído pelas conversas das redes sociais. Alguns anos atrás, achou-se até que elas promoveriam a derrubada de ditaduras, pela comunicação espontânea de milhões de pessoas. E elas foram importantes — mas quase todos os regimes autoritários que caíram na Primavera Árabe, em 2011, foram substituídos por outros regimes autoritários. Num dos casos, a resistência do regime, na Síria, levou a uma guerra que dura até hoje, provocando centenas de milhares de mortes e uma crise estrondosa de refugiados.

Não é que as redes digitais não tenham adquirido uma importante função social. Mas ela é muito distinta do jornalismo. E recentemente se percebeu que a comunicação via redes não traz só benesses. Ela abriga também o fenômeno das fake news e potencializa a polarização da sociedade.

Nesse clima radicalizado, os ataques a jornalistas no Brasil, antes restritos a rincões em que a civilização não conseguiu se impor totalmente, ameaçam se espalhar pelo território nacional. São sintomáticas as agressões pessoais, uma espécie de linchamento digital, a repórteres que no estrito cumprimento do trabalho desagradam aos fãs apaixonados desse ou daquele candidato a cargo público. Foi o caso, recente, das ofensas às jornalistas Míriam Leitão, por ter opinado no jornal O Globo que o risco à democracia pelo lado de Jair Bolsonaro é maior que o risco PT, e Patrícia Campos Mello, autora da reportagem na Folha de S.Paulo sobre disparos em massa de mensagens via WhatsApp, pró-Bolsonaro, pagos por empresários (o que poderia configurar financiamento ilegal de campanha).

As fake news não nasceram com as redes sociais. A própria imprensa convive com elas desde que foi inventada, há seis séculos. Mas desenvolveu, no século 20, um modelo de jornalismo profissional baseado na validação de notícias por fontes diversas, na pluralidade de perspectivas, no relato idôneo e na análise honesta. É um modelo no qual EXAME se insere — e do qual a sociedade não pode prescindir.

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