Revista Exame

Perto de faturar R$ 1 bilhão, a Movile quer mais

A empresa de tecnologia quer integrar todos os seus serviços para smartphone em um único aplicativo

Fabrício Bloisi (à direita, de óculos) com executivos da Movile: a empresa  recebeu um investimento de 53 milhões de dólares (Germano Luders/Exame)

Fabrício Bloisi (à direita, de óculos) com executivos da Movile: a empresa recebeu um investimento de 53 milhões de dólares (Germano Luders/Exame)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 30 de junho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 30 de junho de 2017 às 06h00.

São Paulo — Fabrício Bloisi, presidente e um dos fundadoes da empresa de tecnologia Movile, é conhecido por estabelecer metas ousadas. Em abril de 2008, quando a Movile recebeu o primeiro investimento do grupo sul-africano Naspers, Bloisi disse a seus novos sócios que dali a cinco anos esperava ter um faturamento de  centenas de milhões de reais, o que parecia irreal: a receita então era de menos de 20 milhões. Cinco anos se passaram e a meta foi praticamente alcançada — ficaram faltando apenas 2% do esperado.

Hoje, a Movile tem um faturamento estimado em mais de 800 milhões de reais — mais que o dobro do que três anos atrás — e 1 600 funcionários em escritórios no Brasil e no exterior. Fundada em 1998, a empresa cresceu vendendo serviços para as operadoras de celular, como notícias, jogos, vídeos e outros recursos via SMS (como mensagens de confirmação de compras de cartão de crédito). Nos últimos anos, com a queda do SMS, a Movile abriu outras frentes. Lançou o aplicativo PlayKids (uma espécie de Netflix para crianças) e saiu às compras, investindo em 20 startups, entre elas os sites Apontador e Maplink, do setor de logística. O investimento de maior visibilidade foi no iFood, aplicativo de entrega de comida em domicílio que é líder de mercado no Brasil.

Ao todo, os serviços da Movile têm 120 milhões de usuários mensais. Mas a meta de Bloisi é muito maior. Ele quer chegar a 1 bilhão de usuários em 2020 e transformar a Movile numa grande holding de tecnologia com valor de 10 bilhões de dólares — o que hoje é uma meta totalmente fora da realidade. Assim como em 2008, ninguém sabe como os números podem ser alcançados. No entanto, essa é a meta que Bloisi estabeleceu e é o que pretende perseguir (no escritório da Movile, em São Paulo, uma garrafa de champanhe gigante está guardada especialmente para a ocasião). “Eu começo colocando uma meta insanamente difícil e depois a gente trabalha loucamente para conseguir chegar lá. Dois, três anos depois, com sorte, a gente chega”, diz Bloisi.

O apetite da Movile é grande e, por enquanto, não falta dinheiro. A empresa acaba de receber uma nova rodada de investimentos de 53 milhões de dólares da Naspers, o maior aporte já recebido. Além da Naspers (que detém 70% da Movile), o fundo Innova Capital, do empresário Jorge Paulo Lemann, também é sócio da empresa. Segundo Eduardo Henrique, um dos fundadores da Movile, mais da metade dos 53 milhões de dólares recebidos vai ser usada no aplicativo Rapiddo, uma das startups do grupo. Criado em 2014, o Rapiddo era inicialmente um aplicativo para chamar motoboys para fazer entregas. Nos últimos meses, a Movile fez uma transformação radical no programa. Agora, ele será um aplicativo “tudo em um”, para fazer vários tipos de compra — pedir uma pizza, comprar ingressos de shows, recarregar os créditos de celular ou até chamar um táxi. O plano é começar com os serviços que já são oferecidos pelas startups da Movile, como o iFood e o Sympla, de venda de ingressos pela internet. “Estamos transformando o Rapiddo numa plataforma para outros aplicativos”, diz Eduardo Henrique.

Olhando para a frente, o plano é fazer com que o aplicativo vire uma espécie de PayPal — um sistema para intermediar pagamentos digitais. A estratégia segue a linha das empresas de tecnologia da Ásia, como a indonésia Go-Jek e a chinesa Tencent, que criaram serviços de pagamentos digitais com base em seus aplicativos. A Go-Jek é uma startup avaliada em mais de 1 bilhão de dólares que começou com um aplicativo de motoboys em Jacarta, capital da Indonésia. Hoje, ela oferece uma porção de outros serviços, como táxi e moto-táxi, entrega de comida, compras de supermercado, além de faxina para residências. Já a Tencent (que também é uma das companhias investidas pela Naspers e faturou quase 22 bilhões de dólares no ano passado) permite que comerciantes na China recebam pagamentos e vendam produtos pelo aplicativo de mensagens WeChat, usado por mais de 889 milhões de usuários. “Usando um aplicativo que já era muito popular, a Tencent conseguiu incluir camadas de outros serviços. É algo muito parecido com o que a Movile está fazendo”, diz Russell Dreisenstock, diretor de investimentos internacionais da Naspers.

O modelo funcionou muito bem na Ásia, mas até hoje não pegou em nenhuma grande economia do Ocidente. A Movile acredita que terá sucesso porque o Brasil tem um perfil parecido com o de países do Sudeste Asiático. Mas empreendedores e investidores que atuam no setor têm dúvidas, principalmente porque a Movile não tem por trás a força de um aplicativo como o WeChat. O Rapiddo tem apenas 500 000 usuários mensais. “Não vejo razão para as pessoas usarem o mesmo aplicativo para pedir comida e chamar um motoboy. Esse não é o padrão de uso que vemos no Brasil”, diz um ex-sócio de um aplicativo de comida.

Vai uma pizza?

Se os investimentos da Movile no Rapiddo ainda estão decolando, é no iFood que está o maior sucesso da companhia nos últimos quatro anos. Desde 2013, a Movile fez quatro investimentos no aplicativo e hoje é dona de 60% do capital. De lá para cá, o iFood deu um salto. Comprou os principais concorrentes no Brasil — como o RestauranteWeb e o HelloFood — e lançou o serviço de entrega SpoonRocket, voltado para restaurantes chiques que não costumam fazer entrega. No ano passado, também adquiriu uma parte de um competidor no México, chamado SinDelantal. Hoje, o iFood processa 4 milhões de pedidos de comida por mês e registrou um faturamento de 171 milhões de reais em 2016. Por causa do desempenho, o iFood é considerado uma das startups mais promissoras do país e caminha para se tornar a maior fonte de recursos da Movile em pouco tempo. O sucesso do aplicativo fez com que a Naspers despertasse para o mercado de entrega de comida online. Em maio, o grupo sul-africano investiu mais de 420 milhões de dólares no aplicativo alemão Delivery Hero, que atua em 47 países, e outros 80 milhões de dólares no indiano Swiggy.

Não é sempre que os investimentos da Movile dão certo. Startups como o serviço de entrega de pratos pré-prontos ChefTime não conseguiram acompanhar as ambiciosas metas de crescimento e hoje estão encostadas. Ninguém sabe se o Rapiddo vai seguir o caminho do iFood ou estará esquecido daqui a uns anos. Se tiver sucesso, porém, a Movile ficará cada vez mais com cara de uma Tencent brasileira.

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedoresMovileRestaurantesStartups

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025