Bob Dylan: retrato atual de uma América em declínio em seu novo disco (TCD/Alamy/Fotoarena)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de junho de 2020 às 05h30.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h34.
Bob Dylan ficou conhecido, nos últimos anos, pela reclusão. O cantor evita dar entrevistas e faz turnês em espaços cada vez menores. Aos 79 anos, Dylan prefere a vida mais pacata ao showbiz que há anos parou de colocar seus holofotes sobre o rock e, menos ainda, sobre o folk.
Ao ganhar o Prêmio Nobel de Literatura de 2016, ele mostrou como não se alimenta de aplausos e badalação: demorou semanas para atender à ligação da Academia Sueca e reconhecer publicamente o prêmio, o que ofendeu alguns membros. No fim, rendeu-se, mas enviou sua amiga Patti Smith à cerimônia, que emocionou o público com um cover de A Hard Rain’s A-Gonna Fall.
A persona evasiva de Dylan não parece reverberar em seu desejo de continuar a compor. Enquanto seus colegas contemporâneos de profissão já anunciaram a aposentadoria, como Neil Diamond, Paul Simon e Joan Baez, o cantor de Minnesota não se aquieta.
Na quarentena do novo coronavírus, Dylan parece ter decidido ir contra o senso comum: em vez de se esconder e aproveitar o tempo em casa, resolveu dar sua música ao mundo, talvez sabendo quanto as pessoas necessitam de arte em tempos difíceis. No dia 19 de junho, Dylan lança Rough and Rowdy Ways, seu 39º álbum de estúdio, o primeiro de canções originais desde 2012, quando lançou Tempest. O lançamento será um álbum duplo com dez canções e chegará primeiro em CD e no formato digital. A edição em vinil chegará em julho.
O título do disco, que fala de caminhos duros e turbulentos, parece caber bem em 2020. A capa do álbum também encontra eco no momento atual, de protestos antirracistas nos Estados Unidos, na Europa e em outras cidades do mundo. A foto, tirada por Ian Berry em 1964 em Londres, mostra pessoas negras dançando ao som de uma jukebox. Na ocasião, Berry tirou o retrato para uma reportagem sobre a cultura negra na Inglaterra.
Três das músicas do álbum já foram divulgadas durante a quarentena, como Murder Most Foul, uma canção de 17 minutos que fala do assassinato de John F. Kennedy com uma série de referências culturais dos anos 1960. Ela também parece conversar com os dias de hoje, já que pinta o retrato de uma América em declínio e que precisa se curar da convulsão social pela música. Vale lembrar que Dylan teve papel ativo no movimento pelos direitos civis dos negros nos anos 1960, participando de passeatas e escrevendo canções-manifestos, como a brilhante The Times They Are a-Changin’.
FILME
Espionagem à cubana
Com Wagner Moura e elenco latino, filme conta a história de agentes infiltrados nos anos 1990 | Guilherme Dearo
Em 2011, o jornalista Fernando Morais publicou Os Últimos Soldados da Guerra Fria, livro-reportagem sobre a Rede Vespa, grupo de espionagem criado pelo governo cubano no início dos anos 1990 para se infiltrar em organizações anticastristas e de extrema direita na região da Flórida.
A operação acabaria desmantelada pelo FBI e cinco membros seriam condenados, alguns à prisão perpétua.
O diretor francês Olivier Assayas, famoso por Depois de Maio e também Carlos, filme sobre o mercenário venezuelano Chacal, inspirou-se no livro para criar Wasp Network, nova produção da Netflix que conta a história de suspense psicológico e traição do grupo preso e condenado que ficou conhecido como os Cinco de Cuba. Depois de estrear no Festival de Veneza em 2019 e deixar o público um pouco confuso, Assayas remontou o filme, mudando algumas cenas. O elenco traz uma série de estrelas latinas: Edgar Ramírez, Ana de Armas, Penélope Cruz, Gael García Bernal e o brasileiro Wagner Moura. Um dos produtores do filme é Rodrigo Teixeira, brasileiro por trás de sucessos como Frances Ha e A Bruxa.
Wasp Network | Filme de Olivier Assayas | 19/6, na Netflix