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“O câncer pode ser tratado como uma doença crônica”

O presidente da farmacêutica Merck diz que empresas e governos têm de se aliar para que novas terapias cheguem aos pacientes com câncer

Stefan Oschmann: “Há medicamentos que prolongam a vida em dez anos” (Zeca Caldeira/Exame)

Stefan Oschmann: “Há medicamentos que prolongam a vida em dez anos” (Zeca Caldeira/Exame)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 05h12.

Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 05h12.

A empresa química e farmacêutica alemã Merck acaba de obter a aprovação no Brasil, numa aliança com a Pfizer, de seu primeiro medicamento imuno-oncológico, um tipo que ativa o sistema de defesa do paciente para combater o câncer. Chamado de Bavencio, o remédio trata tumores agressivos na pele, elevando a expectativa de vida do paciente.

Com novas tecnologias como essa, a esperança de sucesso no tratamento aumenta. “Em alguns casos, o câncer não será mais uma sentença de morte, mas uma doença crônica que pode ser controlada”, diz o alemão Stefan Oschmann, presidente da Merck. Mas as pesquisas inovadoras na área farmacêutica estão cada vez mais caras, chegando a custar 2 bilhões de dólares por medicamento. Segundo o executivo, é preciso rever as regras para baratear as pesquisas.

Qual é o futuro do tratamento de pacientes com câncer?

Doenças que não podiam ser tratadas há 50 anos têm hoje terapias disponíveis. Com o câncer, acontece o mesmo. Em alguns casos, ele não será mais uma sentença de morte para o paciente, mas uma doença crônica que poderá ser controlada.

Quando essa realidade se tornará possível? 

Depende de cada tipo de tumor, mas em alguns casos já é a realidade. Há medicamentos que prolongam a vida em dez anos. E com qualidade. A quimioterapia, introduzida nos anos 70, elevou a expectativa, mas trouxe efeitos colaterais fortes. Na imunoterapia, o corpo ataca apenas o tumor, com menos efeitos. 

Qual é o custo para desenvolver essas terapias?

O constante crescimento dos custos para desenvolver novos medicamentos é o maior desafio financeiro que temos atualmente. O processo chega a somar 2 bilhões de dólares. Alguns testes custam o equivalente a 600 milhões de dólares.

De que forma é possível resolver essa questão? 

Temos de trabalhar com as agências reguladoras. Os pacientes precisam ter certeza de que o remédio é seguro. Mas, se há uma terapia capaz de estender a expectativa de vida dos pacientes em um ano, precisamos de todas as tecnologias e de todos os dados para trazer o remédio rapidamente ao mercado. Isso aumenta a competição e reduz o custo final do medicamento.

Como as novas tecnologias ajudam nessa questão?

Criamos um sistema regulatório que foi bom no passado, mas que agora precisa abordar o big data, a inteligência artificial e a impressão 3D — esta última pode até ser usada para imprimir órgãos e evitar a realização de testes em animais. Tudo isso pode diminuir o tempo de desenvolvimento de um medicamento significativamente.

Diante do orçamento apertado dos governos, como levar a inovação para os sistemas públicos de saúde?

A inovação, às vezes, é cara, mas frequentemente é efetiva e poupa dinheiro. A questão é como financiar a compra. Precisamos encontrar mecanismos para isso. As pessoas querem acesso à saúde com qualidade. A prioridade nesse setor, no entanto, é algo que muitas vezes passa por uma decisão política.

Com os custos altos, como o setor está se organizando para trazer mais inovações ao mercado?

Esse mercado é muito fragmentado e, por isso, estão ocorrendo fusões e aquisições, além da compra de startups, que são uma fonte de inovação. A Merck, que desembolsa 2 bilhões de euros por ano com pesquisa, decidiu investir em doenças como câncer, esclerose múltipla e lúpus. Com os custos em alta, precisamos focar nosso diferencial científico. 

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