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Um novo modelo de negócios para evitar crises

Para o especialista Paul Gilding, referência mundial em sustentabilidade, é preciso desvincular o crescimento econômico do consumo para evitar um colapso na economia global

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Paul Gilding: “Problemas como a falta de água em São Paulo vão mexer com a economia” (Germano Lüders / EXAME)

Paul Gilding: “Problemas como a falta de água em São Paulo vão mexer com a economia” (Germano Lüders / EXAME)

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Aline Scherer

Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às, 08h09.

São Paulo - Professor de sustentabilidade na Universidade de Cambridge, o australiano Paul Gilding se diz um ambientalista há 40 anos. Na década de 90, ele ocupou a presidência do Greenpeace, uma das ONGs ambientalistas mais combativas do mundo. Mas deixou a organização depois de cinco anos por discordar de sua política de apenas atacar as corporações.

Desde 1994, Gilding aconselha executivos de grandes empresas a atuar de forma diferente nos negócios. Em seu livro A Grande Ruptura, lançado em 2014 no Brasil, ele defende que, devido às mudanças climáticas, até o final desta década o sistema econômico mundial sofrerá um colapso muito pior do que as últimas crises.

EXAME - O senhor diz que estamos diante de uma grande ruptura. Quais são as evidências?

Paul Gilding - A falta de água em São Paulo é um ótimo exemplo: o desmatamento das florestas provoca menos chuvas nos locais onde elas costumavam cair e a infraestrutura que existe não está preparada para essa mudança. Minha tese sobre a grande ruptura é que problemas como esse vão se refletir, cada vez mais, na economia e só então a sociedade vai se mexer.

EXAME - É possível evitar que essa ruptura aconteça?

Paul Gilding - Se o desempenho econômico e a criação de empregos continuarem vinculados ao consumo, teremos um crescimento limitado porque os recursos materiais vão se esgotar. Há limites para o que é físico, mas não há limites para o número de empregos que se pode ter, e eles devem ser criados de outras maneiras.

EXAME - Que maneiras são essas?

Paul Gilding - Precisamos recompensar serviços e experiências, reutilizar o lixo e descaracterizar o consumo de coisas materiais. Gosto dos programas de compartilhamento de carros em que o cliente paga por hora pelo uso e, assim, evita os estacionamentos, diminui a quantidade de novos veículos nas ruas e faz um uso mais eficiente do recurso.

EXAME - Esse modelo de compartilhamento pode prejudicar montadoras de veículos no futuro?

Paul Gilding - Sim, quem não se preparar vai quebrar. Não é problema para a sociedade, apenas vamos substituir alguns tipos de empresa por outras. É o que chamo de momento Kodak — em que uma tecnologia será substituída por outra.

EXAME - Que outros segmentos poderiam ser afetados?

Paul Gilding - A petroleira Shell, por exemplo, assume em seu plano estratégico que a temperatura do planeta vai subir 3 ou 4 graus. Diversos estudos já publicados de cientistas e economistas apontam que um aumento de mais de 2 graus vai bagunçar completamente o fornecimento de alimentos em todo o mundo.

Empresas como a Unilever serão muito prejudicadas. Portanto, ou teremos espaço para uma Shell ou para uma Unilever — as duas não poderão coexistir.

EXAME - Como uma mudança no sistema tributário ajudaria?

Paul Gilding - Menos impostos sobre o emprego encorajariam os negócios a contratar mais pessoas. E mais impostos sobre os produtos incentivariam a reciclagem e a diminuição de resíduos.

EXAME - E o que as empresas de fato estão fazendo?

Paul Gilding - Algumas companhias estão incluindo questões de sustentabilidade em sua agenda e tentando acertar. Mas ainda é muito pouco. Para realmente fazer a diferença, os empresários precisam ser mais rápidos e aumentar a pressão sobre os governos.

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