Construção: as vendas estão melhorando, mas as incertezas econômicas ainda jogam contra | Alexandre Battibugli (Alexandre Battibugli/Exame)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2018 às 05h00.
Última atualização em 10 de julho de 2018 às 17h16.
IMÓVEIS
O vaivém das construtoras
Sobreviver ao vaivém dos mercados anda particularmente difícil para quem investe em ações de construtoras e incorporadoras. Dos mais de 20 índices da bolsa B3, o Imob — que reflete o desempenho das ações de empresas do setor imobiliário — é o que vai pior neste ano. A queda no semestre foi de quase 20% (o Ibovespa recuou 5% no período). O setor foi um dos que mais sofreram com a recessão, mas, passado o pior momento, parte das construtoras listadas na bolsa de valores começou a reagir. “As empresas voltaram a lançar. As vendas estão melhorando e isso deve aparecer nos balanços ainda neste ano e no próximo”, diz Tomás Awad, sócio da gestora 3R Investimentos, que tem um fundo especializado no setor. O problema é que na bolsa o que conta é a perspectiva — e a perspectiva para a economia brasileira piorou muito de maio para cá. A previsão de expansão do produto interno bruto de 2018 caiu de 2,7% para 1,5%, e a expectativa de que os juros voltem a subir antes do esperado — fator que prejudica a compra de imóveis — predomina. “Um imóvel costuma ser a maior aquisição que alguém faz na vida. Se o sujeito não estiver confiante de que terá emprego, ele adiará a compra”, diz Luiz Maurício Garcia, analista de setor imobiliário no Bradesco. Por isso, o setor é visto com cautela. A exceção fica com as empresas focadas na construção de imóveis para o público de baixa renda. O segmento é considerado mais resistente às intempéries porque nessa faixa o déficit habitacional é maior e há garantia de financiamento pelo programa Minha Casa,Minha Vida. As ações de empresas como Tenda — que estão subindo no ano — e Cyrela, segundo Garcia, estão entre as melhores opções.
PARA LEMBRAR
BB Seguridade
A venda da divisão de seguros patrimoniais e de automóveis da BB Seguridade, braço de seguros do Banco do Brasil, para a espanhola Mapfre deve render dividendos extras. O negócio pode liberar até 1,8 bilhão de reais para ser distribuídos aos acionistas da empresa. As projeções eram de que o retorno só com os dividendos das ações da BB Seguridade chegasse a 6,7% neste ano. A distribuição adicional deve acrescentar 3,7% a essa conta. Nove
dos 12 analistas que acompanham os papéis recomendam a compra, segundo a agência Thomson Reuters.
ATENÇÃO
Natura
Desde 2010, a Natura vem perdendo espaço no mercado de beleza para a concorrente O Boticário — e, na visão dos analistas do Bradesco, a razão está nos canais de venda. “Não achamos que o modelo de venda direta esteja em declínio terminal, mas outros canais são necessários para que a Natura atenda os consumidores que querem comprar onde escolherem”, afirmam
em relatório. As ações da Natura recuaram 6% neste ano. Apenas um terço dos analistas que acompanham a companhia sugere a compra dos papéis.
PROTEÇÃO
Fuga do risco Brasil
Populares nos Estados Unidos, os COEs — ou Certificados de Operações Estruturadas — ganharam terreno no Brasil. Há 16 bilhões de reais investidos neles, um acréscimo de 26% só em 2018. Com esses papéis, é possível aplicar em ativos como ações, moedas ou títulos de renda fixa. O principal atrativo é que, usando operações no mercado futuro, a maioria dos COEs oferece proteção contra perdas. Assim, se o mercado cai, o investidor pode receber de volta o dinheiro que aplicou. Se sobe, em compensação, leva só uma parte do ganho. Com a incerteza da economia brasileira, os COEs que investem no exterior se tornaram os mais populares neste ano. Mais de 45% dos emitidos até maio aplicam em índices de ações internacionais. Em 2016, isso não chegava a 2%. “Esses COEs são recomendados para quem está interessado em ousar mais nos investimentos, mas também quer fugir do risco Brasil”, diz Glauco Legat, analista da corretora Spinelli.
LEILÕES
Com desconto e sem problema
Os leilões de imóveis tomados por inadimplência nas prestações do financiamento são velhos conhecidos dos investidores do setor imobiliário. Em geral, eles oferecem descontos consideráveis, mas os compradores muitas vezes têm de lidar com situações delicadas — não é raro, por exemplo, que haja gente vivendo nas casas e apartamentos. Agora, empresas especializadas em leilões têm oferecido um formato de negociação semelhante a quem quer vender imóveis isentos de problemas. “É como uma venda direta, só que os interessados dão seus lances em um pregão online”, diz Cristiana Boyadjian, presidente da empresa Leilão VIP, que lançou uma plataforma de venda de imóveis por meio de leilão. Para os investidores, o principal atrativo ainda é o preço: na plataforma, os imóveis devem ser oferecidos com pelo menos 30% de desconto em relação ao valor de mercado.
ENTREVISTA
Em junho, empresas como o banco Agibank e a Bunge Açúcar e Bioenergia pisaram no freio e interromperam sua abertura de capital. Roderick Greenlees, diretor do banco de investimentos do Itaú BBA, diz por que espera uma retomada das ofertas iniciais de ações (os IPOs) ainda neste ano.
As empresas estão desistindo de abrir o capital. Qual é a chance de mudança nesse quadro nos próximos meses?
Esperamos uma retomada dos IPOs a partir de novembro, depois das eleições. Há empresas de qualidade e bem preparadas só esperando a melhora das con-dições de mercado para abrir o capital na bolsa.
A previsão era de que dez empresas estreariam na bolsa brasileira em 2018. O que dá para esperar agora?
Quatro companhias brasileiras abriram o capital neste ano: as operadoras de planos de saúde Notredame Intermedica e Hapvida, o banco Inter e a PagSeguro, empresa de meios de pagamento que se listou na Bolsa de Valores de Nova York. Esse número pode dobrar até o final deste ano. Como há muitas candidatas a abrir o capital, o número de ofertas deve aumentar em 2019.
Em muitos IPOs antes da crise de 2008, as ações disparavam já no primeiro dia de negociação. Isso deve voltar a acontecer?
Para investidores, o mais importante é que as empresas tenham resultados crescentes ao longo do tempo. Altas como as que aconteciam nos IPOs de 2006 a 2008, na maioria dos casos, não se sustentaram no longo prazo. De toda forma, estamos confiantes de que as empresas que estão se preparando para ir à bolsa serão bem recebidas pelo mercado.
BOLSA BRASILEIRA
Ficou barato, afinal?
Desde que atingiu seu recorde nominal, em fevereiro, a bolsa brasileira recuou mais de 16%. Operando na faixa dos 73 000 pontos, o Ibovespa voltou ao patamar de meados do ano passado. A queda foi motivada principalmente por vendas de ações pelos estrangeiros, ressabiados com o ritmo da recuperação da economia brasileira e atraídos pelos juros mais altos nos Estados Unidos. Só neste ano, eles levaram mais de 10 bilhões de reais embora da B3. Entre as ações que sofreram mais estão as da indústria de alimentos BRF, da empresa de educação Kroton, da administradora de planos de saúde Qualicorp, da concessionária EcoRodovias e da distribuidora de combustíveis Ultrapar — os papéis da BRF, por exemplo, recuaram quase 50% neste ano, até o final de junho. Mesmo assim, alguns analistas consideram que a bolsa, de forma geral, ainda não ficou barata. “Apesar de esta ser uma das correções mais fortes em um período tão curto, nossa análise indica que as ações de apenas quatro setores, dos 17 existentes, estão negociando abaixo das médias de longo prazo”, diz um relatório do banco UBS.