Revista Exame

Cartão pré-pago vira o novo filão das fintechs

Apenas em 2017, esses cartões receberam um total de 175 bilhões de reais, segundo um levantamento da consultoria. Haja dinheiro

Alexandre Brito, da Hub Fintech: pré-pagos para grandes empresas  (Germano Lüders/Exame)

Alexandre Brito, da Hub Fintech: pré-pagos para grandes empresas (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2018 às 05h00.

Última atualização em 19 de junho de 2018 às 13h27.

sistema de pagamentos do aplicativo de transportes 99 era uma grande complicação até pouco tempo atrás. A empresa tem cadastrados cerca de 300 000 motoristas de táxi e carro particular, e precisa repassar a eles o dinheiro das viagens contratadas e pagas por meio do aplicativo. No passado, a 99 transferia esses recursos para as contas bancárias dos motoristas, um processo manual que, em razão do volume, fazia com que cada pagamento levasse até uma semana para ser concluído. Quem não tinha conta em banco recebia por meio de cheque ou ordem de pagamento, o que obrigava o motorista a ir até um banco sacar o dinheiro. No fim de 2016, a 99 resolveu substituir os cheques e as transferências por um cartão pré-pago. Emitido por uma startup, a Hub Fintech, o cartão foi entregue a todos os motoristas. Agora, eles recebem o dinheiro das viagens minutos depois que elas são encerradas.

A 99 é uma das empresas que adotaram cartões pré-pagos, em vez de usar serviços dos bancos, para fazer alguns tipos de pagamento e transferências de dinheiro. Apenas em 2017 esses cartões receberam um total de 175 bilhões de reais, segundo um levantamento da consultoria Boanerges, especializada em varejo financeiro. No passado, os pré-pagos mais comuns eram os vales refeição e transporte. Além desses, os bancos emitiam pré-pagos para quem buscava uma forma diferente de dar mesada aos filhos e queria facilitar os pagamentos feitos por empregados domésticos.

Recentemente, ganharam espaço os cartões usados por empresas para pagar funcionários e fornecedores, como a 99. A PagSeguro, processadora de operações com cartões, por exemplo, usa os pré-pagos para pagar aos lojistas sem conta em banco. “Empresas de diversos ramos têm usado esses cartões como opção para simplificar os pagamentos e as transferências de recursos. Estamos negociando com empresas de venda porta a porta, as quais podem usar o pré-pago para pagar seus revendedores”, diz Paulo Frossard, vice-presidente da Mastercard, bandeira de cartões que estampa a maioria dos pré-pagos em circulação no país.

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Em vez de ser emitidos pelos bancos. muitos desses novos cartões pré-pagos estão sendo lançados por startups financeiras, as fintechs. De acordo com a associação ABFintech, existem cerca de 20 fintechs especializadas em cartões pré-pagos no país. Isso aconteceu em razão de mudanças na regulação. Em 2013, o Banco Central normatizou a atuação de instituições não financeiras nesse segmento e, neste ano, permitiu que empregados recebessem os salários em cartões pré-pagos.

A popularização dos smartphones também ajudou nesse processo, já que os pré-pagos vêm acompanhados de aplicativos que permitem quitar contas e fazer transferências. Alguns também oferecem serviços de educação financeira que ajudam a controlar os gastos. “Ao investir em tecnologia, as fintechs transformaram os pré-pagos em contas digitais”, diz Alexandre Brito, diretor-geral da Hub Fintech. A startup é especializada nesse tipo de cartão e tem entre seus clientes o site Mercado Livre, a varejista Magazine Luiza e a Caixa Econômica Federal, além da 99.

Do lado dos consumidores, os pré-pagos são considerados instrumentos eficientes de inclusão bancária num país que tem 60 milhões de pessoas com mais de 18 anos sem conta em banco, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Hoje, quase 40% dos pagamentos no Brasil ainda são feitos em dinheiro. O desafio é reduzir o custo para o usuário final. Se, de um lado, as empresas encontraram nessas soluções uma maneira mais barata de fazer pagamentos, de outro, para os consumidores, sacar o dinheiro armazenado nos pré-pagos ainda é caro.

Hoje, a única opção com abrangência geográfica são os caixas eletrônicos 24 Horas, mas a rede cobra, em média, 7 reais por saque. Algumas fintechs têm parceria com as Lotéricas para saque e recarga de cartões, mas o horário de funcionamento e as filas tornam esse meio ainda limitado. As fintechs estão tentando desenvolver sistemas e fechar parcerias com redes de varejo para que os saques possam ser feitos em suas lojas, um sistema amplamente adotado nos Estados Unidos, conhecido como cash out. É o caso da Acesso, que tem 500.000 cartões emitidos e ativos e distribui parte deles em varejistas como Lojas Americanas, Pão de Açúcar, Extra e Walmart. Os pré-pagos representaram uma parcela pequena do total de 1,4 trilhão de reais em pagamentos feitos por meio de cartões de débito e crédito no país em 2017. Mas são uma alternativa para quem não quer, ou não pode, depender apenas dos bancos.


Nota da TecBan, dona da rede Banco24Horas

"Gostaríamos de informar que o valor cobrado por saque nos caixas eletrônicos da rede Banco24Horas é definido pelas instituições financeiras e não pelo Banco24Horas. As instituições financeiras podem oferecer saques gratuitos e outras transações dentro de um pacote de serviços contratado pelo consumidor, que incluem as operações feitas nos caixas eletrônicos."

Luiz Stefani, diretor de autoatendimento da TecBan

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