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Os bancos têm de aprender a falhar — no digital

Para Jeremy Anderson, principal diretor da consultoria KPMG para o setor financeiro, as startups estão forçando os grandes bancos a investir em inovação

Jeremy Anderson, da KPMG: “Devemos encorajar os bancos a não se envergonhar dos erros” (Divulgação/Exame)

Jeremy Anderson, da KPMG: “Devemos encorajar os bancos a não se envergonhar dos erros” (Divulgação/Exame)

NB

Naiara Bertão

Publicado em 12 de junho de 2017 às 05h55.

Última atualização em 12 de junho de 2017 às 05h55.

São Paulo — Em seuus 30 anos de experiência na indústria de bancos e seguradoras, o inglês Jeremy Anderson viu muitas transformações tecnológicas acontecer e mudar a forma como lidamos com o dinheiro. Hoje como diretor global para o setor de serviços financeiros da consultoria americana KPMG, ele acompanha de perto a revolução digital, a mais poderosa de todas.

Exame -  Como a tecnologia mudou a forma como as pessoas usam os produtos financeiros dos bancos?

Anderson - A transformação promovida pelo smartphone mudou radicalmente o padrão dos serviços. De 2010 para cá, as pessoas começaram a cobrar dos bancos as mesmas facilidades que já tinham em aplicativos de outras empresas e esperam que tudo esteja no celular e seja personalizado.

Exame - Qual tem sido o papel das startups que prestam serviços financeiros, as chamadas fintechs?

Anderson - As fintechs têm sido fundamentais. Elas têm criado serviços digitais eficientes. Isso vale tanto para o uso de novas tecnologias como para melhorias feitas em produtos já existentes. Esse movimento certamente influenciou as empresas tradicionais. É claro que cada segmento da indústria financeira — seguros, investimentos, crédito, gestão financeira — está em um estágio diferente, mas todos estão tentando resolver a mesma questão: como atender melhor o cliente usando a tecnologia.

Exame - As fintechs são tratadas como inimigas dos bancos?

Anderson - O relacionamento da indústria com as fintechs mudou muito e está mais colaborativo. As startups são importantes fontes de novas ideias. Mas o poder de transformação do mercado é muito maior nos bancos. Não dá para esquecer que eles têm muito mais clientes e poder financeiro.

Exame - Uma das críticas aos bancos é que as mudanças são muito lentas. O senhor concorda?

Anderson - É verdade que a velocidade de mudança é menor. Mas isso ocorre porque as instituições financeiras são grandes, têm muitas divisões e têm de seguir uma rígida regulamentação. Entretanto, elas já perceberam a necessidade de apressar a velocidade da evolução.

Exame - No Brasil, alguns bancos anunciaram o fim das contas digitais gratuitas, que eram apontadas como uma grande inovação. Eles deram um passo atrás?

Anderson - Não devemos pegar tão pesado com os bancos. Deveríamos encorajar a indústria a inovar e não se envergonhar se algumas mudanças não derem certo. É preciso encorajá-los a seguir o mote do Vale do Silício: “Falhe rápido”.

Exame - Por quê?

Anderson - Porque é melhor parar logo em vez de esperar cinco anos para ver se o serviço funciona ou não. No Reino Unido, por exemplo, a legislação permite que startups testem seus produtos em um ambiente controlado e limitado. Se o projeto não vingar, elas e os clientes estão protegidos.

Exame - As gigantes do setor de tecnologia também são uma ameaça aos bancos?

Anderson - Essa é a pergunta do momento. Os bancos estão preocupados porque empresas como Amazon, Google, Facebook e Alibaba estão estudando como lucrar com sua base de clientes. Mas é preciso lembrar que países como o Brasil são mais regulados. Por enquanto, aqui eles estão mais protegidos.

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