Revista Exame

Após indiciamento, Bolsonaro terá um 2025 entre julgamento decisivo e disputa política

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá ano decisivo com o desdobramento de um eventual julgamento do STF que pode, no limite, levá-lo à cadeia

O ex-presidente Jair Bolsonaro: altos e baixos desde que deixou o Palácio do Planalto, no fim de 2022 (Joe Raedle/Getty Images)

O ex-presidente Jair Bolsonaro: altos e baixos desde que deixou o Palácio do Planalto, no fim de 2022 (Joe Raedle/Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 09h31.

Desde que deixou o Palácio do Planalto, no fim de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro viveu momentos de altos e baixos, como a inelegibilidade em 2023, o desempenho do PL nas eleições municipais e a volta de Donald Trump à Casa Branca — que deu fôlego, pelo menos narrativo, à sua corrente política. O ano de 2024, porém, acabou em uma baixa.

O ex-presidente e outros 36 aliados foram indiciados pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Mesmo inelegível, Bolsonaro se coloca como a única opção para derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. O momento, porém, mostra que ele pode estar mais próximo de uma eventual condenação — e posterior prisão — do que de volta às urnas. O relatório de mais de 800 páginas da PF o coloca como o grande articulador de uma trama golpista. No limite, a pena pode ser de até 28 anos.

“O relatório diz que uma parte desse plano de golpe eram as lives, os questionamentos públicos do sistema eleitoral e o ingresso de ações na Justiça com dados que não eram verdadeiros”, diz Pierpaolo Cruz Bottini, professor de direito penal da Universidade de São Paulo (USP). “São atos concretos, e uma parte deles foi executada pelo próprio ex-presidente.”

O indiciamento é apenas o início de um processo. Agora, cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar ou não uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). Caso a denúncia seja aceita, o Tribunal está organizado para julgar a ação até o fim de 2025, apurou a EXAME. Uma eventual prisão somente deve ocorrer após o chamado trânsito em julgado, quando se esgotam os recursos da defesa. O cenário somente deve mudar caso Bolsonaro interfira na investigação, ameace testemunhas ou destrua provas, avaliam juristas. O ex-presidente nega qualquer tentativa de “jogar fora das quatro linhas”, mas admite que o seu entorno discutiu decretar Estado de Sítio após a derrota em 2022.

A dúvida do grupo próximo ao ex-presidente é como a situação pode impactar o seu eleitorado e a direita. Na avaliação de Cláudio Couto, professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), a certeza até aqui é de que o “núcleo duro” deve permanecer ao lado de Bolsonaro. “Mas uma condenação pode afastar eleitores menos engajados, especialmente aqueles que o viam como alternativa política”, afirma. Para Couto, o maior desafio estará com o possível herdeiro político de Bolsonaro, que terá de acenar para a base ao mesmo tempo que se afasta de um eventual ex-presidente preso. “Ele vai precisar fazer um jogo de equilíbrio, sendo moderado o suficiente para atrair um público mais amplo”, diz. Está em jogo um capital político de 58 milhões de votos. 

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