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Na GM, muito carro para quase nada

A GM foi a montadora que mais lançou carros no Brasil em 2012. E também foi a que mais perdeu mercado. O que a impede de crescer como as concorrentes?

Lançamento em Detroit: a GM corre para atualizar produtos  (Stan Honda/AFP Photo)

Lançamento em Detroit: a GM corre para atualizar produtos (Stan Honda/AFP Photo)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - A venda de carros no Brasil foi um fenômeno em 2012. Enquanto o PIB cresceu por volta de 1%, o número de veículos vendidos avançou 6% e somou 3,6 milhões de unidades. É um recorde histórico. Quase todo mundo aproveitou o momento, impulsionado pelo corte de impostos para o setor. As líderes Fiat e Volkswagen cresceram 10% e 9%, respectivamente. A Nissan cresceu 56%; a Renault, 24%; a Toyota, 14%.

Com tantas empresas ganhando terreno, na ponta oposta estava uma das companhias mais tradicionais do setor: a americana General Motors. Apesar de ter sido a montadora que mais lançou carros, com nove modelos em 15 meses, as vendas da GM cresceram 1,7% em 2012. Nos últimos dois anos, a empresa acumula 2,3 pontos percentuais de queda em sua participação de mercado. Num setor em que as montadoras brigam por cada décimo, é um número ruim. 

O que está acontecendo com a GM? Os problemas da montadora americana no Brasil começam na falta de continuidade na gestão. Os atuais presidentes de Fiat e Volkswagen estão nos cargos há mais de sete anos. Nos últimos cinco anos, três executivos passaram pela presidência da GM. As trocas aconteceram pelos mais variados motivos. O colombiano Jaime Ardila, que assumiu em 2007, ficou por dois anos no cargo antes de ser promovido para o comando da América do Sul e dar lugar à americana Denise Johnson.

A executiva foi encarregada de renovar a linha de produtos, mas ficou apenas seis meses no Brasil antes de sair alegando problemas pessoais. Grace Lieblein, ex-presidente no México, chegou também com a missão de renovar a linha em 2011. Um ano e meio depois, foi promovida a vice-presidente global de compras. Desde dezembro, Ardila está de volta, acumulando a presidência do Brasil com a da América do Sul.

Poderia ser o início de uma fase de estabilidade. Mas nos últimos meses ele precisou se ausentar com frequência do cargo para um tratamento médico, já finalizado. Embora a empresa oficialmente afirme que não há previsão para o anúncio de um novo presidente, a expectativa é que Ardila deixe o cargo até junho.

Os brasileiros Isela Constantini, que preside a GM na Argentina, e Sérgio Rocha, que comanda a subsidiária na Coreia do Sul, são os mais cotados para substituí-lo (nenhum executivo da empresa concedeu entrevista). “A falta de continuidade de gestão dificulta uma arrancada, principalmente no momento em que os concorrentes estão se multiplicando”, afirma Valdner Papa, diretor da Consult Motor, consultoria especializada na indústria automotiva. Há dez anos, havia 15 montadoras no Brasil. Hoje, são 43 no total.

Lançamentos

A matriz também tem atrapalhado. Desde que assumiu a presidência da empresa, em 2010, o americano Dan Akerson iniciou uma ampla política de austeridade. Fechou fábricas ao redor do mundo e selecionou alguns países, como Estados Unidos e China, como prioridade no cronograma de lançamentos. O Brasil ficou em segundo plano.


Modelos tradicionais, como Astra e Vectra, ficaram sem mudanças significativas por mais de dez anos antes de ser substituídos no ano passado. Agora, a GM corre contra o tempo. Nos últimos 15 meses, lançou nove modelos — no mesmo período, Fiat, Volkswagen e Ford não passaram de três lançamentos cada uma. Em março, o novo Prisma chega ao mercado. Mas a pressa trouxe problemas: faltaram peças para modelos como o compacto Cruze e o sedã Cobalt na unidade de São Caetano do Sul.

“No fim do ano passado, a fábrica não funcionou alguns dias por falta de peças”, diz o vice-presidente do sindicato de São Caetano, Francisco Nunes. A produção do compacto Onix, carro mais vendido da GM em janeiro — e quinto carro mais vendido do país —, também vem enfrentando dificuldades.

Cerca de 10 000 unidades são produzidas por mês, quando o previsto eram 14 000. O principal problema é o tempo necessário para adaptar as linhas de produção à sequência de lançamentos. Segundo a GM, as alterações nas linhas de montagem para receber os novos produtos fizeram com que 40 000 carros deixassem de ser produzidos no ano passado. “Foram muitos produtos em pouco tempo”, diz o consultor automotivo Francisco Satkunas.

Apesar dos inúmeros desafios à frente, a GM entra 2013 com alguns motivos para otimismo. Em fevereiro, a matriz anunciou que a operação na América do Sul teve uma geração de caixa de 300 milhões de dólares em 2012 — mesmo com as vendas praticamente estagnadas no Brasil, que responde por 65% das receitas da região. A empresa anunciou recentemente a criação do terceiro turno na fábrica de Gravataí, no Rio Grande do Sul, e a inauguração da fábrica de motores de Joinville, em Santa Catarina.

Outro problema histórico pode ser resolvido. Há seis meses, a companhia negocia o fim da linha de montagem de veículos na fábrica de São José dos Campos. Lá, o salário médio é 4 700 reais — no ABC paulista, é 2 700 reais. Em 26 de março, será decidido se a área de produção de carros fecha de vez. A empresa prevê que os resultados da nova linha de veículos comecem a aparecer neste ano.

De fato, a participação de mercado da empresa em janeiro foi de 19,6% (ante 18,8% em 2012). Não chega a ser suficiente para que a GM volte à briga pela liderança. Mas é um sinal de que, após passar 15 meses lançando carros, talvez tenha chegado a hora de vender.

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