Revista Exame

Caetano Veloso se emociona em novo documentário

Em documentário que estreia em setembro no Festival de Veneza, Caetano Veloso relembra os 54 dias de prisão no final dos anos 1960

 (Divulgação/Divulgação)

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Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 13 de agosto de 2020 às 05h00.

No final de 1968, 14 dias após o decreto do ­AI-5, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram levados da casa deles por agentes federais à paisana e ficaram presos sem nunca ouvir uma acusação formal para a detenção. Quando saíram, tiveram de se exilar na Inglaterra. Ao todo, Caetano ficou 54 dias preso. Mais de meio século depois, o cantor relembra o doloroso episódio no documentário Narciso em Férias, selecionado para estrear no Festival de Veneza, em setembro, primeira mostra de cinema a acontecer de modo presencial desde o início da pandemia. A ideia do projeto partiu do próprio cantor. “A gente sentiu que era uma necessidade dele de falar desse período. O cenário político ­atual agravou essa urgência”, diz Ricardo Calil, um dos diretores do ­documentário. O filme foi gravado poucos dias antes das eleições de 2018, em um único dia, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. A locação, com uma grande parede de concreto exposto, remete à dureza do cárcere. As cerca de 5 horas de conversa foram reduzidas a 1h20 no filme. ­CASUAL conversou com os diretores do filme, Renato Terra e Ricardo Calil.

Por que o filme traz apenas Caetano em frente à câmera?
Ricardo Calil ­— Percebemos que a gente perderia muito inserindo imagens de arquivo do período da ditadura e entrevistas com outros artistas. O episódio da prisão é um tema tão árido por si só que não caberia mais nenhum ornamento. O foco do filme é a prisão e a expe­riência de ouvir Caetano contando. Mas ele também canta algumas músicas, dele e de outros, que remetem àqueles tempos.

Como foi a experiência de filmar com ele?
RENATO TERRA — Caetano é um gênio. Conta as coisas de um jeito só dele. Em um momento, ele se emocionou muito e tivemos de parar por 10 minutos. É importante registrar isso. Em um documentário, quando acontece algo naquela entrevista e a câmera capta, é cinema. E ele sentado e falando já basta. Todo ele fala. Os gestos, as expressões, os silêncios. Alternamos entre planos abertos e planos fechados para criar uma experiência no espectador: ele vai sentir angústia, tédio, medo e até humor, conforme a história se desenvolver.

Como esperam que o filme seja recebido?
RENATO TERRA — Os espectadores verão um Caetano falando de um jeito que ele nunca falou. Em nenhum momento ele se coloca como herói. Ele apenas conta sua história. Não é um filme panfletário, mas certamente é um filme político. Esperamos que ele traga um debate elevado, que é o que está faltando hoje. As pessoas estão se deixando levar por medos e instintos. Queremos que haja uma discussão madura sobre autoritarismo e que se reflita sobre o Brasil atual.



SÉRIE

Em busca da verdade

Série documental da HBO conta a história da jornalista investigativa Michelle McNamara, obcecada por crimes violentos não solucionados | Guilherme Dearo

Divulgação (Getty Images)

Em 2018, um homem de 72 anos foi preso nos Estados Unidos por crimes cometidos nos anos 1970 e 1980. Joseph DeAngelo era um serial killer. O “Assassino de Golden State”, contudo, teria morrido sem prestar contas à Justiça não fosse pelos esforços da jornalista Michelle McNamara, que ajudou a polícia na investigação com pistas inéditas. Fascinada por histórias de crimes não solucionados (quando criança, sua vizinha foi morta em circunstâncias misteriosas), a jornalista dedicou a carreira ao blog True Crime Diary e a contar a história de DeAngelo. Morta de forma repentina em 2016, aos 46 anos, seu livro póstumo Eu Terei Sumido na Escuridão virou best-seller do The New York Times e, agora, ganha série documental na HBO. Em seis episódios, o seriado traz imagens de arquivo para narrar as investigações que levaram à prisão de DeAngelo e conta com gravações antigas de McNamara e depoimentos emocionados de sua família, como o do ator e comediante Patton Oswalt, seu marido. Liz Garbus, indicada ao Oscar pelo documentário sobre Nina Simone, assina a direção.

Eu Terei Sumido na Escuridão | De Liz Garbus |Todos os episódios disponíveis na HBO Go

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