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Racha no clube do bilhão dentro da Eternit

A fabricante de telhas Eternit é comandada por um improvável grupo de grandes bilionários. Deu certo por uma década. Agora eles estão em meio a uma tensa disputa por poder

Lírio Parisotto e Luiz Barsi (Germano Lüders/EXAME)

Lírio Parisotto e Luiz Barsi (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2014 às 08h31.

São Paulo - Há pouco mais de uma década, alguns dos maiores investidores da bolsa brasileira decidiram se juntar para controlar uma empresa. Escolheram, talvez, a mais improvável entre as quase 500 companhias abertas da Bovespa na época: a Eternit.

O principal negócio da Eternit era (e ainda é) fabricar telhas de amianto — uma substância que não pode ser usada em dezenas de países porque, se manuseada sem proteção, pode causar câncer. A oportunidade para os ricaços brasileiros surgiu em 2003, quando o amianto foi proibido na França. A multinacional francesa Saint Gobain, que controlava a Eternit, decidiu abandonar tudo que envolvesse amianto e vendeu suas ações.

O investidor Guilherme Affonso Ferreira, que já era um dos grandes acionistas da Eternit, convenceu outros dos homens mais ricos da bolsa brasileira a comprar papéis da empresa, participar de seu conselho de admi­nistração e, no fim das contas, mandar na companhia.

Entraram para o grupo, entre outros, o gaúcho Lírio Parisotto, dono da fabricante de DVDs Videolar e de 2,5 bilhões de reais em ações, e Luiz Barsi, ex-corretor da Bovespa que enriqueceu aplicando na bolsa.

Com tantas empresas para investir, por que justamente a rainha do amianto? Basicamente, porque a Eternit fazia a alegria dos acionistas minoritários. Era altamente lucrativa, pouco endividada e muito generosa na distribuição de dividendos. O objetivo dos novos donos era deixar tudo como estava.

Foi uma década de muita alegria. A Eternit distribuiu anualmente em dividendos 10% do valor das ações, o triplo da média de mercado. Em 2013, 70% do lucro foi para os acionistas. Mas tudo acaba um dia — até a farra do amianto.

Discretamente, o clube do bilhão está rachando. As reuniões do conselho de administração, antes de uma calmaria total, passaram a ser tensas. Os bilionários começaram a discordar sobre a estratégia da empresa e o desempenho dos executivos. Guilherme Affonso Ferreira, vendeu suas ações em 2010, quando as divergências começaram a aparecer. E, até o fim do mês, tudo isso deve vir à tona.

Dois grupos de investidores, com posições antagônicas, estão se armando para conseguir votos suficientes para aprovar seus projetos — e vetar os dos rivais — na assembleia de acionistas marcada para 23 de abril. De um lado  estão Barsi, que tem 13,6% do capital da empresa, e a Set Investimentos, pequena gestora de São Paulo que é dona de 2% das ações.

Do outro, Parisotto, maior acionista da empresa, e o investidor carioca Victor Adler, que tem 6,7% das ações e é um dos grandes acionistas individuais do Banco do Brasil. 

O grupo de Barsi quer mudar tudo — e demitir a cúpula da empresa. Os principais problemas, em sua visão, são as despesas administrativas elevadas e os altos salários dos executivos. Enquanto o lucro da Eternit cresceu 16% desde 2008, a remuneração da diretoria em relação ao lucro quase dobrou.


“Muitos acionistas estão anestesiados pelos dividendos e não questionam o atual rumo da empresa”, diz Tiago dos Reis, sócio da Set. O valor de mercado da Eternit cresceu 180% nos últimos cinco anos, para 740 milhões de reais. 

Esses acionistas também criticam a diversificação de negócios da Eternit desde 2009. Para ter fontes de receita alternativas ao amianto, que pode ser banido em vários estados (ações sobre o assunto tramitam no Supremo Tribunal Federal), a companhia comprou a empresa de telhas de concreto Térgula.

As vendas caíram de lá para cá e, em 2013, a empresa deu prejuízo. Também construiu uma fábrica para produzir louças sanitárias no Ceará, em parceria com a fabricante colombiana Corona. Mas a inauguração, prevista para janeiro, está atrasada. Segundo alguns acionistas, os testes de produção mostraram um alto percentual de louças quebradas, superior a 50%.

Procurada, a Eternit disse, por e-mail, que a fábrica está em “testes de produção”. Para completar, uma nova unidade de pesquisa de plásticos para telhas foi construída num terreno em Manaus — o que, segundo investidores, não faz sentido pela distância do mercado consumidor e dos fornecedores de matéria-prima, que ficam no Sudeste. A Eternit afirma que o investimento foi aprovado pelo conselho.  

Diversificação

Parisotto e Adler defendem a atual gestão — que, para eles, está se preparando para o futuro ao investir em novos negócios. “O que acontece se o amianto for proibido? A empresa fecha?”, diz um investidor que concorda com a dupla. Analistas também defendem a diversificação das receitas.

“As margens da fabricação de louças são menores do que as do amianto, mas diversificar é vital”, diz Daniel Utsch, analista do banco Fator. Adler, Affonso Ferreira, Barsi e Parisotto não deram entrevista.

Ao longo dos anos, as divergências so­bre os rumos da empresa viraram rixas pessoais. Barsi, que faz questão de andar de metrô e ter um estilo de vida espartano, costuma criticar o jeitão esbanjador de Parisotto — que já serviu vinhos de alguns milhares de reais aos conselheiros numa reunião em sua casa e os levou em seu jatinho para visitar fábricas da empresa fora de São Paulo.

Para Parisotto e quem o apoia, Barsi não tem visão estratégica e está interessado apenas nos dividendos da companhia. O próximo round da disputa deverá ocorrer durante a assembleia de acionistas — quando serão definidos os novos conselheiros, a remuneração da diretoria e o valor dos dividendos a ser pagos.

Barsi e a Set estão tentando reunir votos para mudar a administração. Hoje, esse grupo tem 21% do capital da Eternit. Parisotto e Adler têm 22%. Quem convencer mais minoritários ganha.

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