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Carta de EXAME – Um novo ciclo

Por que alguns presidentes parecem viver em “campanhas perpétuas” muito tempo após a vitória eleitoral?

Jair Bolsonaro desfila com a mulher, Michelle, durante a cerimônia de posse em Brasília:o país precisa virar a página da campanha eleitoral | Albery Santini/Futurapress/Estadão Conteúdo /

Jair Bolsonaro desfila com a mulher, Michelle, durante a cerimônia de posse em Brasília:o país precisa virar a página da campanha eleitoral | Albery Santini/Futurapress/Estadão Conteúdo /

DR

Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 05h00.

Última atualização em 17 de janeiro de 2019 às 05h00.

Em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo, o cientista político Marcus André Melo trouxe ao grande público uma questão surgida recentemente no debate acadêmico: por que alguns presidentes parecem viver em “campanhas perpétuas” muito tempo após a vitória eleitoral? O caso mais notório é o de Donald Trump: o presidente americano continua com uma retórica de guerra e uma atitude que fogem do tradicional figurino da política em Washington.

No script normal, o candidato derrotado deseja sorte ao vencedor e o novo presidente assume a tarefa de governar para todos, e não apenas para seus eleitores. Oposição e situação terão enfrentamentos, por óbvio, pois isso faz parte da democracia. Mas até há pouco tempo o presidente tentava se distanciar da disputa para figurar como o líder nacional. Não no caso de Trump. Segundo Melo, há dois argumentos que tentam explicar o fenômeno. O primeiro diz que o presidente Trump e outros líderes que seguem esse modelo estão apenas refletindo a polarização da própria sociedade. O segundo centra atenção na polarização não do grosso dos eleitores, que continuariam moderados, mas dos partidos e suas bases relativamente restritas. Difícil dizer, neste momento, quem tem razão. 

Essa conversa ecoa diretamente no Brasil, com o novo governo dando seus primeiros passos. Foram várias batidas de cabeça dos novos ministros e do presidente Jair Bolsonaro, até certo ponto normais para um governo em formação. Na mais notória, Bolsonaro deu declarações em que parecia se contrapor à proposta de reforma da Previdência que seu ministro da Economia está prestes a apresentar ao país. O tropeço parece superado e a expectativa em torno da reforma segue alta. Mas sabemos quão difícil é o trajeto de uma proposta impopular no Congresso, e quão importante será ao governo — e ao presidente Bolsonaro — mostrar convicção férrea em torno do projeto.

Mas os primeiros dias também mostraram uma disposição para o embate de várias autoridades recém-empossadas, num movimento que parece guardar semelhanças com a noção de “campanha perpétua” descrita por Melo. Um  exemplo é a “despetização” da máquina pública promovida pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Um dia depois de tomar posse, ele demitiu de uma tacada os 320 ocupantes de cargos de confiança. A medida acabou prejudicando o funcionamento da pasta, e o ministro recebeu um puxão de orelha do vice-presidente Hamilton Mourão — ele disse que as exonerações de servidores de governos anteriores devem ser analisadas caso a caso.

Podem ser apenas os primeiros movimentos de uma equipe que vai achando seu rumo. Mas pode ser que haja a percepção de que o melhor para o governo é manter o clima de guerra que perdurou durante as eleições. Seria uma pena. Neste momento, precisamos desesperadamente de paz para reencontrar os caminhos do crescimento que perdemos após o desvario da Nova Matriz Econômica que tanta destruição nos legou. A eleição acabou — agora é governar.

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