Estádio que deve receber jogo da Copa no Qatar: o brasileiro aprendeu que a experiência cultural vai além das partidas (Corinna Kern/Reuters)
Denyse Godoy
Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 05h29.
Nenhum setor sofreu tanto com a pandemia causada pelo novo coronavírus quanto o de turismo. As viagens internacionais praticamente estancaram, como mostram os indicadores de passageiros transportados pelas companhias aéreas — o número despencou 98%, para 40.000, no pior momento da crise, em abril deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2019 — e os gastos dos brasileiros no exterior, que recuaram 86% no mesmo período, para 203 milhões de reais.
Se está difícil ver uma melhora contundente no curto prazo, já que não se sabe quando a maior parte da população vai estar vacinada e se sentindo segura para viajar novamente, o longo prazo oferece uma perspectiva bastante animadora. Como a Copa do Mundo de Futebol de 2022, no Qatar.
O Grupo Águia, controlador de operadoras de turismo, como a Stella Barros, e parceiro exclusivo da Fifa desde a década de 1960, vai começar a vender os pacotes de hospitalidade (que incluem hospedagem, ingressos ou lugares em camarotes para assistir aos jogos e entradas para as festas oficiais de torcedores) com uma antecedência inédita, apostando no efeito covid-19 sobre o moral e o bolso dos viajantes.
A comercialização está prevista para ter início em fevereiro, cerca de 20 meses antes da abertura dos jogos. Para a Copa América deste ano, por exemplo, a antecedência foi de apenas quatro meses. “Se está difícil planejar a primeira viagem depois da crise, planejar a segunda é possível”, diz Thiago Abrahão, presidente do Grupo Águia.
“A saudade de viajar deve fazer o destino parecer mais perto para o brasileiro, que, graças à Copa de 2014, já entendeu que a experiência dessa viagem vai muito além das partidas. Há uma cultura a descobrir. E nada melhor do que comemorar a volta à normalidade do que juntar os povos numa grande festa.”
A economia forçada que os potenciais interessados na Copa de 2022 fizeram nos últimos meses por causa da quarentena pode deixar o preço do pacote (ainda não definido pelo Grupo Águia) mais palatável. E o parcelamento mensal até o embarque vai ajudar. A Copa do Qatar também deve ser uma grande oportunidade para a operadora se internacionalizar.
“Temos uma experiência de décadas recebendo o turista brasileiro em cada país que já sediou os jogos. Podemos fazer o mesmo com viajantes de outros países”, diz Paulo Castello Branco, diretor de operações do Grupo Águia.
A empresa está negociando com a Fifa para ter exclusividade na venda dos pacotes para outros países do continente, como o Canadá. Conseguindo, prevê atender 10.000 clientes de várias nacionalidades na Copa do Qatar, cinco vezes o contingente dos jogos da Rússia em 2018. Nesse projeto, o grupo está investindo 15 milhões de dólares. “Gastar esse montante neste momento prova quanto acreditamos na empreitada”, diz Abrahão.