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O Mercado Livre não está nem aí para a Amazon

Depois de crescer 60% em um ano no Brasil, o Mercado Livre pretende investir mais 1 bilhão de reais no país, diz seu presidente mundial Marcos Galperin

Marcos Galperin, 
do Mercado Livre: “Se paramos de inovar, nos tornamos irrelevantes” (Germano Luders/Exame)

Marcos Galperin, do Mercado Livre: “Se paramos de inovar, nos tornamos irrelevantes” (Germano Luders/Exame)

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Filipe Serrano

Publicado em 24 de agosto de 2017 às 05h51.

Última atualização em 24 de agosto de 2017 às 05h51.

São Paulo — O site de comércio eletrônico Mercado Livre viveu numa espécie de realidade paralela em meio à maior recessão da história brasileira. Enquanto a imensa maioria das empresas sobreviveu demitindo e cortando custos — e as que não tiveram sucesso fecharam as portas —, o Mercado Livre comemora seus resultados no país. As vendas globais do site aumentaram 55% no segundo trimestre, para 2,7 bilhões de dólares, e boa parte do desempenho se deve à operação brasileira.

Por isso, segundo declarou a EXAME o presidente mundial da empresa, o argentino Marcos Galperin, o plano é fazer um investimento recorde no país ainda neste ano, de 1 bilhão de reais, o que inclui a inauguração do primeiro centro de distribuição da empresa aqui. Fundado há 18 anos na Argentina por Galperin e um sócio, o Mercado Livre é especializado em intermediar a venda de produtos de pequenos comerciantes a consumidores. Abriu o capital em 2007 na bolsa americana Nasdaq — apenas nos últimos 12 meses, suas ações valorizaram 45%.

O lucro caiu neste ano em razão de perdas cambiais na Venezuela e da adoção de uma política de não cobrar frete, bastante popular no Brasil. Mas Galperin afirma que a perda é pontual. “Ao longo dos anos, os nomes dos concorrentes foram mudando. O nosso ficou”, diz ele.

EXAME – A empresa está investindo mais no Brasil para se proteger do esperado aumento da concorrência da varejista americana Amazon, que vai ampliar a lista de produtos vendidos aqui?

Galperin – Não. Sempre tivemos muita concorrência no Brasil e em toda a América Latina. Hoje mesmo já concorremos com a Amazon no México. Os números mostram que nossa estratégia funciona.

O senhor teme a expansão da Amazon no Brasil?

Não. Podemos ter um, cinco ou 100 concorrentes — Amazon, Alibaba, Ebay, PayPal, B2W, Netshoes — que a nossa estratégia permanece a mesma e continuamos crescendo. Ao longo dos anos, os nomes dos concorrentes foram mudando. O nosso ficou.

O senhor diz que vai investir 1 bilhão de reais no Brasil. Qual o objetivo?

Os recursos são necessários para financiar a política de frete gratuito, o investimento em publicidade, o desenvolvimento de software e novas contratações. Nas primeiras semanas de agosto, contratamos 120 pessoas no Brasil, um recorde mensal. Temos hoje 1.600 funcionários aqui e 5.000 no mundo. Basicamente, é um investimento para aumentar toda a operação no Brasil. Outro investimento importante é a abertura do nosso primeiro centro de distribuição no Brasil, com 17.000 metros quadrados e capacidade para chegar a 50.000 metros.

Por que ter um centro de distribuição se os produtos são vendidos por terceiros?

O objetivo é agilizar a entrega dos maiores vendedores. Nós tivemos no ano passado 8 milhões de vendedores, metade deles no Brasil. Cerca de 400.000 são pessoas que montaram um pequeno negócio e vivem apenas de vender produtos no site. Os maiores entre eles são aqueles que vão fazer uso do nosso centro.

A logística era um gargalo da operação?

Não. Não era um problema. Mas, definitivamente, quanto mais rápida for a entrega, maior a satisfação. Com o centro de distribuição, ela vai melhorar mais.

Por que o varejo online cresce mesmo em meio à queda do consumo no Brasil?

Por causa dos fatores ligados à tecnologia. Os smartphones ficam cada vez mais baratos, as conexões 3G e 4G melhoram. Tudo isso faz com que mais gente esteja conectada à internet, o que favorece o comércio eletrônico. Com recessão ou crescimento, essa é uma mudança que vai acontecer de qualquer maneira.

- (Adaptação: Rodrigo Sanches/Exame)

Por que oferecer frete gratuito?

Porque está ajudando a aumentar as vendas. Enquanto o setor de comércio eletrônico deve crescer 12% neste ano no Brasil, nós estamos crescendo 60%. Quem vive em Manaus e quer comprar um celular, por exemplo, chegou a pagar 150 reais pelo envio no passado. Nós perdíamos vendas por causa disso. Agora, o frete gratuito é uma alternativa.

O lucro do Mercado Livre levou um tombo por causa dessa política de frete gratuito. Mesmo assim, o senhor diz que foi uma decisão acertada?

Sim. Adoramos essa decisão. Vamos mantê-la e até aumentá-la. Daí a decisão de investir tanto dinheiro no Brasil neste ano, o maior valor da nossa história. E uma parte desse montante será usado para cobrir o frete gratuito.

Em junho, o Mercado Livre entrou na lista das 100 maiores empresas da Nasdaq. Foi a primeira empresa latino-americana a fazer isso. É um mau sinal que haja apenas uma empresa de tecnologia da região nesse grupo?

Não. Hoje, não há sequer uma empresa europeia nessa lista. Nenhuma. É claro que eu gostaria que houvesse mais empresas latino-americanas. Para nós, é um reconhecimento grande. Estamos orgulhosos. E também acho representativo do que é a indústria de tecnologia. Se paramos de inovar, se paramos de correr riscos, nos tornamos irrelevantes. Foi o que aconteceu com o Yahoo, que saiu da lista da Nasdaq.

Outras empresas de comércio eletrônico latino-americanas estão abrindo o capital, como a Netshoes e a Decolar. Como o senhor avalia esse movimento?

É muito positivo para a região. Acho que é um bom sinal do desempenho do setor de tecnologia e da economia da América Latina. Para nós, também é positivo porque, finalmente, vamos poder olhar os resultados financeiros de outras empresas. Todas elas sempre olharam os nossos números, mas os números delas sempre foram privados.

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