Ilustração: O lado bom da patrulha dos investidores (Marcelo Caldeira/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2014 às 20h14.
1 - Trabalho numa companhia que planeja abrir o capital. Há um pouco de apreensão no que se refere à pressão que virá de investidores após a abertura. Em que sentido a patrulha do mercado pode ser boa ou ruim? Como muda a vida dos executivos? Como lidar com as situações que estão por vir? Anônimo
A patrulha do mercado pode ser ótima. Nem sempre é confortável para quem está dentro das empresas — e nem deveria ser. O acompanhamento de investidores faz a empresa correr em busca de melhores resultados e isso é bom para todo mundo. Não deixa ninguém se acomodar. E, no caso de muitas companhias familiares, ajudou a colocar um viés financeiro mais intenso, o que só ajuda a trazer mais resultados.
Já acompanhei de perto histórias de diversos empresários e executivos à frente de companhias que abriram o capital, e os depoimentos são sempre positivos. Conheço bem o caso de uma empresa que já era grande quando planejava abrir o capital, mas nem sequer orçamento tinha.
No ano seguinte à estreia na bolsa, conseguiu desenvolver um processo bem estruturado, melhorou muito seus controles financeiros e hoje está aprimorando os resultados a cada ano. A mudança se reverteu em significativos bônus para seus executivos.
Em outro caso, os diretores passaram a dar muito mais atenção à eficiência operacional, medida por meio de indicadores financeiros, e a empresa começou a crescer rapidamente, criando riquezas e oportunidades de ganhos de onde ninguém nunca imaginara antes.
Buscar melhorias na empresa significa perseguir conhecimento novo e avançar profissionalmente. Se você considera que o crescimento profissional é fator de motivação no trabalho, a presença no mercado de capitais resultará na criação de um ciclo virtuoso. A abertura de capital o coloca numa posição de maior visibilidade.
Dessa maneira, você vai conhecer muita gente nova e aumentar significativamente seu valor no mercado de trabalho, desde que seja bem-sucedido na tarefa de valorizar sua empresa.
A pior coisa que pode acontecer a um profissional é estacionar num ambiente corporativo que não está se preocupando em buscar resultados excepcionais. A patrulha do mercado vai exercer pressão sobre todos na empresa e encontrará maneiras de tirar do caminho as pessoas que estão impedindo as melhorias na organização com benefício para todos.
Não tenha receio. Se o mercado entrar em sua empresa, sua vida tende a melhorar. Um conselho: esteja pronto para resolver os problemas rapidamente, uma vez que os investidores podem ser implacáveis com aqueles que pecam pela lentidão.
Aprenda a estabelecer metas, analisar informações, montar bons planos de ação, executá-los, controlar a execução de cada um deles e, finalmente, padronizar os processos em caso de sucesso ou aprofundar a análise das informações e montar planos de correção de rumos. Desse jeito, você e sua equipe estarão preparados para o que der e vier.
2 - Com as ações andando de lado, as stock options dos executivos deixaram de ser atrativas. O que fazer para evitar que os melhores simplesmente deixem de achar o benefício suficiente para segurá-los na companhia? Anônimo
Existem dois tipos de incentivo financeiro mais comuns nas empresas: os bônus anuais e as opções de ações. Os bônus são prêmios anuais e geralmente direcionados para atingir algum resultado desejado de maneira pontual naquele ano. Os bônus têm um papel de curto prazo muito importante e são geralmente pagos em dinheiro. Resultado atingido, dinheiro na conta, e vamos partir para a próxima.
Por outro lado, as opções de ações têm outros objetivos bem diferentes. Com esse incentivo, procura-se transformar o funcionário em dono. A meta é exercer um papel de longo prazo para retê-lo na empresa. Quem recebe opções de ações deve entender que esses papéis variam muito de acordo com o desempenho da empresa e, claro, com o humor da economia.
Cabe a cada um entregar o melhor trabalho para que as ações valorizem sempre — e compreensão para entender que por vezes não há muito a fazer para melhorar o ambiente econômico do país ou do mundo.
Obviamente, é bem melhor quando o valor da ação cresce continuamente. Nesse caso, o papel da opção de ações é plenamente exercido. Caso o funcionário saia da empresa, suas perdas serão relevantes, e isso tem a tendência de fazer com que ele permaneça até que possa levar a bolada para casa. Passar por essa situação faz parte do pacote. É uma espécie de lado menos glamouroso de ser dono.
Tanto os bônus de curto prazo como as opções de ações podem ser mecanismos muito úteis. Sou totalmente a favor de ambos. No entanto, não devemos nos iludir e achar que eles podem bastar para segurar qualquer funcionário em qualquer ambiente de trabalho.
Os verdadeiros fatores perenes que podem afastar um bom profissional em geral envolvem um conjunto muito mais complexo de fatores — e não apenas um contexto temporariamente desfavorável.
Observe se eles ganham pelo menos o equivalente à média do mercado, sentem que pertencem ao grupo de pessoas da empresa, que são reconhecidos no trabalho e, finalmente, se fazem o que realmente gostam. Pela minha experiência, esses são os verdadeiros motivos que fazem com que alguém queira ficar ou não numa empresa — e isso, sim, é algo que depende apenas dos próprios gestores.