Rico Malvar: para o cientista-chefe da Microsoft, não há o que temer com a inteligência artificial | Simon Plestenjak/UOL/Folhapres /
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2020 às 05h30.
Última atualização em 26 de março de 2020 às 05h30.
Ao longo dos últimos 23 anos, o engenheiro carioca Rico Malvar, cientista-chefe da Microsoft Research, laboratório de inovação do gigante da tecnologia em Redmond, sede da companhia, acumulou um número impressionante: ele registrou 119 patentes nos Estados Unidos em projetos nos quais foi o inventor ou o coinventor. Aos 62 anos, Malvar já chegou a liderar um time de 300 pesquisadores na empresa e ajudou a criar o laboratório da companhia no Brasil, voltado para experimentos com inteligência artificial. Mais recentemente tem se dedicado a desenvolver soluções em acessibilidade. Uma das novidades, aliás, já está aí: uma câmera que permite controlar o cursor do mouse com os olhos, algo que pode revolucionar a vida de pessoas com esclerose lateral amiotrófica, uma doença que causa a paralisia total dos músculos.
O interesse de Malvar por inventar coisas começou na infância. Quando criança, ganhou do pai um kit de circuitos eletrônicos. Desmontava tudo que via pela frente e queria entender como as coisas funcionavam. O problema é que nem sempre conseguia montar de volta os objetos, o que irritava a irmã, Helena, cujos brinquedos eram vítimas frequentes.
O engenheiro brinca com a própria vocação. “Demorei para decidir que seria engenheiro. Tomei essa decisão só aos 8 anos”, diz às gargalhadas. Em 1977, formou-se em engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB).
Antes de chegar à Microsoft em 1997, trabalhou como diretor de pesquisa numa empresa americana em Boston, para onde se mudou em 1994 depois de lecionar na UnB. Chegou à empresa de Bill Gates graças a um e-mail despretensioso enviado numa tarde de domingo ao diretor de tecnologia da companhia na época, Nathan Myhrvold. Na mensagem, previa uma revolução: “Um dia, vídeo e música estarão na internet, vocês precisam ir para essa área e posso ajudá-los”.
A mensagem chamou a atenção de Myhrvold. É bom lembrar que, nos anos 1990, a Microsoft e a concorrente Apple viviam uma tensa disputa. Enquanto a primeira ganhava rios de dinheiro com produtos para o consumidor no varejo de informática, a companhia de Steve Jobs era a queridinha dos nerds com máquinas potentes e inovadoras. Pouco tempo depois, o brasileiro desembarcou na Microsoft para atuar no desenvolvimento do Windows Media Player, o wma, um formato de compressão de áudio. Concorrente do MP3, o wma é uma das inovações que permitiram a milhões de pessoas realizar downloads de música na internet, e que nos trouxe até os atuais serviços de streaming.
Durante a entrevista à EXAME, por videoconferência, Malvar mostrou-se entusiasmado com as tecnologias que o futuro trará, sobretudo as potencialidades da inteligência artificial. “As pessoas temem a IA, mas ela vai amplificar a inteligência humana e está criando novas profissões, como a de cientista de dados, que está em falta nos Estados Unidos.” Malvar dá pistas para onde está mirando. “Nessas invenções malucas, quem sabe em uma próxima conversa já não estaremos controlando o computador com o pensamento. Já imaginou?” Nada mal para quem começou desmontando objetos da casa dos pais ou fazendo os brinquedos da irmã vítimas de sua curiosidade.