Revista Exame

Muito petróleo, pouco dinheiro

Novos fundos de private equity querem investir nas fornecedoras da Petrobras, uma multidão de pequenas empresas que precisam de bilhões para atender à demanda do pré-sal

Plataforma da Petrobras: fornecedores com muita ambição, mas pouco capital (Germano Lüders/EXAME.com)

Plataforma da Petrobras: fornecedores com muita ambição, mas pouco capital (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2011 às 09h36.

São Paulo - No fim de julho, a petrobras anunciou seu plano de investimentos para os próximos quatro anos. Como tudo que envolve as reservas dos campos do pré-sal, o plano da estatal continha cifras de cair o queixo.

Pelo que foi anunciado, a Petrobras investirá 389 bilhões de reais até 2015 para tornar viável a extração de petróleo e gás da região do pré-sal, que vai de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, a Florianópolis, em Santa Catarina.

A maior parte dessa dinheirama escoa­rá para a enorme cadeia de fornecedores da Petrobras, um conjunto de 5 535 empresas que prestam serviços ou constroem equipamentos para a exploração de petróleo.

Diante dessa cifra, fica a impressão de que esses fornecedores vivem uma espécie de era de ouro. Mas a realidade é bastante diferente: embaixo da espuma criada pelos anúncios da Petrobras, há um número enorme de empresas com muita ambição, mas pouco dinheiro.

“A grande dúvida dos fornecedores é: onde vamos levantar o capital necessário para investir?”, diz Ricardo Korpes, vice-presidente da Jaraguá, que faz projetos de construção de refinarias e fatura meio bilhão de reais.

Korpes está falando de um velho problema brasileiro — a falta de fontes de dinheiro (fontes privadas, bem entendido). Felizmente, um personagem típico do novo capitalismo que viceja no país está se apresentando para suprir parte dessa demanda por recursos: os fundos de private equity.

Para eles, os problemas da cadeia de fornecedores da Petrobras são uma oportunidade única de ganhar dinheiro. Esses fundos levantam recursos com grandes investidores para comprar participações ou o controle de empresas.

E nunca foram tão importantes no Brasil quanto hoje. Somente em junho, foram fechados os três maiores fundos da história do país. Vinci Part­ners, BTG Pactual e Gávea levantaram 4,8 bilhões de dólares para investir no país­. Em meio a essa euforia, começam a surgir também fundos especializados na cadeia do petróleo.

Um exemplo desse movimento é a ges­tora de recursos Mare Investimentos, de Rodolfo Landim, ex-presidente da petrolífera OGX, e de outros três sócios — Demian Fiocca (ex-presidente do BNDES e da Nossa Caixa), Nelson Guitti (ex-diretor da mineradora MMX) e Claudio Coutinho (ex-diretor do banco BBM).

O quarteto de executivos anunciou no começo deste ano uma parceria com o banco Santander para lançar dois fundos de 2 bilhões de reais que aplicarão em projetos ligados ao setor de infraestrutura e de óleo e gás.


“Queremos assumir o controle de empresas de logística e serviços, profissionalizar a gestão e ser um consolidador da cadeia, que ainda é muito fragmentada”, diz Landim, ex-braço direito e atual inimigo do empresário Eike Batista, controlador da OGX.

Além da Mare, gestoras como a Plural Capital, formada por ex-sócios do Pactual, a GPS e a Cultinvest estão levantando fundos para investir nos fornecedores da Petrobras. No total, pretendem captar mais de 4 bilhões de dólares.

Obstáculo

Há, à frente de investidores como esses, um problema. Dos 5 535 fornecedores da Petrobras, 65% são empresas de pequeno porte, com faturamento abaixo de 25 milhões de reais. Garimpar aquelas com potencial de retorno será a parte mais difícil da empreitada.

“A maioria não tem gestão profissionalizada e possui um único contrato com a Petrobras, o que aumenta os riscos do negócio”, diz Marco Antônio Serra, sócio da GPS, que montou um fundo voltado para o setor em 2007 e só fez seu primeiro investimento no fim do ano passado.

Na lista da Plural, que lançará em setembro um fundo de private equity de 500 milhões de reais, somente 200 empresas — ou 4% da cadeia — têm potencial para receber investimentos.

“Somos seletivos porque queremos companhias que terão condições de abrir o capital e atrair a atenção do mercado”, diz Humberto Tupinambá, coordenador da área de óleo e gás da gestora. 

Existem razões concretas para essa preocupação. Até hoje, apenas grandes empresas do setor fizeram ofertas de ações na Bovespa. A OGX levantou 6,7 bilhões de reais em 2008. A HRT, que pretende explorar petróleo na Namíbia e na Amazônia, obteve 2,4 bilhões de reais em 2010.

Operações menores têm mais dificuldades. Em fevereiro, a Enesa Participações, empresa nacional do setor de engenharia, registrou na Comissão de Valores Mobiliários o pedido de oferta de ações.

Um dos acionistas vendedores é o fundo de investimento do banco Modal, que aplicou 90 milhões de reais na Enesa. Passados seis meses, ainda não se sabe se a oferta irá ou não adiante.

Os gestores dos novos fundos do setor afirmam que conseguirão driblar os problemas — mais uma promessa ligada aos investimentos do pré-sal.

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