Fim do acento: a tradicional grife francesa trocou o nome de Céline para Celine (Jeff Greenberg/AGB Photo/Exame)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2018 às 04h56.
Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 12h35.
SEM SERIFAS
A febre dos anos 90 na moda fez voltar às prateleiras um acessório até pouco tempo atrás considerado o ápice da cafonice: os logos chamativos em destaque nas roupas. Mesmo que parte dos compradores de luxo ainda prefira a discrição das peças sem intervenções, o mercado agora parece querer validar o estilo ostentação das grifes.
A nova tendência ganhou força com a dança das cadeiras no comando criativo das grifes de luxo. Nos novos cargos, os estilistas aproveitam para imprimir sua cara nas marcas — e isso inclui mexer nos logos. Uma das estreias mais aguardadas da Semana de Moda de Paris, a primeira coleção do francês Hedi Slimane para a Céline promete mexer com os códigos de elegância da maison. A primeira coisa que Slimane fez? Tirou o acento agudo. Agora a marca atenderá por Celine. O espaço entre as letras também foi diminuído.
Durante a recente Semana de Moda de Londres, o italiano Riccardo Tisci estreou, no dia 17 de setembro, a primeira coleção à frente da Burberry apresentando o novo logo da grife, sem a serifa que a identificou desde o início do século 20.
Essa recauchutada geral faz parte de uma tendência maior entre as grandes casas de moda de reposicionar sua imagem para uma audiência jovem. No design gráfico, fontes sem serifa imprimem melhor na tela do computador e do smartphone, onde boa parte dessa juventude passa o dia.
A letra mais gorda também é assimilada mais rapidamente do que as mais rebuscadas, segundo apontam estudos de consultorias de tendências. Num ambiente de concorrência feroz como é o da moda, o reconhecimento imediato pode fazer a diferença na hora de um cliente parar o mouse sobre a peça e efetuar a compra online.
As grifes americanas Calvin Klein e Diane von Furstenberg e as francesas Saint Laurent e Berluti também mudaram o padrão de logomarca nos últimos cinco anos, optando por fontes arredondadas e sem serifa.
Para além da questão online, o fenômeno também se explica por outro fator mercadológico. A recuperação econômica dos Estados Unidos e o afã consumista da China, países com predileção especial pelos logos, colaboraram para deslanchar a logomania. Países emergentes, como Rússia e Brasil, também preferem produtos com o nome aparente — a seleção dos free shops nos aeroportos é prova desse sucesso.
Se levarmos em conta as mudanças de estilo nas coleções empreendidas por Gucci e Balenciaga, do grupo Kering, e Louis Vuitton e Dior, da LVMH, agora mais atentas a uma moda “instagramável” e de impacto, o carimbo grifado permanecerá por muito tempo nas vitrines.
O DRINQUE DO FUTURO…
…não terá álcool. A Diageo já criou o primeiro destilado à base de ervas — e aposta no segmento | Daniel Salles
O negroni você já conhece, mas o drinque que ambiciona sucedê-lo talvez ainda não. Como o primeiro, que leva gim, vermute e bitter em partes iguais, é amarguinho, decorado com uma fatia de laranja e servido com muito gelo. Quem opta pelo sucessor, no entanto, pode consumi-lo sem medo de enrolar a fala. No lugar do gim, o coquetel leva -Seedlip, autoproclamado o primeiro destilado não alcoólico do mundo. Daí o sugestivo nome do coquetel: NoGroni. Foi idealizado pelos criadores da bebida, produzida de maneira artesanal na Inglaterra. Só não é álcool zero por causa do vermute e do bitter.
À base de ervas e especiarias, como cardamomo, alecrim e tomilho, o Seedlip foi pensado para resolver um dilema com o qual muita gente volta e meia depara: o que beber quando não se está bebendo? Dois anos atrás, a multinacional Diageo despejou uma quantia não declarada na marca por meio da Distill Ventures, sua aceleradora de -startups etílicas. E quer repetir a dose. A incubadora está selecionando empreendedores de novas bebidas não alcoólicas e oferece 10 000 libras de incentivo. Caso uma delas caia nas graças da aceleradora, o investimento pode variar de 175 000 a 10 milhões de libras.
Um futuro em que ninguém abre mão de ficar sóbrio pode parecer sombrio para quem ganha a vida com bebida alcoólica. Pois ele já se insinua no horizonte. Uma pesquisa de dois anos atrás do departamento nacional de estatísticas do Reino Unido constatou que o não consumo de álcool entre pessoas de 16 a 24 anos cresceu 40%. Dona de marcas líderes, como Johnnie Walker, Tanqueray, Smirnoff e Guinness, a Diageo está se preparando para um cenário abstêmio. Além do Seedlip, a companhia desenvolveu uma Guinness sem álcool para a Indonésia, outra para a África e o Orijin, uma bebida agridoce com ervas e frutas, vendida na Nigéria.
No meio tempo, cresce a procura pelos mocktails, coquetéis sem álcool. No bar do Palácio Tangará, em São Paulo, faz sucesso o Easy & Stormy, que combina mel de especiarias, limão, xarope caseiro de gengibre e club soda e é decorado com folhas de hortelã e uma rodela de limão desidratado (25 reais). O Benzina, na Vila Madalena, criou a Exotic Piña Colada, feita com suco de abacaxi, maracujá fresco, framboesas, xarope de coco e com uma rodela de abacaxi desidratado (20 reais). “Os abstêmios não se contentam em ficar no suco”, atesta o bartender Gabriel Santana, mandachuva do endereço.
CLÁSSICOS CONTEMPORÂNEOS
Um livro, uma série e um disco que merecem atenção | Marcelo Orozco
MEDO REAL
O jornalista Bob Woodward REVELOU, em parceria com Carl Bernstein, seu colega no Washington Post, o caso Watergate e causou a renúncia de Richard Nixon. Desde então, Wood-ward se especializou em ocupantes da Casa Branca, mas nenhum livro teve repercussão semelhante ao novo Fear, sobre Donald Trump. Foram dez tiragens e 1,1 milhão de cópias vendidas na primeira semana nos Estados Unidos. O livro sairá no Brasil em novembro pela Todavia com o título Medo, mas pode ser baixado na versão original. A obra é mais minuciosa do que outro best-seller sobre Trump, Fogo e Fúria, de Michael Wolff, jornalista de mexericos — uma diferença palpável agora é a reduzida presença de Ivanka Trump na narrativa.
Fear: Trump in the White House
Bob Woodward
Simon & Schuster
US$ 30
OSCAR NA TV
Maniac, nova produção da Netflix, tem Emma Stone como protagonista e produtora executiva e trata de um casal que se submete a um experimento farmacêutico para se livrar de qualquer tipo de dor. Esse é o início dessa trama surreal, que mistura sonho e realidade. E reforça uma tendência nas produções de TV ou streaming: a opção de vencedoras do Oscar de atriz principal pelos seriados. Além de Emma, vencedora em 2016, a série conta com Sally Field, dona de duas estatuetas. Até a premiadíssima Meryl Streep deve aderir em 2019 com participação na próxima temporada de Big Little Lies, da HBO. Outros exemplos? Julia Roberts em Homecoming (Amazon), Hillary Swank em Trust (FX), Helen Hunt em Shots Fired (Fox)…
Maniac
Com Emma Stone e Johan Hill
Netflix
Disponível desde 21 de setembro
MÚSICA
PARCERIA IDEAL
É assombroso que Tony Bennett, aos 92 anos, lance um álbum inédito e também realize o melhor trabalho da fase lenda viva, iniciada com seu MTV Unplugged em 1994. Love Is Here to Stay é uma parceria com a cantora e pianista Diana Krall que faz jus ao talento e à elegância do crooner — e é bem melhor do que os discos de duetos que Bennett gravou com artistas contemporâneos na última década. Tony e Diana interpretam canções dos irmãos George e Ira Gershwin. O acompanhamento de um trio de jazz libera Diana para apenas cantar e interagir com o mestre. Atenção para a abertura de ‘S Wonderful. Detalhe histórico: Fascinating Rhythm é regravada por Bennett 69 anos depois de ser seu 78 rpm de estreia, ainda com o nome de Joe Bari.
Love Is Here to Stay
Tony Bennett e Diana Krall
Disponível em streaming