Melhores e Maiores 2019: maiores em finanças
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 05h04.
Última atualização em 29 de agosto de 2019 às 14h34.
Impulsionados pelo aumento da carteira de crédito e pela redução de despesas, os cinco maiores bancos do país lucraram 18 bilhões de dólares em 2018, uma alta de quase 5% em relação ao ano anterior. E esperam repetir os bons números neste ano | Deborah Oliveira
O cenário econômico complicado não foi obstáculo para o crescimento recente dos lucros das cinco maiores instituições financeiras do país. Em 2018, o Itaú, o Bradesco, o Banco do Brasil, o Santander e a Caixa Econômica Federal tiveram, juntos, um lucro ajustado (lucro líquido depois de apurados os efeitos da inflação) conjunto de 18,2 bilhões de dólares. O valor é 4,8% superior ao que foi registrado em 2017. A retomada de crédito, a queda nas provisões para cobrir eventuais perdas com devedores, a redução nas despesas de captação e a elevação das receitas com tarifas e serviços foram alguns dos pontos que favoreceram os resultados.
O Itaú fechou o ano com um lucro ajustado de quase 5,5 bilhões de dólares, um ligeiro recuo de 2% em relação a 2017. Ainda assim, manteve a liderança no ranking por esse critério. “Em 2018, observamos a retomada da concessão de crédito, com o aumento da demanda de pessoas físicas e das micro, pequenas e médias empresas, resultando em aumentos de 10,3% e 14,4% nessas carteiras, respectivamente”, diz Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco. Já o Bradesco obteve um lucro ajustado de quase 5 bilhões de dólares, 25% mais do que no ano anterior. Contribuíram para esse avanço o crescimento de 7,8% da carteira de crédito, a redução da inadimplência e a menor despesa com perdas de devedores. “Outro importante indutor foi a consolidação da incorporação do HSBC, que permitiu o aumento de escala das operações no ano passado”, afirma Octavio de Lazari, presidente do Bradesco. O Santander registrou um lucro ajustado de 2,8 bilhões de dólares em 2018, um crescimento expressivo de 49% em relação ao ano anterior. O resultado deixou o presidente do Santander, -Sérgio Rial, satisfeito. “Apesar do ambiente mais competitivo, o crescimento de nossa carteira de crédito e de nossas receitas tem se mostrado superior ao da média do sistema financeiro, aumentando nossa participação de mercado de forma rentável”, diz Rial.
Um ponto de destaque entre os maiores bancos é o avanço dos negócios digitais. No Bradesco, houve no ano passado um crescimento superior a 20% no crédito oferecido pelos novos canais. Neste ano, a instituição pretende alcançar 1,5 milhão de clientes no Next, o banco 100% digital lançado em 2017. O Itaú, por sua vez, superou a marca de 11 milhões de correntistas pessoa física que utilizam os canais digitais via internet ou aplicativos móveis. “O modelo das agências digitais cresceu rapidamente para atender uma parcela considerável dos clientes que já eram mais digitalizados e demandavam um modelo de atendimento diferente”, diz Bracher. O Banco do Brasil também tem avançado nessa área, com investimentos na personalização do atendimento. “Os nativos digitais, aqueles que iniciaram o relacionamento conosco por meio de ferramentas digitais, já chegam a 2,9 milhões de pessoas”, diz Marcelo Labuto, vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil.
Os dirigentes dos maiores bancos esperam repetir neste ano o bom desempenho do ano passado. O Bradesco prevê uma expansão de 9% a 13% em sua carteira de crédito. “Estamos otimistas. Mesmo tendo reduzido no ano passado as despesas para prevenir calotes, ainda temos um excesso de provisões para perda com crédito, e isso nos dá conforto para qualquer solavanco na economia”, afirma Lazari. A situação não é diferente no Banco do Brasil. “Esperamos manter o bom desempenho de nossa carteira de crédito para pessoa física, assim como em consignado e em imobiliário”, diz Labuto. Apesar do otimismo dos maiores bancos, a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s revisou em julho sua projeção de crescimento do crédito em 2019 para algo entre 6% e 8% — ante a expectativa anterior de 10%. Ainda assim, Rial, do Santander, vê o cenário com bons olhos. “Com a reforma da Previdência, o Brasil sairá fortalecido e mais crente de sua capacidade. Os investimentos virão a seguir.”
O investimento estrangeiro direto no Brasil desacelerou, mas, no geral, as multinacionais conseguiram aumentar a receita por aqui no ano passado | Mateus Graner
No ano passado, o fluxo de investimento estrangeiro direto — aplicado em atividades produtivas, como na construção de fábricas e na aquisição de empresas — atingiu 1,3 trilhão de dólares no mundo, uma queda de 13% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Unctad, órgão das Nações Unidas que promove o comércio global. A redução foi precipitada pela reforma tributária introduzida no fim de 2017 pelo governo de Donald Trump: houve redução de impostos corporativos e estímulo ao repatriamento do capital de multinacionais americanas. A medida também teve impacto no Brasil. Por aqui, o investimento estrangeiro direto somou 61 bilhões de dólares em 2018, com um recuo de 10% em relação a 2017. Mas não foram somente os americanos que diminuíram o investimento no Brasil. Segundo a Unctad, o número de empresas no país compradas por chineses caiu pela metade — foram seis aquisições em 2018.
Apesar desse refluxo, o capital chinês já tem presença importante na elite empresarial do Brasil. Entre as 500 maiores companhias do país, 12 são controladas por chineses e juntas faturaram 14,3 bilhões de dólares em 2018, 5,2% mais do que no ano anterior. As empresas americanas são as que estão em maior número entre as multinacionais na lista das 500 maiores. Juntas, as 39 companhias americanas faturaram 64 bilhões de dólares. No balanço geral, dos 16 principais grupos de empresas por origem do capital, 14 elevaram as vendas em 2018 — apenas as multinacionais inglesas e espanholas tiveram queda na receita conjunta.