Revista Exame

Mais diversidade sem esquecer a integridade

A concessionária EcoRodovias aposta em um processo mais inclusivo de seleção de pessoas e adota novos controles para prevenir os desvios de conduta

Marcello Guidotti, CEO da EcoRodovias (ECOR4) (Leandro Fonseca/Exame)

Marcello Guidotti, CEO da EcoRodovias (ECOR4) (Leandro Fonseca/Exame)

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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 05h14.

Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 16h15.

No grupo EcoRodovias, concessionária que administra rodovias como o Sistema Anchieta-Imigrantes e o Corredor Ayrton Senna-Carvalho Pinto, em São Paulo, a diversidade da força de trabalho vem ganhando relevância desde que a empresa constituiu um comitê -para tratar do tema, há dois anos.

Em 2018, as concessionárias paulistas da EcoRodovias receberam 12 funcionários com hábitos e culturas bem diferentes: são refugiados e imigrantes de Síria, Egito, Iraque, Iêmen, Marrocos e Venezuela que passaram a compor a força de trabalho. Outros três funcionários transgêneros foram contratados para trabalhar em praças de pedágio, demonstrando que os processos seletivos vêm sendo pautados por um foco mais inclusivo.

“Muitos dos indivíduos que imigraram e estão em situação de vulnerabilidade social eram ótimos profissionais em seu país de origem. Trazem talentos, vivências e experiências que enriquecem a empresa”, diz Marcello Guidotti, diretor financeiro e de relações com investidores da EcoRodovias. O processo de recrutamento desses profissionais é feito em parceria com organizações que apoiam tanto refugiados quanto transgêneros em sua inserção no mercado de trabalho, e o acolhimento na empresa inclui treinamentos, aulas de língua portuguesa e a criação de ambientes para que os muçulmanos possam fazer suas orações.

A criação do comitê de diversidade faz parte de um processo de reestruturação da área de governança corporativa, que abrange também a gestão de riscos e compliance. Investigada pela Operação Integração, uma fase da Lava-Jato que apurou irregularidades na concessão de rodovias, a EcoRodovias fechou um acordo de leniência com o Ministério Público do Estado que prevê a recuperação de 400 milhões de reais até 2021. O caso levou a companhia a adotar diversos novos controles e iniciativas de prevenção. Os 3 742 empregados diretos foram treinados nas políticas anticorrupção da empresa, e 197 organizações e terceiros foram sensibilizados para o tema. Foi criado um canal de denúncias, operado por uma empresa independente.

Para Guidotti, a Operação Lava-Jato mostrou falhas na governança. “Estamos buscando entender como nascem esses riscos, já que um episódio de corrupção afeta a companhia como um todo”, diz Guidotti. Com 11 contratos de concessão, a melhor forma de blindar a empresa de irregularidades é por meio de um rígido controle das práticas corporativas.


PREPARANDO-SE PARA A ERA DAS RODOVIAS INTELIGENTES

O grupo CCR investe na geração de energia fotovoltaica para suprir as praças de pedágio e complementar a iluminação das estradas. Outras inovações estão por vir  | Andrea Vialli

Rodovias com pavimentos inteligentes que, munidos de células fotovoltaicas, retroalimentam carros elétricos. Turbinas eólicas verticais instaladas em corredores de grande fluxo que geram energia a partir do vento do deslocamento de veículos. Postos de recarga elétrica nas praças de pedágio.

Parecem ideias distantes, mas essas tecnologias já são comercialmente viáveis e estão no radar da CCR EngelogTec, o centro de desenvolvimento do Grupo CCR que gerencia os processos de tecnologia e automação.

Enquanto as inovações mais disruptivas não chegam, a EngelogTec desenvolveu uma solução para gerar energia solar e ser utilizada em praças de pedágio e equipamentos operacionais de rodovias sob responsabilidade das concessionárias do grupo. Na ViaRio, que opera a Via Expressa Transolímpica, no Rio de Janeiro, foram instaladas 288 placas fotovoltaicas em 720 metros quadrados dos telhados de duas praças de pedágio, as quais permitirão a redução de 100% da energia consumida nesses locais.

Outra concessionária do grupo, a ViaSul, que venceu uma licitação para operar um trecho de 473 quilômetros da Rodovia de Integração do Sul, no Rio Grande do Sul, vai instalar 6.900 placas fotovoltaicas ao longo da estrada.

A energia gerada será transferida para a rede de energia elétrica. Para o Rodoanel Oeste, em São Paulo, estão previstos 12.000 metros quadrados de painéis, que fornecerão energia para oito bases e praças de pedágio. “Muitos dos novos contratos de concessão preveem a iluminação de túneis, passarelas e marginais. Gerar a própria energia 100% renovável é uma forma de viabilizar a operação e reduzir emissões de gases de efeito estufa”, diz André Costa, diretor da EngelogTec.

Enquanto investe em tecnologia para reduzir o impacto de suas operações, o Grupo CCR trabalha para colocar a casa em ordem. Alvo da Operação Lava-Jato, o grupo constituiu um comitê independente de investigação, que deu origem a uma vice-presidência de compliance, a cargo de Pedro Sutter, profissional com reconhecida experiência em governança corporativa. A área está desenvolvendo novos processos de conformidade, de modo a dar mais transparência e rastreabilidade aos processos decisórios.

Em março deste ano, a CCR Rodonorte assinou com o Ministério Público Federal um acordo de leniência que estipula o pagamento de uma multa de 35 milhões de reais, prevista na Lei de Improbidade, além de 350 milhões de reais a título de redução do valor da tarifa de pedágio em 30% por 12 meses, pelo menos. Outro acordo de leniência havia sido firmado em 2018 com o Ministério Público de São Paulo.


OLHOS ATENTOS CONTRA A EXPLORAÇÃO SEXUAL DOS MENORES

A concessionária triunfo Transbrasiliana treina seus funcionários para combater os riscos de abuso de crianças e adolescentes nas estradas | Andrea Vialli

Importante corredor de escoamento de mercadorias e de interligação com rodovias estaduais, o trecho paulista da BR-153, que faz a ligação entre Minas Gerais, São Paulo e Paraná, é administrado pela Triunfo Transbrasiliana, concessionária responsável por 321 quilômetros de estrada que recebem um tráfego anual de mais de 27 milhões de veículos.

Como outras rodovias brasileiras, a BR-153 está exposta aos riscos de exploração sexual de crianças e adolescentes em seu curso, e isso motivou a empresa a criar, há dois anos, o Projeto Agentes de Proteção, que capacita a força de trabalho para identificar problemas e enfrentar a questão. A ação faz parte do pacto empresarial contra a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas, firmado com a organização Childhood Brasil e outras companhias do segmento.

Uma frota de sete veículos de inspeção roda os trechos da rodovia 24 horas por dia, sete dias da semana, com agentes treinados para reconhecer situações em que possa haver riscos de violação de direitos da infância. “Eles conhecem cada metro da rodovia e identificam anormalidades. Quando necessário, temos o suporte da Polícia Rodoviária Federal”, diz Marcos Pereira, presidente da Triunfo Transbrasiliana.

No dia a dia, a empresa utiliza uma metodologia participativa, informativa e diálogos para formação dos profissionais de todas as áreas para identificar situações que exijam atenção. “O ponto de partida é esclarecer que situações de abuso sexual de crianças e jovens não são situações normais do cotidiano das estradas”, afirma Pereira.

Ações ambientais também fazem parte da estratégia da empresa de gerar impactos positivos para as comunidades lindeiras. No município paulista de Lins, onde fica a sede, a Triunfo Transbrasiliana desenvolveu um projeto de educação ambiental com foco na proteção das nascentes. Com aulas ao ar livre no Horto Florestal de Lins, alunos da rede municipal de ensino contam com atividades lúdicas que ensinam sobre o ciclo da água e como evitar o desperdício.

Ao longo do último ano, 1 200 alunos participaram da iniciativa, que é realizada em parceria com as secretarias de Educação e de Sustentabilidade de Lins e com a concessionária de energia AES Tietê. Outro benefício do programa foi o engajamento dos parceiros na recuperação de três nascentes de água que estavam em processo de degradação. “Buscamos mobilizar parceiros e desenvolver iniciativas de baixo custo e alto impacto que façam sentido para as comunidades”, diz Pricilla Ratto, gerente de comunicação e sustentabilidade da Triunfo Transbrasiliana.

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