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Entre colmeias e vinícolas: a próxima relação entre meles e vinhos

O terroir é tão importante para a produção de mel quanto para a elaboração do vinho

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Luiza Portela
Luiza Portela

Sommelière e apicultora

Publicado em 25 de abril de 2024 às 06h00.

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Começarei esta conversa contando que abelhas, meles, uvas e vinhos têm muito mais em comum do que você imagina. Existem inúmeras espécies de abelhas, assim como os variados tipos de castas de uvas. As abelhas com ferrão são advindas do cruzamento natural entre as europeias e as africanas, e por esse motivo são conhecidas como africanizadas. Sua criação tem como principal finalidade a produção de mel, aquele mel viscoso e com teor de açúcar muito alto, o mais conhecido de todos.

De uns anos para cá, as abelhas sem ferrão, também chamadas de nativas ou indígenas, vêm ocupando um lugar de honra nesse palco.

O Brasil conta com mais de 250 espécies conhecidas de abelhas sem ferrão. Os meles produzidos por elas têm sido cada vez mais valorizados para fins gastronômicos, por apresentar características únicas e ótima acidez. As colmeias delas são um ambiente interessantíssimo: um misto de componentes da natureza que formam a estrutura interna e um pouco da externa.

Quando abrimos as colmeias, notamos imediatamente as pequenas barricas (ou melhor, potes) de mel, que atribuem características ao produto final, assim como no caso dos vinhos. Nesses biomas internos, com qualidades únicas, encontram-se leveduras próprias do local, que contribuirão para o processo de elaboração do mel — de maneira muito semelhante ao processo de vinificação de uvas. Ou seja, uma colmeia se assemelha a uma vinícola, pois o bioma delas influencia diretamente no produto que vamos adquirir, seja o mel, seja o vinho.

É possível relacionar, então, as condições do ambiente na produção do mel com o que chamamos de terroir no mundo dos vinhos. Usamos a palavra “terroir” para denominar os fatores do entorno que influenciam nas características do vinho, como temperatura, clima, altitude, solo, índice de chuvas e práticas de cultivo. Se um vinhedo está plantado junto com colmeias, é muito provável que tanto o vinho quanto o mel daquela região tenham características semelhantes.

No caso do mel, podemos falar em um terroir totalmente natural, já que não há intervenção humana no processo. São as abelhas que fazem tudo: elas possuem enzimas em seu interior que contribuem para a produção do mel, coletam da natureza o própolis, o pólen, as resinas e a celulose, e ainda constroem os potes para armazenar o mel. O apicultor já colhe o mel pronto, diferentemente do vinho, em que a ação humana é essencial durante todo o processo.

Apesar das diferenças entre colmeias e vinícolas, em ambas há um terroir que influencia as características do produto obtido. Os meles são tão diversos quanto os vinhos, para além da floração ou da espécie de uva, e cada um reúne características únicas que fazem todo o sentido naquela safra.

Assim como o vinho, que sofre com as mudanças climáticas, as abelhas estão vivendo em terreno frágil porque também são impactadas por essas transformações. Perdê-las teria diversas consequências não só na elaboração vitivinícola mas em diversas outras produções agrícolas do planeta. Traçar esse paralelo nos permite entender a importância das colmeias e dos vinhos.

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