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Produtores ficam com menos de 5% dos R$ 2,3 bi que a castanha-da-amazônia movimenta no país

Estudo exclusivo mostra a distribuição dos valores da cadeia de produção da semente brasileira

Extração: prática é sustentável e deixa floresta em pé. (Leandro Fonseca/Exame)

Extração: prática é sustentável e deixa floresta em pé. (Leandro Fonseca/Exame)

Gilson Garrett Jr.
Gilson Garrett Jr.

Repórter de Casual

Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.

Busque por “Brazil nut” no ­TikTok ou no Instagram e surgirão milhões de vídeos de estrangeiros falando sobre os benefícios da semente, conhecida por nós como castanha-da-amazônia, castanha-do-brasil ou castanha-do-pará. Queridinha dos nutricionistas e dos adeptos do estilo de vida saudável, a semente típica da região amazônica é uma das poucas no mundo com produção agroextrativista cujas práticas sustentáveis, de baixo impacto e alto valor social, garantem renda e a floresta em pé. 

Apesar do claro benefício e da boa fama entre os gringos, os ganhos do setor se concentram no fim da cadeia produtiva — e não ficam com os povos originários que garantem a extração. Um estudo publicado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) mostra que a cadeia de extração, processamento e venda da semente movimenta no Brasil 2,3 bilhões de reais anualmente (veja o gráfico). Os dados revelam ainda que menos de 5% desse dinheiro — 99 milhões de reais — fica na floresta, com os extrativistas. A fotografia é de 2020, mas toda a análise foi finalizada agora, após levantamento de dados públicos e entrevistas com participantes de toda a cadeia.

Cadeia da castanha-da-amazônica

(Arte/Exame)

De acordo com André Machado, representante do secretariado executivo do OCA, o mercado de sementes em todo o mundo movimenta 40 bilhões de dólares por ano. “Nesse universo estamos falando de amêndoas, nozes, avelãs, castanhas-de-caju. O Brasil representa menos de 1% desse mercado. Com o estudo, nossa intenção não é propor o aumento da participação do país, mas debater como distribuir melhor o dinheiro dentro da cadeia”, diz.

Na safra de 2020 — dado analisado pelo estudo —, o Brasil produziu 33.100 toneladas de castanha-da-amazônia. Desse total, 55% ficaram no mercado interno, e o restante foi para a exportação. O diagnóstico do OCA revela que 1,4 bilhão de reais foram pagos pelo consumidor final estrangeiro ao comprar o produto fora do Brasil. Como a logística de exportação é cara, o valor final — mais de dez vezes superior ao inicial — não significa que o supermercado, lá na ponta, tem uma margem de lucro exorbitante.

Produção no Brasil

(Arte/Exame)

Ao lado de outros parceiros, o OCA testa modelos para encurtar a cadeia e distribuir melhor os ganhos. “Um grupo pequeno, de quatro empresas, tem participado mais ativamente junto com o OCA. Temos discutido fazer pilotos de programas de relacionamento mais éticos com as comunidades, no sentido de ter contratos mais longos de compra da castanha, entendendo que a extração tem ciclos de maior ou menor produtividade. E os produtores precisam ter uma previsibilidade de orçamento”, diz Machado. 

Outra iniciativa parte do Imaflora, com a rede Origens Brasil, cujo objetivo é promover negócios sustentáveis dentro da Amazônia. “Temos aproximado o setor empresarial para negociar essa castanha diretamente na floresta, com populações tradicionais e povos indígenas”, detalha Luiz Brasi Filho, coordenador da rede. 

Com o diagnóstico sobre a perda dos extrativistas em mãos, os grupos correrão contra o tempo para cortar custos de transação e garantir sustento justo aos produtores que conservam e mantêm a floresta intacta e gerando riquezas. Quem sabe assim eles também possam fazer parte dos milhões de conteúdos de redes sociais sobre a Brazil nut que proveem ao mundo.  

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