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Um plano eficaz

Como a operadora de saúde americana Kaiser Permanente se tornou um exemplo de frugalidade e eficiência num país com um dos sistemas de saúde mais inchados, caros e perdulários do mundo

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	Dados à mão: a cada atendimento os médicos da Kaiser Permanente podem consultar todo o histórico dos pacientes.
 (Wikimedia Commons)

Dados à mão: a cada atendimento os médicos da Kaiser Permanente podem consultar todo o histórico dos pacientes. (Wikimedia Commons)

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Sérgio Teixeira Jr.

Publicado em 12 de agosto de 2015 às, 16h02.

San Leandro — Num galpão de 3 500 metros quadrados na cidade de San Leandro, perto de São Francisco, na Costa Oeste americana, Sean Chai aponta para uma estrutura de vigas de madeira peladas, sem paredes ou móveis. “Este é um estudo para determinarmos o tamanho ideal de um quarto de hospital”, diz Chai.

“O pessoal do financeiro quer aproveitar ao máximo o espaço, mas também temos de ouvir os médicos e os enfermeiros que vão trabalhar aqui.” Estamos no Centro de Inovações Garfield, onde a Kaiser Permanente, um dos planos de saúde mais eficientes e admirados dos Estados Unidos, faz testes e simulações que serão aplicados mais tarde em sua rede de clínicas e hospitais.

Uma área reproduz a recepção típica de um hospital. A ideia é encontrar a disposição ótima do mobiliário. Chai mexe em um computador, e um cubo metálico de mais ou menos 1 metro e meio de altura começa a se movimentar sozinho pelo corredor. “É um robô para transportar roupas de cama da lavanderia para os quartos, tipo de tarefa que não deveria tomar o tempo dos enfermeiros”, diz Chai, diretor do centro de inovações. Esse é o negócio da Kaiser Permanente: tirar o máximo retorno de todos os cantos possíveis do negócio da saúde. 

Em um país com um dos sistemas de saúde mais inchados, caros e perdulários do mundo, a Kaiser é vista como um exemplo de frugalidade e eficiên­cia sem par. A empresa, que não tem fins lucrativos, adota um modelo integrado. Toda a estrutura oferecida aos clientes é própria: hospitais, clínicas e até mesmo farmácias.

A ideia é que os leitos hospitalares e os caríssimos equipamentos de exames não sejam considerados geradores de receita, o que é a norma quando se conta com o pagamento dos seguros de saúde tradicionais. Pelo contrário, quanto menos tempo o paciente fica internado, mais eficiente é a operação da Kaiser.

Os mais de 17 000 médicos também são funcionários assalariados, o que reduz o incentivo à marcação de consultas desnecessárias e estimula o compartilhamento de informações entre os colegas. Quanto mais bem-feito o acompanhamento preventivo — em outras palavras, quanto maior o cuidado com a saúde dos pacientes —, melhor. “Não tenho dúvidas de que o sistema de saúde vai evoluir do estado atual de ‘consertar’ (os pacientes) para um modelo futuro de sistema preocupado com a saúde geral”, disse a EXAME Bernard Tyson, presidente da Kaiser Permanente.

A empresa foi fundada em 1945 como uma gestora de hospitais e hoje atende 9,6 milhões de clientes em oito estados, a grande maioria na Califórnia. As receitas do ano passado foram de 56,4 bilhões de dólares. Existem outras seguradoras maiores no país, mas nenhuma é tão admirada quanto a Kaiser. Uma das razões é o sistema de prontuários eletrônicos, investimento de 6 bilhões de dólares realizado ao longo de uma década.

Quando um paciente pede para marcar uma consulta, o médico já dispõe de todo o histórico pertinente: resultados de exames, notas de outros médicos, remédios receitados, e assim por diante. A tecnologia permite que o acompanhamento seja mais frequente, mesmo sem a necessidade de presença no consultório.

“Os pacientes podem trocar e-mails e fazer teleconferências com seus médicos”, diz ­Jack Cochran, diretor da Kaiser responsável pelos médicos da empresa. “Os dados sugerem que os pacientes que usam o sistema de prontuários eletrônicos acabam indo a menos consultas e estão mais satisfeitos com o atendimento recebido.” Os médicos da Kaiser realizam mais de 10 milhões de consultas a distância por ano.

A análise dos dados gerados pelo sistema tem outro impacto ainda mais importante. A Kaiser estima que a probabilidade de morte de um paciente em um de seus hospitais seja 26% menor do que a média nacional americana — e a centralização das informações é apontada como a grande responsável por isso.

O banco de dados também permite à empresa identificar uma epidemia de gripe duas semanas antes do que os Centros de Prevenção e Controle de Doenças, órgãos do governo americano que fazem esse tipo de acompanhamento. Mas nem todo tipo de inovação está na fronteira da tecnologia.

Uma das soluções desenvolvidas no centro de inovações da Kaiser é uma simples faixa amarelo-fluorescente usada pelas enfermeiras. A faixa serve para indicar que elas estão separando e organizando os remédios para os pacientes e não devem ser interrompidas. “Um pequeno erro na entrega dos medicamentos pode ter consequências gravíssimas”, diz Sean Chai. “Com essa inovação, que envolve zero tecnologia, reduzimos 82% dos erros.”

Um estudo da empresa Aon Hewitt indica que a Kaiser Permanente é 12% mais eficiente em termos de custos em comparação com planos de saúde tradicionais. Por mais impressionantes que sejam, os benefícios do modelo da empresa não podem ser replicados com facilidade. Um dos obstáculos é o sistema integrado — tanto do lado dos médicos quanto dos pacientes.

Muitos médicos preferem atuar de forma independente, por mais atraentes que sejam os salários de uma empresa como a Kaiser. Do outro lado do balcão, uma parcela importante dos consumidores faz questão de escolher os médicos que quiser, um traço especialmente importante da cultura americana no que diz respeito à medicina.

“Mesmo que custe mais caro, muita gente faz questão de ter o poder de escolha”, diz Lawrence Baker, professor da Universidade Stanford especializado em políticas de saúde. A grande chave para baixar o custo da saúde e gerar eficiência no sistema, porém, está nas mãos dos indiví­duos: dieta saudável, exercícios físicos, acompanhamento preventivo. “Todo mundo sabe que vai gastar menos caso se cuide melhor”, diz Baker. “Mas é um caso clássico de ‘falar é fácil’.”

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