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O mercado do medo

Um índice que compara o preço do ouro com o das ações mostra que vivemos o período de maior incerteza dos últimos 20 anos

Barras de ouro ( Bruno Vincent/Getty Images)

Barras de ouro ( Bruno Vincent/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2011 às 06h00.

São Paulo - Desde que o ouro deixou de ser o valor de referência para as principais moedas do mundo, há 40 anos, seu preço tem pouca relação com a quantidade do metal disponível no mundo. Uma variação na oferta de ouro ou na demanda das joalherias tem um impacto bastante limitado sobre suas cotações.

O que faz o valor do ouro subir ou cair é o grau de incerteza em relação à economia mundial. Crises, guerras e atentados costumam valorizá-lo, porque investidores amedrontados aplicam em ouro para tentar proteger seu patrimônio. Essa lógica mostra que vivemos, hoje, o período de maior desconfiança em relação ao futuro das duas últimas décadas.

É possível medir isso por meio de um índice que compara o preço do ouro com a pontuação do índice Dow Jones, da bolsa de Nova York. Analistas calculam, hipoteticamente, quantas onças do metal seriam necessárias para “comprar” o Dow Jones — quanto menos onças, mais o ouro está valorizado frente às ações americanas.

Hoje, esse índice está em 7,9, o menor patamar desde 1990, época da Guerra do Golfo, que fez o barril de petróleo disparar 150%, e de um ciclo de recessão da economia americana.

Nem mesmo no auge da crise de 2008, quando o banco Lehman Brothers quebrou e uma onda de pânico se espalhou pelo mercado financeiro, a razão entre o ouro e o Dow foi tão baixa (veja quadro). Estamos tão mal assim? 

A resposta dos especialistas que buscam justificativas para o momento atual é que há dúvidas demais no horizonte. Ninguém sabe qual será o futuro da zona do euro, o ritmo de recuperação dos Estados Unidos e se a economia mundial caminha para um longo ciclo de deterioração.

Uma recessão nos Estados Unidos e a piora da crise na Europa poderiam prejudicar ainda mais as bolsas e outras aplicações de risco — num ambiente como esse, faria sentido aplicar em ouro como garantia. “Em 2008, os governos agiram para evitar o pior. Hoje, eles estão endividados e praticamente de mãos atadas. Não há a quem recorrer”, diz Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências. 


Mesmo assim, há cada vez mais analistas afirmando que a alta do ouro é exagerada. Uma conta feita por John Wadle, diretor de pesquisa da corretora coreana Mirae em Hong Kong e especialista em ouro, mostra que, mesmo num cenário ruim, em que os lucros das empresas americanas subissem apenas 2% ao ano (o que ocorreu no Japão nas duas últimas décadas), os investidores em ações conseguiriam um rendimento de 130% aplicando na bolsa americana nos próximos 20 anos.

“Para dar um retorno equivalente, o preço do ouro teria de bater 4 400 dólares, o que faria o estoque do metal ser avaliado em 28 trilhões de dólares, o dobro do PIB americano, o que é um evidente absurdo”, diz ele.

Antes de a bolha estourar

Tudo indica que há um desequilíbrio nesse mercado, mas isso não quer dizer que o ouro vá desvalorizar e as ações americanas voltarão a subir daqui para a frente.

Nos anos 90, estimulada pela política de juros baixos adotada pelo Federal Reserve (o banco central americano), a economia dos Estados Unidos tornou a crescer. Isso fez a bolsa valorizar e o preço do ouro permanecer estável durante praticamente toda a década. O bom momento das ações durou até 2001, quando estourou a bolha das empresas de internet. 

As projeções para os próximos meses são divergentes. Enquanto instituições como o Deutsche Bank e o Goldman Sachs preveem que os preços continuarão em alta, a Mirae e o Wells Fargo apostam em sua queda.

“O interesse pelo investimento em ouro alcançou o nível de uma bolha especulativa recentemente”, escreveram os profissionais do Wells Fargo num relatório enviado em agosto aos clientes de alta renda. Pode ser. A questão é que, enquanto a crise atual não passar, é possível que as cotações continuem subindo.

No ano passado, meses antes de anunciar que pararia de administrar o dinheiro de terceiros, o investidor George Soros disse que estava claro que havia uma bolha no mercado de ouro.

Ao mesmo tempo, porém, os executivos de sua gestora de recursos estavam comprando grandes quantidades do metal para as carteiras dos fundos que administravam. O objetivo era ganhar dinheiro antes de a bolha estourar. Tem dado certo — nos últimos 12 meses, o preço do ouro subiu 48%.

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