Revista Exame

Na Gupy, elevar a barra nas contratações é saída para driblar "inverno das startups"

Mesmo com um dos maiores cheques do venture capital para empresas de RH na América Latina, startup tem mantido ritmo de contratações, evitado demissões e focado na cultura corporativa para crescer

Mariana Dias, CEO da Gupy: investimento nos times e três aquisições em um ano (Leandro Fonseca/Exame)

Mariana Dias, CEO da Gupy: investimento nos times e três aquisições em um ano (Leandro Fonseca/Exame)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.

Num negócio de tecnologia, com praticamente todos os softwares de apoio rodando na nuvem e o time trabalhando em esquema remoto, o ativo mais valioso costuma ser uma força de trabalho motivada a fazer a empresa crescer. Numa companhia de tecnologia para recursos humanos isso é ainda mais relevante.

Como mudar a cultura do cliente sem processos e rotinas azeitados da porta para dentro da empresa? A empreendedora Mariana Dias há muito tempo se debruça a pensar sobre a gestão de pessoas do próprio negócio. Ela é uma das fundadoras da Gupy, uma das principais startups brasileiras focadas nas demandas do RH, as chamadas HRtechs. Na plataforma da Gupy, um gestor de pessoas pode selecionar talentos, avaliar o desempenho de funcionários, criar programas de capacitação profissional, e outras tantas tarefas desse departamento.

Em janeiro de 2022, a Gupy foi a primeira HRtech da América Latina a captar 500 milhões de reais numa rodada liderada por SoftBank e ­Riverwood Capital, duas grifes globais do venture capital.

Um caminho fácil a muitas startups após a assinatura de um cheque desse tamanho é sair contratando em demasia. Com investidores pressionando por resultados, reforçar o time pode trazer um retorno mais rápido do que investir na formação de talentos internos — um exercício de horas e mais horas de treinamento (e cobrança).

Mariana Dias nunca foi muito fã dessa estratégia. A começar pelo fato de ela mesma se envolver diretamente no processo seletivo de pessoas-chave na Gupy. “Entrevistei 100% dos primeiros 100 funcionários da Gupy”, afirma ela.

O recém-chegado passa por um processo intenso de integração cultural à HRtech. O onboarding inclui conversas periódicas com lideranças de diversos times, entre outros rituais. O processo ficou ainda mais reforçado após a inauguração da nova sede da Gupy, em março, num prédio na Avenida Paulista, região central de São Paulo.

O escritório tem os pilares da cultura da empresa escritos em faixas espalhadas em 700 metros quadrados de área, divididos entre baias para trabalho dos funcionários e um coworking para convidados. “Ter um time qualificado nunca foi uma opção, e sim uma obrigação”, afirma Dias.

Nova sede da Gupy, em São Paulo: os pilares do negócio estão espalhados em 700 metros quadrados de escritório (Leandro Fonseca/Exame)

Hoje a HRtech tem cerca de 750 funcionários, e o ponteiro de contratações não mudou muito depois do aporte. Em compensação, no meio de uma onda de demissões em massa em empresas de tecnologia — cada vez mais chamadas pelo termo em inglês layoff (“demissão”) também no Brasil —, a Gupy até agora passou incólume à necessidade de dispensar pessoas.

Para Dias, é consequência da expansão módica dos times desde a fundação da startup, em 2015. “Com times alinhados, sobra pouca ou nenhuma gordura para cortar em layoffs”, afirma ela.

“Quem está em contato com uma comunicação clara e transparente em tempos difíceis se mantém motivado por entender o potencial do negócio e acreditar no propósito dele.”

Como a empresa está usando o investimento

Boa parte dos 500 milhões de reais tem sido aplicada na aquisição de empresas de RH com soluções complementares à da Gupy. Foi o caso de sua principal concorrente, a Kenoby, em fevereiro de 2022, e da Pulses, uma plataforma de gestão de pessoas adquirida em fevereiro deste ano. Antes do aporte, a empresa de Dias já havia comprado a Niduu, startup do Maranhão especialista em educação corporativa.

O fato de ter conseguido colocar de pé uma cultura arraigada entre os funcionários ajudou os fundadores a terem mais tranquilidade para olhar para outros negócios, diz a empreendedora.

A casa em ordem ajudou a empresa a encarar a crise até certo ponto. As ameaças externas, contudo, seguiram. Uma delas foi a quebra do Silicon Valley Bank, em março. Até então, a instituição financeira dos Estados Unidos era queridinha de startups para armazenar recursos recebidos por fundos globais em múltiplas rodadas de investimentos, como foi o caso da Gupy.

Apesar da corrida contra o tempo para sacar o dinheiro de lá, Dias assegura ter acessado todo o capital da Gupy sem prejudicar o fluxo de caixa do negócio. “Saímos mais resilientes dessa crise”, diz.


GUPY

O que faz: plataforma de soluções para o setor de recursos humanos

Como driblou a crise: contratações criteriosas e uso inteligente do capital para aquisições em tempos de bonança

O resultado: três aquisições em um ano e crescimento de 90% no número de clientes e de 58% no número de funcionários entre 2021 e 2022

540 milhões de reais captou a Gupy de investidores como SoftBank Latin America, Oria Capital e Riverwood desde 2020

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