DongJin Koh, da Samsung: 292 milhões de smartphones vendidos em 2018 e 81 bilhões de dólares de faturamento (Samsung/Divulgação)
Lucas Agrela
Publicado em 23 de maio de 2019 às 05h25.
Última atualização em 27 de junho de 2019 às 16h14.
No mercado de smartphones, a Apple pode até ser vista como uma marca de desejo dos consumidores. Mas, quando se trata do número de aparelhos vendidos, nenhuma empresa no mundo bate a sul-coreana Samsung. Em 2018, a Samsung comercializou 292 milhões de smartphones, uma cifra que representa 21% do mercado global, segundo a consultoria americana IDC. A unidade de celulares é a maior e mais importante da Samsung. Ela gerou uma receita de 81 bilhões de dólares em 2018 — ou 40% do faturamento total da divisão de eletrônicos da companhia.
À frente dessa unidade está o executivo sul-coreano DongJin Koh, mais conhecido pelo apelido DJ Koh. Formado em engenharia, ele está na empresa desde 1984 e assumiu a presidência da unidade de celulares em 2015, depois de liderar o departamento de pesquisa e desenvolvimento. Foi Koh quem esteve à frente no caso do recall do smartphone Galaxy Note 7, em 2016, quando um defeito na bateria fez aparelhos pegar fogo. Hoje ele tem o desafio de manter a empresa inovadora diante do avanço de rivais chinesas e das transformações do setor, como a chegada da tecnologia 5G. “Os próximos três anos trarão tantas mudanças quanto os últimos dez”, disse Koh em uma entrevista a EXAME realizada em Lima, no Peru. A seguir, os principais trechos da conversa.
O mercado de smartphones está amadurecendo. As vendas caíram 4% no mundo em 2018, o pior desempenho da história. O que isso mostra? O consumidor está mais exigente?
Sim. É verdade que as vendas de smartphones tiveram um crescimento maior no passado, mas acredito que 2019 será o ano da virada no mercado de celulares e outros eletrônicos. Para mim, os próximos três anos trarão tantas mudanças quanto os últimos dez. Isso acontecerá em razão da combinação das tecnologias de internet móvel 5G e inteligência artificial. As pessoas falam de internet das coisas há muito tempo. No entanto, essa tendência nunca decolou porque faltava o 5G, que começou a ser usado neste ano em alguns países.
Como as tecnologias de inteligência artificial e internet das coisas se encaixam nesse cenário?
Hoje temos de usar as mãos para interagir com os aplicativos no celular. Mas, quando estivermos realmente familiarizados com as interações por voz, as pessoas amarão falar com seus aparelhos. Além disso, quando a pessoa estiver no supermercado e não conseguir se lembrar de quais produtos ainda tem na geladeira, ela poderá acionar o smart-phone para ver o interior do eletrodoméstico, que terá uma câmera conectada à internet. São pequenas coisas que mudam o dia a dia das pessoas.
Nos últimos anos, as vendas de celulares de fabricantes chinesas, como Huawei e Xiaomi, cresceram expressivamente. Como a Samsung está enfrentando a concorrência?
Em vez de pensar na concorrência, buscamos seguir nosso próprio caminho. Não produzimos apenas celulares, o que nos dá uma vantagem. Na era do 5G, tudo estará conectado. A experiência de uso de eletrônicos vai mudar. Alguns aparelhos nem sequer terão tela. Nesse contexto, a Samsung se destaca por ser a única a ter TVs, refrigeradores, celulares, lavadoras e aparelhos de ar condicionado. Todos esses equipamentos estarão interligados por meio da computação em nuvem já em 2020.
O senhor demonstra bastante otimismo com o futuro. Está otimista também em relação ao mercado brasileiro?
O Brasil está entre nossos cinco maiores mercados no mundo. Trata-se de um país crucial para nós. Os brasileiros, especialmente os jovens, são adeptos de tecnologias, e a demanda por novidades é crescente. Felizmente, estamos no primeiro lugar no mercado brasileiro e vamos trazer mais novidades ao país.
O senhor já liderava a unidade de celular numa das fases mais críticas da Samsung, quando houve o recall do Galaxy Note 7. O que aprendeu com o caso?
Quando aconteceu o caso do Galaxy Note 7, pensei que seria um desastre. Com o passar do tempo, aprendi a encarar aquela situação como um investimento, não um custo. Eu mantive dois princípios: responsabilidade e transparência. A partir do caso do Note 7, tornamos a segurança dos clientes nossa prioridade número 1. Essa foi a maior lição que aprendi na vida como executivo. O caso foi o divisor de águas para elevar o padrão de segurança. Implementamos um processo de certificação de oito etapas para nossas baterias. E tudo o que padronizamos passou a ser compartilhado com os fornecedores. Temos um padrão de qualidade cada vez maior e estamos confiantes em relação à segurança de nossos produtos.
Recentemente, a Samsung decidiu adiar o início das vendas do Galaxy Fold, o primeiro com tela dobrável, por causa de um defeito. O que aconteceu?
Nós enviamos o aparelho a jornalistas especializados, mas ele ainda não era um produto comercial. O que aconteceu foi que não colocamos um aviso para não remover a película protetora do produto. Já terminamos a investigação sobre o caso e posso dizer que tudo está sob controle. Não estou preocupado. Esperamos lançá-lo em breve, inclusive no Brasil.
O caso mudou a expectativa em relação aos celulares de tela dobrável?
A expectativa continua positiva. Os jovens querem telas grandes porque usam o celular para consumo multimídia [vídeos, música e games]. A ideia da tela dobrável é muito simples: se a pessoa puder dobrar o aparelho, a experiência será muito mais imersiva. Essa era a ideia ao criar o Galaxy Note, nosso primeiro celular de tela grande, oito anos atrás. Mas não tínhamos a tecnologia para criar a tela dobrável.
O smartphone se estabeleceu como o principal meio de acesso à internet. O que virá depois, em sua opinião?
Acredito que, em dez anos, os dispositivos eletrônicos inteligentes, que compõem a “internet das coisas”, serão muito importantes. E eles vão se ligar aos smartphones, que, a partir de agora, estarão conectados às redes 5G de altíssima velocidade e terão uma capacidade de processamento ainda mais poderosa que a atual.