Revista Exame

Seu Dinheiro — O impacto da guerra de Trump no aço brasileiro

A decisão de Trump de taxar as importações de aço dos Estados Unidos em 25% foi uma péssima notícia para o Brasil, 2º maior exportador do produto

Fábrica da CSN em Volta Redonda: a siderúrgica deve ser uma das mais prejudicadas pela sobretaxa anunciada pelo governo Trump | Ricardo Azoury/Pulsar Imagens /  (Ricardo Azoury/Pulsar Imagens/Reprodução)

Fábrica da CSN em Volta Redonda: a siderúrgica deve ser uma das mais prejudicadas pela sobretaxa anunciada pelo governo Trump | Ricardo Azoury/Pulsar Imagens / (Ricardo Azoury/Pulsar Imagens/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2018 às 05h00.

Última atualização em 12 de junho de 2020 às 15h42.

A decisão do presidente Donald Trump de taxar as importações de aço dos Estados Unidos em 25% foi uma péssima notícia para o Brasil, segundo maior exportador do produto para os americanos. Mas o impacto da medida, oficializada no dia 8 de março, deve ter um peso diferente em cada siderúrgica brasileira.

Entre as companhias de capital aberto, a menos afetada deve ser a Gerdau, na opinião dos analistas. A empresa tem fábricas nos Estados Unidos e usa matéria-prima local na produção — ao contrário da concorrente CSN, que também produz nos Estados Unidos, mas com o aço importado de suas fábricas no Brasil. A medida de Trump, portanto, vai encarecer o principal insumo da CSN, que, se não conseguir repassar o aumento de custos aos clientes, terá de absorver a perda.

A diferença do cenário para as duas empresas apareceu no desempenho das ações. Os papéis da CSN caíram 12% em pouco mais de uma semana, desde que Trump falou da sobretaxa pela primeira vez. As ações da Gerdau desvalorizaram apenas 3%. “A CSN está no meio de uma renegociação de dívida, e qualquer notícia negativa reduz seu poder de barganha com os credores”, diz Renato Maruichi, analista do banco Santander.

Já os papéis da Usiminas tiveram uma baixa de 9%. Das exportações da empresa, apenas 4% vão para os Estados Unidos. Mas, no caso dela, o maior problema é o esperado aumento da competição. Com a sobretaxa, exportadores de aço do mundo todo devem ser obrigados a redirecionar suas vendas para outros países — e, para vencer a concorrência, a tendência é que vendam o produto mais barato. Como os preços internacionais são uma referência para o mercado brasileiro, nenhuma siderúrgica deve passar ilesa.


PARA LEMBRAR

JBS, MARFRIG E MINERVA

A Operação Trapaça investiga apenas a BRF, mas prejudicou as ações de outras empresas de alimentos. Na semana em que a operação foi deflagrada, os papéis do Minerva caíram 6%; os do Marfrig, 5%; e os da JBS, 2%. Para os analistas do banco BTG, o movimento foi exagerado e criou  uma oportunidade de compra. A suspeita é que a BRF tenha adulterado exames que indicam a presença de salmonela, bactéria encontrada em aves — e não no gado, que é o principal produto dessas companhias.


ATENÇÃO

SMILES

As ações da empresa de programas de fidelidade Smiles caíram 14% em três dias no início de março, depois que a companhia anunciou que vai reduzir o pagamento de dividendos ao patamar mínimo de 25% do lucro — até então, costumava distribuir 100% do lucro aos acionistas. Com a mudança, o rendimento que os investidores obtêm apenas com dividendos deverá cair dos 7,2%, que eram projetados para 2018, para 1,8%, segundo Marco Saravalle, analista da empresa de investimentos XP. 


PESQUISA

SOBRE VINHOS, VIOLINOS E INVESTIMENTOS

Vinícola da França: investir em vinhos rendeu 3,7% ao ano nas últimas décadas | Tim Graham/Robert Harding/Glow Images

Investir em vinhos foi mais rentável do que aplicar em ouro nas últimas décadas. A conclusão faz parte de um estudo do banco Credit Suisse, que analisou a rentabilidade de itens de luxo. Segundo o banco, o retorno médio de uma aplicação em vinhos finos foi de 3,7% ao ano de 1900 para cá. Selos raros renderam 2,6%; violinos, 2,4%; e obras de arte, 1,9%. Já o ouro deu um retorno de 0,7% ao ano. Na comparação com as bolsas de valores, o desempenho do luxo é mais modesto. Uma cesta de ações globais selecionadas pelo banco rendeu, na média, 5,2% ao ano desde 1900. O Credit diz ainda que, para ser bem-sucedido com esse tipo de investimento, é preciso ter paciência. Para lucrar com vinhos finos, por exemplo, deve-se comprá-los jovens. Algumas variedades se tornam itens de coleção apenas depois de quatro décadas.


BOLSA

PEQUENAS E RENTÁVEIS

Bolsa: ações de empresas de menor porte subiram mais do que o Ibovespa | Daniel Marenco/Folhapress

O Bovespa Mais, segmento da bolsa que reúne empresas pequenas e médias, finalmente começa a se transformar numa alternativa viável para empresas de menor porte que querem abrir o capital — e para investidores dispostos a aplicar em ações pouco negociadas, mas que podem ter potencial de valorização. O Bovespa Mais tem hoje 17 companhias. A maioria não tem ações na bolsa: apenas se lista para se adaptar às regras do mercado e, quando consegue, faz a oferta de ações. Três companhias já têm ações negociadas: a Bahema, que investe em escolas; a fabricante de insulina Biomm; e a produtora de fertilizantes Nutriplant. Em 12 meses, os papéis da Bahema subiram 63%, e os da Nutriplant, 268%, enquanto o Ibovespa valorizou 34%. Já os da Biomm tiveram alta de apenas 4%.


RENDA FIXA

PREFERÊNCIA PELO CONSERVADOR

O número de brasileiros que têm dinheiro para investir aumentou na última década — e esses recursos foram aplicados principalmente nas alternativas mais conservadoras do mercado. O Tesouro Direto, site de venda de títulos públicos, tem hoje quase 2 milhões de cadastrados. Há dez anos, o número não chegava a 150 000 — crescimento de mais de 1 200%. Mesmo em 2017, quando os juros chegaram ao patamar mais baixo da história, o Tesouro Direto atraiu 700 000 novos investidores. A bolsa de valores amargou anos de desempenho ruim e perdeu acionistas. O movimento amainou depois que o Ibovespa voltou a bater recordes de alta, nos últimos meses. Ainda assim, em 2017 o número de cadastrados para operar no pregão era o mesmo de 2010. A poupança segue liderando a preferência dos brasileiros, e com folga. O número de cadernetas se aproximou de 150 milhões em 2017.

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ENTREVISTA

A possibilidade de uma queda prolongada nos principais mercados de ações é o primeiro de uma lista dos dez maiores riscos para a economia global, elaborada recentemente pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit. Outros riscos envolvem disputas territoriais no Mar do Sul da China, confrontos na Península Coreana e até a saída de países da zona do euro. Philip Walker, diretor de risco da consultoria, diz por que os países em desenvolvimento devem sofrer mais.

Quais são os riscos de uma queda prolongada das bolsas?

São moderados, com uma probabilidade de até 30% nos próximos dois anos. A economia global está entrando numa nova fase. Com o crescimento vigoroso do PIB em vários países, mais bancos centrais deverão encerrar seus programas de estímulo. Os juros baixos que eles mantiveram nos últimos anos tornaram as ações atrativas, e o fim disso causa incerteza.

O mini-crash de fevereiro foi um sinal?

Sim. A reação a um dado econômico secundário sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos mostra como as bolsas se tornaram sensíveis a informações que indiquem que o Fed, banco central americano, pode elevar os juros num ritmo mais rápido do que o esperado.

Que mercados seriam mais afetados?

A repercussão seria global, mas os países em desenvolvimento ficariam mais suscetíveis aos movimentos do câmbio e do mercado global de crédito. Isso causaria impacto nas empresas e no ambiente político.


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