Marissa Mayer, presidente do Yahoo!: somando salário, bônus e ações, a executiva pode receber até 100 milhões de dólares nos próximos cinco anos (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2012 às 09h31.
São Paulo - Dar uma “googada”, em português, to google, em inglês, googlen, em alemão, googlear, em espanhol... O fato de a palavra “google” ter se transformado em sinônimo de pesquisar na internet em vários idiomas é o melhor parâmetro de sua influência. De cada dez usuários da web no mundo, oito entram nos sites da empresa, que parece imune até mesmo à atual crise econômica.
De acordo com os resultados do segundo trimestre divulgados em julho, o Google teve um lucro por ação de 10,12 dólares, mais que os 8,74 dólares de um ano atrás. Por tudo isso, dá para entender por que o ambiente na empresa exala influência, poder e fartura.
Dá para entender também por que o Google se transformou, ao longo dos anos, no sonho de consumo de nove entre dez engenheiros de computação e programadores. Quem chegou até o Google não quer sair de lá — os funcionários podem dedicar 20% do tempo de trabalho a projetos pessoais.
Ou quer? Foi nessa atmosfera aparentemente quase perfeita que a executiva Marissa Mayer, a musa dos nerds, fez uma formidável carreira. Mas, a partir de agora, sua vida vai ser bem diferente. Ao deixar a vice-presidência de produtos do Google, em julho, para aceitar o posto de presidente do Yahoo!, Marissa não poderá mais se dar ao luxo de inovar como hobby.
O que se espera dela, a sexta pessoa a passar pela presidência do Yahoo! em cinco anos, são tiros certeiros, capazes de resgatar a empresa do buraco em que se afundou na última década — uma tarefa com ares de missão impossível. A agonia do Yahoo! ficou evidente depois que o Google abriu o capital, em 2004.
Desde então, seu valor de mercado caiu mais de 60%, enquanto o do rival foi multiplicado por 4. A empresa não chega a dar prejuízo, mas sua receita — equivalente a menos de 15% do faturamento do Google — cai há três anos consecutivos.
Embora seus sites ainda detenham a quarta maior audiência da internet global, o Yahoo! tem penado ano após ano para transformar cliques em resultado financeiro. O grupo, que por anos dominou o ranking americano de vendas de anúncios em sites, perdeu a liderança em 2011.
Por trás do desempenho cada vez menos relevante do Yahoo!, estão apostas malfeitas após o estouro da bolha da internet em 2001, quando 90% de seu valor em bolsa foi pelo ralo. Em 2005, a empresa gastou 35 milhões de dólares comprando o site de compartilhamento de fotos Flickr, que não tardaria a ser superado pelas ferramentas de troca de imagens das redes sociais.
Tentou concorrer com o Twitter, mas nunca conseguiu fazer seus lançamentos se tornarem virais. Com o tempo, passou a apontar seus canhões para a produção de conteúdo, na tentativa de ser reconhecida como uma empresa de mídia, uma estratégia mais cara e menos eficiente que a dos concorrentes, focados nas redes sociais e preocupados em se adaptar ao uso crescente da internet pelo celular.
Não bastassem tantas furadas, a direção do Yahoo! conseguiu dar mais uma: perdeu a chance de vender a empresa à Microsoft, em 2008, por 45 bilhões de dólares (o Yahoo! terminou aquele ano valendo um terço da oferta).
No fim de 2011, o desânimo era tão grande que integrantes de seu conselho batiam à porta de fundos de private equity, como TPG, Providence e Silver Lake, em busca de compradores. Ninguém se interessou. “A verdade é que os investidores perderam a fé no futuro do Yahoo!”, diz Rob Enderle, analista de tecnologia do Vale do Silício.
Trazer uma das principais executivas da maior empresa de internet soa como uma cartada final do Yahoo! para evitar o caminho do fracasso seguido por vários outros ícones da era digital. O portal AOL, que parecia predestinado a dominar a web na época anterior ao estouro da bolha, alterna pequenos lucros com imensos prejuízos há anos.
A rede social MySpace — que, nos tempos áureos, chegou a ter mais usuários que o Google nos Estados Unidos — foi vendida no ano passado por 35 milhões de dólares, menos de um décimo do que custou ao magnata da comunicação Rupert Murdoch em 2005.
Algumas empresas não conseguiram nem ficar de pé. Foi o caso do Netscape, navegador da web dominante no início dos anos 90, que perdeu a batalha contra o Internet Explorer, embutido de graça pela Microsoft no pacote Windows desde 1995.
Saída de um concorrente mais do que bem-sucedido, onde liderou projetos avassaladores, como o Gmail e o Google Maps, Marissa deu novo ânimo aos funcionários do Yahoo! A contar pelos primeiros sinais, ela parece ter clareza do que deve ser feito. “Precisamos nos tornar relevantes para o dia a dia dos consumidores”, afirmou em entrevista ao jornal britânico Financial Times.
Só não explicou como. A executiva — que substituiu Scott Thompson, aquele que mentiu sobre sua formação acadêmica — prometeu detalhar sua estratégia de resgate apenas depois de dar um mergulho profundo em cada negócio da empresa. Os investidores rezam para que essa primeira fase termine logo.
Marissa inspira confiança, mas, para salvar o Yahoo!, os analistas esperam muito mais do que isso. Ela terá de ser a primeira executiva a conseguir tirar uma empresa de internet do corredor da morte.