Da esquerda para a direita, André Martins, repórter da EXAME, Cíntia Torquetto, do Instituto Trata Brasil, Fernando Passalho, presidente da Copasa, Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, e Carlos Piani, presidente da Sabesp (Eduardo Frazão/Exame)
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 06h20.
A infraestrutura vive o seu momento áureo. Após um 2025 histórico, com 280 bilhões de reais em investimentos e a realização de um leilão a cada quatro dias, o Brasil projeta um novo capítulo dessa história. Para 2026, a previsão é que os investimentos em rodovias, saneamento, portos e aeroportos atinjam 300 bilhões de reais.
O cenário é promissor, mas o Brasil ainda enfrenta um grande desafio: é necessário um incremento de 200 bilhões por ano, pelo menos, para alcançar o patamar de um país desenvolvido. E foi sobre os caminhos e os obstáculos desse avanço que autoridades, empresários e especialistas se reuniram no Fórum Infraestrutura, Cidades e Investimentos 2025, realizado pela EXAME.
A edição deste ano do evento refletiu a continuidade de um processo que se acelerou nos últimos anos: o aumento da participação do setor privado na construção e manutenção da infraestrutura nacional. O grande tema da vez foi como garantir o sucesso dessas concessões e parcerias público-privadas (PPPs), que representam uma verdadeira revolução no setor.
Guilherme Sampaio, diretor-geral da ANTT: governo prepara ao menos 12 leilões para 2026 (Eduardo Frazão/Exame)
Uma das áreas que devem ter nova leva de investimentos é a de mobilidade urbana. A avaliação é de Luciene Machado, superintendente do BNDES, que prevê aportes de 35,7 bilhões de reais no próximo ano. O foco, apontou Machado, será nas grandes e médias cidades, com uma ênfase em obras sustentáveis e a renovação de frota de ônibus, por exemplo.
Apesar da necessidade urgente de investimentos, Machado destacou a busca por soluções como a tarifa zero — em alta pelo país. Apesar do hype, a medida ainda não se mostrou viável no curto prazo.
“Não temos bala de prata para a infraestrutura. A diversificação é necessária, mas sem ilusões sobre o que pode ser feito rapidamente”, afirmou Machado durante seu painel.
Para Roberto Guimarães, diretor de planejamento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), após um ciclo significativo de concessões, as PPPs — e a maior participação do poder público — serão essenciais para destravar investimentos no setor, que pode precisar de até 300 bilhões de reais em aportes privados. Para 2026, esperam-se 250 bilhões de reais do mercado.
Luciene Machado, superintendente do BNDES: mobilidade urbana é um setor que tem gap de investimentos (Eduardo Frazão/Exame)
O debate também passou pela crescente maturidade do mercado de PPPs no Brasil, especialmente no setor da chamada infraestrutura social. Guilherme Naves, sócio da Radar PPP, afirmou que o Brasil tem mais de 160 leilões de PPPs de escolas, hospitais e presídios com mais de 120 bilhões de reais em investimentos previstos para os próximos anos.
Os números são alvissareiros, mas o advogado Fernando Vernalha, sócio da Vernalha Pereira Advogados, alertou para a insegurança jurídica, especialmente em nível municipal, como um obstáculo para o avanço das PPPs, que ainda enfrentam resistência ideológica em algumas áreas.
“A judicialização prejudica o desenvolvimento da infraestrutura social”, afirmou.
Outra discussão de destaque foi a consolidação das concessões de rodovias e ferrovias. Guilherme Sampaio, diretor-geral da ANTT, detalhou os planos do governo federal para 2026, com pelo menos 12 leilões de rodovias e a retomada de projetos ferroviários como a Ferrogrão e o Maranhão Oeste.
A Ferrogrão, com 933 quilômetros de extensão, será fundamental para a logística de escoamento de grãos, com investimentos de 25 bilhões de reais e capacidade para transportar até 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano.
“Os leilões de rodovias e ferrovias são um passo importante para reduzir a dependência de rodovias congestionadas, como a BR-163”, disse Sampaio.
Fernando Passalio, presidente da Copasa: investimento 17 bilhões de reais até 2029 (Eduardo Frazão/Exame)
No campo do saneamento, o estado de São Paulo se destacou com a privatização da Sabesp, um movimento essencial para impedir a “morte lenta” da empresa e garantir a universalização do saneamento, segundo a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende.
No evento, ela avaliou que o modelo de privatização oferece mais previsibilidade e segurança tanto para cidadãos quanto para investidores.
“A privatização deve ser analisada de forma técnica, sem ideologia”, afirmou Resende.
O objetivo é investir 70 bilhões de reais até 2029, quatro anos antes da meta nacional. Já foram contratados 15 bilhões de reais neste ano, e a principal meta é a universalização do esgoto em municípios menores e a despoluição do Rio Tietê.
Na mesma linha, o CEO da Sabesp, Carlos Piani, destacou os desafios da expansão do sistema de esgoto, especialmente nas regiões mais afastadas da capital, onde redes antigas precisam ser substituídas.
O executivo também sublinhou a importância da adaptação do modelo para comunidades isoladas.
Em Minas Gerais, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) segue os passos da Sabesp e já está em processo de privatização.
Fernando Passalio, presidente da Copasa, revelou que a empresa triplicou sua capacidade de investimento, saltando de 586 milhões de reais em 2019 para 2 bilhões de reais em 2024.
“A Copasa tem um plano de investimentos de 17 bilhões de reais até 2029”, afirmou Passalio, destacando a importância da mudança de modelo para garantir a universalização do saneamento.
Por fim, a edição deste Fórum da EXAME mostrou que há motivos para otimismo quando o assunto é infraestrutura — um dos pilares do famigerado Custo Brasil.
A iniciativa privada vem demonstrando apetite para grandes projetos, e os governos, em geral, viram nas concessões e PPPs uma agenda de Estado. Ainda há muito o que fazer, é verdade.
Mas o tema hoje está maduro e, em meio a tantas notícias negativas, é importante comemorar os 300 bilhões de reais em investimentos de infraestrutura que virão em 2026.


