Loja da Apple em Nova York, nos Estados Unidos: o padrão de consumo americano não pode ser replicado em escala mundial (Mario Tama/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2012 às 11h50.
São Paulo - Em 1972, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) produziram o relatório Limites do Crescimento para o Clube de Roma — grupo que reúne alguns dos mais brilhantes estudiosos de diferentes áreas para discutir o futuro.
Segundo as conclusões catastróficas do MIT, o mundo caminhava rapidamente para a escassez de matérias-primas, o que exigiria uma forte redução da produção de bens industriais e, eventualmente, iria diminuir a riqueza das nações.
Não foram poucas as pessoas que na época viram semelhanças entre o trabalho do MIT e as ideias do pensador inglês Thomas Malthus, que, no século 18, afirmava que o planeta seria incapaz de alimentar sua crescente população.
Como todos sabemos hoje, nem Malthus nem o MIT acertaram. Avanços tecnológicos nos setores agrícola e industrial permitiram que a oferta de alimentos e produtos manufaturados continuasse em alta mesmo com a expansão da população. E a vida progrediu.
Quarenta anos depois, uma nova leva de pesquisadores volta a se debruçar sobre os limites do crescimento — e, outra vez, faz previsões pessimistas.
O vilão agora é o aquecimento global. Nas palavras de Paul Gilding, professor do Programa para a Sustentabilidade da Universidade de Cambridge, autor do recém-lançado The Great Disruption (“A grande ruptura”, numa tradução livre) e um dos principais expoentes desse grupo, nós já passamos dos limites físicos do planeta.
Não se trata de inventar uma nova tecnologia para aumentar a produtividade das lavouras, como no passado. Na visão de Gilding, o mundo entrou, no fim da década passada, em um momento de ruptura que se seguirá pelas próximas décadas.
Esse novo momento ainda não está muito claro, argumenta o professor, porque, entre outras razões, os países “camuflam” a falta de fôlego para expandir a economia com endividamento. Um número crescente de economistas verdes acredita que, independentemente do remédio, a economia global passará a crescer num ritmo menor.
Por quê? Em parte, como consequência das atuais crises econômicas e financeiras. Mas o principal fator é a exaustão e o encarecimento dos recursos naturais.
Jorgen Randers, professor de estratégia climática na Escola de Negócios Norueguesa, em Oslo, e um dos pesquisadores que produziram, em 1972, o relatório Limites do Crescimento, lançou recentemente o livro 2052, ainda inédito no Brasil, em que faz projeções para o mundo nos próximos 40 anos.
Seu diagnóstico é de que o hiato de renda e consumo entre os países mais ricos e os mais pobres deve diminuir. Já o uso de energia deve aumentar cerca de 50%.
Em razão das emissões de gás carbônico, Randers projeta que o mundo atingirá, na segunda metade deste século, o que chama de “colapso climático”, causado pela elevação da temperatura da Terra acima de 2 graus em relação ao período pré-industrial. Sabemos que Randers errou feio no passado. Ele vai acertar desta vez?
Para parte dos economistas, esse cenário é dado como certo. Por isso, eles têm defendido o fim do que chamam de obsessão por crescimento. A justificativa leva em conta o que poderia ser chamado de lógica da satisfação. Quando o nível de renda da população é muito baixo, existe uma correlação alta entre expansão do PIB e aumento de bem-estar da população.
A partir do momento em que as necessidades básicas estão superadas, o aumento da renda e da disponibilidade de bens tem pouca correlação com a sensação de conforto e felicidade, segundo esses autores. Em sociedades mais maduras, a felicidade está associada a outros fatores que não os puramente econômicos, como coesão social e qualidade da vida comunitária.
“A economia global está toda construída sobre uma premissa única que está começando a parecer bastante instável: a de que somos motivados a trabalhar e a gerar riqueza para comprar mais coisas, porque isso vai melhorar nossa qualidade de vida”, diz Gilding. “Mas chega a um ponto que mais dinheiro e mais posses, conquistados em troca de estresse e tempo, não nos deixam mais felizes.”
Essa lógica pode fazer sentido para a parcela rica da humanidade, mas vale lembrar que 1,3 bilhão de pessoas ainda vivem com menos de 1,25 dólar por dia. Na lista de tragédias humanas também consta que, a cada ano, 6 milhões de crianças morrem de desnutrição.
Ao longo da história da humanidade, é inegável, o crescimento econômico se provou o método mais eficiente para reduzir a pobreza. Nos últimos 30 anos, a expansão do PIB da China tirou 600 milhões de pessoas da miséria. No Brasil, o aumento da renda e do emprego criou uma nova classe média emergente que elevou a economia do país a outro patamar.
Teóricos e ativistas ligados à sustentabilidade não discutem a necessidade de tirar da miséria a parcela da população mundial na base da pirâmide social. “É com crescimento que países em desenvolvimento irão prover condições sociais básicas”, diz Erik Assadourian, pesquisador do centro de estudos Worldwatch Institute, de Washington.
A ideia de redução do consumo estaria destinada somente aos países ricos. Embora possa alimentar acalorados debates teóricos, a proposta de “acabar com a obsessão do crescimento” tem pouca chance de ser colocada em prática.
Dá para imaginar a eleição de um presidente que defendeu como candidato menos crescimento? Não há notícias de países que tenham decidido voluntariamente reduzir o consumo, a não ser em situações extremas, como guerras. Bem, pelo menos até agora.