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Roberto Lima está de cartão novo na Vivo

Lucros em baixa e despesas em alta. Resultado: os acionistas chamaram um executivo de fora para consertar o Credicard. Seu nome é Roberto Lima

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Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2011 às 21h07.

Com o intervalo de apenas um final de semana, a rotina e a carreira do executivo paulistano Roberto Oliveira de Lima mudaram completamente. Até a noite da sexta-feira, 30 de abril, ele deu expediente como vice-presidente da subsidiária brasileira do grupo francês Accor, um dos maiores do mundo nas áreas de serviços de alimentação e hotelaria.</p>

Foi assim durante 17 anos. Na manhã da segunda-feira, 3 de maio, Lima apresentou-se no escritório de Álvaro de Souza, vice-presidente executivo do Citibank para a América Latina. A partir daí, passou a ser o presidente do conselho de administração do grupo Credicard, o maior emissor de cartões de crédito do país.

Naquele mesmo dia, Lima embarcou para a Flórida, nos Estados Unidos, para uma reunião mundial do Citibank, com outros 200 executivos. "Tinha vontade de mudar de cultura, de ambiente e de negócio", diz Lima. "Depois de muito tempo numa mesma organização, o risco de se repetir fica grande."

Lima é uma espécie de estrangeiro no Credicard. Pela primeira vez, um executivo que não saiu dos quadros dos sócios da empresa - o Itaú, o Unibanco e o Citibank - assume a presidência. Desde 1971, ano da criação do Credicard, a gestão dos negócios ficou a cargo de executivos de carreira do Citi.

Há uma lógica por trás da mudança de postura e da chegada de Lima: o Credicard, cujos cartões movimentaram 8 bilhões de dólares em 1998, precisa mudar rápida e radicalmente. Essa transformação começou antes da contratação de Lima.

A empresa foi dividida em três: a Credicard, emissora de cartões, a Redecard, responsável pelo relacionamento com o comércio, e uma processadora de cartões, ainda sem nome definido. "Queremos ser mais eficientes", diz Álvaro de Souza. Com participação de 35% no mercado, o Credicard viu seus resultados declinarem nos últimos dois anos.

Em 1998, uma de suas operações, a de emissão de cartões, fechou com 23 milhões de dólares de prejuízo, para uma receita de 1,74 bilhão. O desastre só não foi completo porque outro braço, a Redecard, constituída como empresa independente em novembro de 1996, teve lucro de 42 milhões de dólares.


De qualquer modo, o saldo positivo das duas atividades, de 19 milhões, é irrisório frente aos 278 milhões de dólares que o grupo rendera aos acionistas em 1996.

A missão de Lima, um especialista nas áreas de finanças, tecnologia e gestão, é revigorar a operação e mudar o jeito de fazer negócios do Credicard. "Ele traz grande experiência no que mais precisamos, em serviços e relacionamento com o consumidor", diz Souza. "Essa escolha nos ajuda a dar uma nova imagem ao Credicard."

Aos 48 anos, Lima era o sucessor natural de Firmin António, o presidente do grupo Accor no Brasil. O problema é que nem ele nem ninguém sabiam ao certo quando a promoção iria acontecer. Firmin está com 53 anos e não tem planos de se aposentar tão cedo.

O convite do Credicard foi a chance de Lima crescer na carreira de uma forma mais rápida. "Perguntei o que ele queria para ficar", diz Firmin. "Mas o Roberto preferiu não negociar."

Mesmo que quisesse, dificilmente o Accor teria bala para segurar Lima. Especialistas do mercado de contratação de executivos estimam que ele tenha deixado o grupo francês por um pacote de 1 milhão de dólares de luvas e possibilidades de ganhar pelo menos 1,5 milhão por ano, somando os salários, bônus e outros benefícios.

Antes de aceitar o convite do Credicard, Lima já havia sido sondado por várias empresas. Segundo um ex-diretor do Accor, um desses convites teria sido para presidir o Mappin, ao tempo em que a rede varejista pertencia à empresária Cosette Alves. "Tive outras oportunidades de sair, inclusive para trabalhar no exterior", diz Lima. "Desta vez, a proposta foi muito interessante. Não pude recusar."

Lima foi escolhido, em parte, porque não tem compromissos com a cultura dos acionistas da empresa, principalmente com a do Citibank. A gestão dos executivos do Citi valeu para os demais sócios até que resultados ruins começassem a aparecer. "A administração do Credicard não vinha sendo brilhante nos últimos tempos", diz um ex-executivo do Citi.


"Na euforia do aumento do consumo após o Plano Real, foi dada muita liberdade para a linha de frente distribuir cartões e oferecer crédito." Quando a situação da economia começou a piorar, revelou-se o reverso dessa política: o crescimento da inadimplência.

Nos balanços da empresa, as provisões para cobrir o risco de calotes passaram de 371 milhões de dólares em 1996 para quase 800 milhões em 1998. As despesas administrativas dispararam até atingir um valor quase igual ao da receita no ano passado (veja a tabela da página 50).

Até meados de abril deste ano, o Credicard tinha como presidente executivo Cássio Casseb. Ele ficou no cargo por dois anos, após ter passado quatro na tesouraria do Citi. Antes de Casseb, o Credicard havia sido comandado, também durante dois anos, por Francisco Canepa. Após deixarem o Credicard, tanto Canepa quanto Casseb saíram do Citi. Canepa tornou-se diretor da área de cartões da rede de lojas C&A. Casseb foi contratado para presidir a Taquari, holding da família Steinbruch, sócia da Vicunha e da CSN.

Foi Canepa quem começou a preparar a cisão do Credicard em três empresas. Para redesenhar a empresa, contratou a Andersen Consulting.

No final de 1996, o primeiro passo da reestruturação foi dado com o desmembramento da Redecard, empresa responsável pelo relacionamento da Credicard com comerciantes que aceitam a bandeira Mastercard. Dessa forma, o grupo ficou livre para emitir também cartões com a bandeira Visa.

"O resto do trabalho de cisão deveria ter sido feito em seis meses", diz um ex-executivo do Credicard. "Mas acabou demorando mais dois anos e meio."

Nesse meio tempo, já sob a batuta de Casseb, foram contratadas outras duas consultorias para ajudar na reestruturação: as americanas Speers e A.T. Kearney. O nó da questão era a separação do processamento de cartões, a parte industrial do negócio.


Essa unidade processa os cartões da própria marca e presta serviços a outros emissores. Mas, para crescer na prestação de serviços, esbarra num obstáculo: muitos bancos, especialmente os de grande porte, temem entregar seus cartões aos cuidados da estrutura que serve ao Citi, Unibanco e Itaú.

Resultado: a partir do início da década, com o crescimento do uso de cartões e da entrada de cada vez mais bancos nesse mercado, surgiram empresas independentes para prestar o serviço de processamento. A maior delas, a CSU CardSystem, foi fundada em 1992 por Marcos Ribeiro Leite, um ex-vice-presidente financeiro do Credicard.

Ao final do ano passado, Leite já contava com 39 clientes e faturava 100 milhões de dólares. O Credicard tentou concorrer no mercado independente, abrindo há quatro anos uma empresa chamada Brascard. O negócio não decolou. Pelo mesmo motivo - a vinculação com o Citi, o Itaú e o Unibanco - Ribeiro aposta que a nova processadora que o Credicard está constituindo terá problemas. "Ela nasce com o mesmo pecado original", diz Leite. "Vejo uma troca de pessoas, não uma mudança de essência".

Tentar atenuar o efeito desse estigma é uma das razões da contratação de Lima. "Por ser alguém vindo de fora, ele chega com mais respeito e isso pode ajudar na disputa do mercado", diz um ex-executivo do Citi. Pelo mesmo motivo, a processadora do grupo será presidida por outro profissional selecionado no mercado: Aloisio Wolff, 48 anos, antes responsável pela área de cartões do HSBC Bamerindus.

Por que Lima foi chamado para comandar o Credicard? Segundo executivos que trabalharam com ele, Lima tem o que o mercado considera um perfil completo.


Competência em áreas técnicas, capacidade gerencial, liderança e jeito para motivar os subordinados. "São qualidades difíceis de reunir", diz Sérgio Mattos, 54 anos, diretor da Cestaticket, uma das unidades do Accor.

Mattos, que respondeu a Lima durante seis anos, conta um episódio que, para ele, ilustra essa característica de Lima. Mattos resolveu, após muito tempo, voltar à escola. Há dois anos, concluiu uma pós-graduação na FGV de São Paulo.

Logo depois, Lima convocou uma reunião com ele e toda a sua equipe, para uma suposta pauta de trabalho. "Ele me enganou direitinho. Quando entrei na sala, estavam todos lá, com salgadinhos e bebidas. Era uma homenagem pela minha formatura."

A atenção com seu pessoal faz parte da estratégia de Lima para montar bons times. "É o que mais gosto de fazer", diz. E qual é sua fórmula para formar equipes? "É simples. Você tem de reunir sempre gente melhor que você nas várias áreas.

Se escolher gente com potencial inferior, com o tempo terá uma empresa de anões." Outra habilidade atribuída a Lima é a de conciliador. Sabe usá-la tanto com os subordinados, quanto com seus pares. Na regional paulista do Ibef, o Instituto Brasileiro dos Executivos Financeiros, ele assumiu a presidência em março deste ano como um candidato de consenso.

"O Roberto aglutinou as facções antigas e as novas do Ibef", diz Waldir Correa, ex-presidente do instituto. Lima vai precisar muito dessa habilidade política para lidar também com seus novos patrões - os acionistas do Credicard. Itaú, Unibanco e Citibank são sócios no negócio de cartões, mas concorrentes em outras áreas.

No Accor, Lima fazia a ponte com os acionistas - além da matriz francesa participam do capital da operação brasileira o grupo canadense Brascan e o português Espírito Santo. "Gosto de fazer esse tipo de trabalho." diz ele. "Nos próximos anos vou ter muito com que me divertir."

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