Graham Stuart: “Há como reduzir as barreiras comerciais em ambas as direções” (Governo do Reino Unido/Divulgação)
Filipe Serrano
Publicado em 22 de novembro de 2018 às 04h10.
Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 10h26.
Em uma visita recente ao Brasil, o ministro de Investimentos do Reino Unido, Graham Stuart, disse a EXAME que vê com otimismo o futuro das relações comerciais entre seu país e o Brasil no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Segundo ele, os dois países podem continuar cooperando para aumentar o comércio em ambas as direções, reduzindo barreiras. O ministro também faz uma crítica ao protecionismo e diz que é preciso fortalecer a ordem mundial liberal, baseada em regras.
Qual é a expectativa do senhor sobre a relação comercial entre o Reino Unido e o Brasil no governo Bolsonaro?
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, deixou claro, junto com seu futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, que quer liberalizar a economia e torná-la mais atraente para investimentos estrangeiros. Achamos que há um futuro positivo. É possível ajudar o Brasil a fazer sua economia crescer e gerar bons empregos.
O que pode ser feito para fortalecer o comércio?
A relação já é bastante forte. No ano passado, o comércio total de bens e serviços entre os dois países foi de 5 bilhões de libras esterlinas, ou 25 bilhões de reais. Olhando para a frente, podemos trabalhar para buscar a entrada do Brasil na OCDE. E os dois países estão conduzindo um estudo para identificar e reduzir as barreiras comerciais nos dois lados. Do ponto de vista do governo britânico, estamos dispostos a ajudar o Brasil.
De que maneira pretendem ajudar?
No Departamento de Comércio Internacional, temos equipes para auxiliar as empresas brasileiras. Podemos ajudá-las a se instalarem no Reino Unido. Temos um ambiente favorável aos negócios, com os mais baixos impostos corporativos do G20. Queremos ajudar as empresas brasileiras a se tornarem globais.
Pretendem buscar também um acordo comercial?
Com a saída da União Europeia, estamos planejando nossa própria política comercial pela primeira vez em 40 anos. Por enquanto, priorizamos a transposição de tratados existentes entre a União Europeia e demais países. Mas também iniciamos consultas com a Austrália, a Nova Zelândia e os Estados Unidos. Com o Brasil, como disse, há como reduzir as barreiras comerciais em ambas as direções e, quem sabe, fazer um acordo de livre-comércio.
Quais são as diretrizes da nova política comercial britânica?
Acreditamos no livre-comércio. Acreditamos que as barreiras ao comércio e ao investimento têm um efeito negativo sobre a economia. E não acreditamos que desmantelar a ordem mundial liberal baseada em regras vá tornar o mundo mais seguro ou mais próspero, muito pelo contrário. Queremos trabalhar com parceiros para que o modelo seja fortalecido, não enfraquecido.
Como atingir esse objetivo com o aumento do protecionismo?
Tanto o setor empresarial quanto o governo precisam comunicar melhor as virtudes desse sistema. Temos de mostrar às pessoas que, nos últimos 60 ou 70 anos, tivemos o maior progresso da humanidade em toda a história. São tempos estranhos quando forças de esquerda e de direita falam em desmantelar a própria arquitetura que trouxe tanto progresso para tantas pessoas.
É mais uma questão de reformar o sistema atual?
Sim. Renová-lo, revigorá-lo. E comunicar melhor seus benefícios. Protecionismo é uma palavra que soa como proteção aos empregos. Intuitivamente parece benefício, mas, no final, reduz a competitividade e torna o país mais pobre. Os brasileiros são criativos, inovadores, autoconfiantes e capazes. As empresas brasileiras não precisam de proteção do resto do mundo.