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As empresas lucram mais, mas perdem valor na bolsa

Entre as cinco empresas que mais perderam valor de mercado em 2013, três são bancos — justamente no período em que apresentaram ganho recorde. Como explicar esse paradoxo?


	Agência do Bradesco: em um ano, perda de 26 bilhões de reais em valor de mercado
 (Germano Lüders/EXAME)

Agência do Bradesco: em um ano, perda de 26 bilhões de reais em valor de mercado (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2014 às 17h10.

São Paulo - Nas últimas semanas, os maiores bancos brasileiros divulgaram seu balanço de 2013 exibindo números expressivos. O Banco do Brasil, o maior por ativos, obteve lucro líquido de 15,8 bilhões de reais, o maior da história de uma instituição financeira no país.

O Itaú Unibanco, líder entre os bancos privados, veio logo em seguida, com lucro de 15,7 bilhões de reais. Completando a safra de bons resultados, o Bradesco anunciou lucro de 12 bilhões, superando o próprio recorde. Os números no balanço contrastam com o desempenho das ações desses mesmos bancos na Bovespa.

Nos últimos 12 meses, o valor de mercado dos três maiores bancos teve uma queda conjunta de 69 bilhões de reais. Nesse período, essas instituições só não perderam mais valor do que Petrobras e Vale. Os dados são de um levantamento preliminar da consultoria Economatica para a edição de MELHORES E MAIORES, principal radiografia da economia brasileira, que EXAME publicará em junho.

O fraco desempenho do país é apontado como uma das causas da desvalorização não apenas dos bancos mas também das principais ações negociadas na Bovespa.

“A condição macroeconômica gera incerteza para o investidor estrangeiro e provoca uma saída de capitais da bolsa”, diz Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú. “Nesse cenário, as mais afetadas são as ações das grandes empresas, que têm maior liquidez.”

Além do pessimismo com a economia, outros fatores particulares pressionam os bancos. Um deles é a incerteza em relação ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o índice de correção das cadernetas de poupança atingidas pelos planos econômicos das décadas de 80 e 90.

Se o STF decidir em favor dos poupadores, os bancos terão de pagar a diferença de correção, mas ninguém parece ter a menor ideia do valor a ser desembolsado. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor calcula a conta em 8,4 bilhões de reais, enquanto para a Febraban, a federação dos bancos, ela pode chegar a 340 bilhões.

Essa dúvida deixa os investidores cautelosos. Outro fator que contribuiu para a queda das ações é a avaliação do mercado de que os bons resultados dos bancos não decorreram da expansão dos negócios. “Na percepção dos investidores, o lucro veio mais por medidas que reduzem riscos e seguram custos do que pelo aumento da receita”, afirma Victor Martins, analista da corretora Planner.

A desconfiança dos investidores, diga-se, não atinge somente os bancos. A Petrobras, que hoje vale 64 bilhões de reais menos do que há um ano, sofre com a ingerência do governo e com o alto endividamento. A mineradora Vale, cujo valor de mercado caiu 35 bilhões de reais em um ano, viu seu lucro minguar em 2013 depois de renegociar dívidas tributárias com o governo.

A queda de preço do minério de ferro — em um único dia de março, a cotação caiu 8% — também contribuiu para depreciar as ações da Vale. A empresa, no entanto, aposta na recuperação. A previsão é que a China, seu principal mercado, aumente a produção de aço para 815 milhões de toneladas em 2014, um acréscimo de 36 milhões de toneladas em relação a 2013.

“A diferença é significativa. É o que o Brasil produz em um ano”, diz Luciano Siani, diretor de finanças da Vale. Para ele, o atual descolamento entre o comportamento das ações e o resultado da companhia não deve perdurar. “Uma empresa como a Vale, que paga 6% de dividendos aos acionistas, não pode ficar nessa situação por muito tempo”, afirma Siani. É esperar para ver.

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