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Indústria do petróleo americana vive seu melhor momento em 5 anos

Recuperação dos preços internacionais e a retomada da produção de óleo de xisto favorecem o governo Trump

Extração de petróleo nos Estados Unidos: o óleo de xisto já representa metade da produção americana (Ernest Scheyder/Reuters)

Extração de petróleo nos Estados Unidos: o óleo de xisto já representa metade da produção americana (Ernest Scheyder/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de abril de 2018 às 05h42.

Última atualização em 12 de abril de 2018 às 05h42.

Para os geólogos, a divisa do estado do Texas com o Novo México, nos Estados Unidos, faz parte de uma bacia sedimentar chamada Permian. O nome se refere à era geológica em que as rochas no subsolo foram formadas, entre 46 milhões e 298 milhões de anos atrás. Para a indústria do petróleo americana, a bacia é a maior região produtora do país. Lá são extraídos 3 milhões de barris por dia — quase um terço da produção total americana, que só tende a crescer. Desde que o preço do combustível fóssil voltou a subir, a partir de 2016, o setor de petróleo americano está vivendo sua maior expansão em cinco anos. Mesmo com o avanço de outras fontes de energia mais limpas, a previsão é que a produção americana chegue a 10 milhões de barris por dia em 2018, maior nível da história do país e o dobro do que se produzia nos anos 90 e 2000.

No fim do ano passado, os Estados Unidos ultrapassaram a Arábia Saudita e se tornaram o segundo maior produtor de petróleo bruto do mundo. Até 2023, a expectativa é que a produção atinja mais de 12 milhões de barris por dia, colocando os americanos na frente dos russos como os maiores produtores de petróleo do mundo. Pelo menos enquanto o combustível fóssil continuar sendo uma fonte de energia essencial para os demais setores da economia, o papel dos Estados Unidos como potência energética global está garantido.

Não é a primeira vez que os americanos ocupam o posto de maior produtor global. Durante boa parte do século 19 e metade do século 20, o país liderava a produção e o refino, chegando a responder por até 85% de todo o petróleo extraído. Mas isso foi antes das descobertas de grandes reservas na Rússia, no Oriente Médio, na África e, mais tarde, na América Latina — como os campos na costa do Brasil. Há ainda outra diferença em relação ao passado. O motivo do avanço atual da produção americana é o interesse de petroleiras, investidores e do próprio governo em extrair óleo de xisto, que utiliza uma tecnologia relativamente barata e permite uma exploração mais rápida do que a rea-lizada pelo método tradicional de -poços em terra e no mar.

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Não é à toa que o xisto — uma formação rochosa rica em matéria orgânica que, quando submetida a altas temperaturas, libera óleo e gás — tenha representado 54% (ou 4,6 milhões de barris por dia) da produção total de petróleo bruto dos Estados Unidos no ano passado. A expectativa da Agência de Informações Energéticas, ligada ao governo americano, é que até 2040 o xisto passe a responder por 70% da produção do país.

Além de produzir mais, os americanos dependem cada vez menos do petróleo que vem de fora. Dez anos atrás, 57% do petróleo consumido no país era importado. Hoje são 20%. O volume comprado da Arábia Saudita, por exemplo, caiu de 2 milhões de barris por dia, em 2003, para 563 000 barris por dia, no ano passado. Ao mesmo tempo que reduz a dependência externa, o país vem exportando mais. Esse avanço se dá na esteira de uma mudança na legislação, que, até 2015, proibia a exportação de petróleo em estado bruto. Com isso, a expectativa é que as exportações se igualem às importações até 2022.

REFLEXOS PARA O MUNDO

A Agência Internacional de Energia afirma que o xisto americano é responsável pelo maior crescimento da produção de petróleo desde a década de 60 no mundo. Com isso, os Estados Unidos, junto de Brasil, Canadá e Noruega, vão ser os principais encarregados de suprir o aumento da demanda mundial nos próximos cinco anos, que virá principalmente da Índia e da China. Isso coloca os Estados Unidos numa posição favorável para pressionar os chineses, alvo favorito do protecionismo do presidente Donald Trump. O Brasil também leva vantagem, uma vez que é parte dos Brics e tem boas relações comerciais com a Índia e a China.

A abundância do novo eldorado americano acendeu um alerta nas economias que fazem parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Em 2014, o cartel liderado pela Arábia Saudita elevou os estoques em todo o mundo com o intuito de derrubar os preços e assim levar produtores de xisto à falência. De fato, pequenas companhias fecharam as portas, mas as grandes petroleiras se mantiveram firmes — e investindo no xisto. Isso fez com que a Opep desistisse da estratégia. Em 2016, o grupo concordou em cortar a produção, o que ajudou a elevar os preços novamente. O acordo vale até o fim do ano, e uma reunião, em junho, deverá definir sua continuidade. Recentemente, o cartel admitiu pela primeira vez que a produção dos países de fora da Opep excederá a demanda mundial graças à indústria americana.

Putin e Trump: os Estados Unidos devem ultrapassara Rússia e se tornar o maior produtor de petróleo mundial | Jorge Silva/Reuters

Além de trazer retorno financeiro, o aumento expressivo da produção de petróleo nos Estados Unidos funciona como um colchão, já que a economia fica menos suscetível às oscilações de preço por questões geopolíticas e problemas climáticos. Isso traz mais previsibilidade para o câmbio e para a inflação. Há ainda outra consequência: a supremacia energética tem reflexos sobre o poder americano no mundo, pois a Casa Branca passa a ter uma carta na manga em disputas geopolíticas. “Isso permite que os Estados Unidos imponham sanções mais duras ao setor de petróleo e gás da Venezuela ou da Líbia, por exemplo”, diz Hilary Novik Sandberg, analista de energia e recursos naturais da consultoria Eurasia.

Uma dúvida é se essa posição vantajosa vai permanecer por muitos anos. Para isso, é preciso que as empresas continuem investindo na cadeia produtiva e que as condições da economia mundial sejam favoráveis. Entre as preocupações estão a queda do preço do barril por excesso de produção e as medidas protecionistas do governo Trump, que aumentam os custos de exploração. É o caso da sobretaxa à importação de produtos chineses, aço e alumínio, usados na construção de oleodutos e maquinário. O prejuízo até agora é pequeno, mas a escalada de uma guerra comercial é um risco no horizonte. Enquanto isso, os poços no Texas e no Novo México continuam a todo vapor. 

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