Conferência do clima em Baku, que terminou com acordo modesto e adiou decisões cruciais para Belém (Leandro Fonseca/Exame)
Editora ESG
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.
Os relógios em Baku, no Azerbaijão, marcavam 5h31 do domingo, 24 de novembro, quando, sob um céu ainda escuro, a COP29 chegou ao fim. A formalização de um acordo contraditório, delegados exaustos e reações que iam do alívio à frustração resumem a -atmosfera do desfecho da Cúpula, que extrapolou seu cronograma em mais de 30 horas de tensas negociações.
Desde a polêmica escolha de mais um petro-Estado como país-sede, já era esperado que as tensões diplomáticas ao longo das tratativas chegassem a níveis mais elevados que o habitual, considerando também a natureza de eventos como esse. Contudo, somaram-se às apreensões prévias novidades no contexto político internacional da véspera, com a reeleição de Donald Trump e sua promessa de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris.
Já na largada, Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, demonstrou ter se preocupado pouco com as críticas prévias. Na abertura da Conferência, chamou combustíveis fósseis de “presentes de Deus”, uma declaração que pode ser encarada como mensagem de boas-vindas aos mais de 1.700 lobistas que passaram pela COP29 — número que supera a soma das delegações dos dez países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Embora a grande expectativa fosse em torno das metas de financiamento climático, foi a aprovação do Artigo 6 do Acordo de Paris, para regulamentação internacional do comércio de crédito de carbono, que acalmou os ânimos no segundo dia da Cúpula. Criticada por alguns em razão da aprovação acelerada, a decisão superou anos de impasses nas discussões sobre esse mercado.
Acordo insuficiente, mas COP terminada
Nos dias seguintes, a tensão voltou a se intensificar. Incidentes diplomáticos, como a saída abrupta da delegação argentina por ordem do presidente Javier Milei, a ausência de grandes autoridades de economias importantes, e o intercâmbio de atenções com o G20, no Rio de Janeiro, foram alguns dos aspectos que alimentaram o ambiente de apreensão.
O desfecho das negociações exigiu intervenção da ONU, com Simon Stiell, secretário-executivo para Mudanças Climáticas, demandando maior seriedade dos países. Mukhtar Babayev, presidente da COP29, solicitou o apoio do Brasil e do Reino Unido para mediar as discussões derradeiras sobre -financiamento.
O acordo final, que estabeleceu uma meta de 300 bilhões de dólares anuais para financiamento climático, superou os 250 bilhões de dólares propostos no primeiro rascunho divulgado. O resultado, embora represente um avanço nos valores, ainda foi considerado insuficiente por especialistas para enfrentar os crescentes desafios climáticos globais. E deixou “esquecida” — ou para a COP30 — a questão da eliminação gradual dos combustíveis fósseis, refletindo as limitações do processo multilateral de negociações climáticas.
Lia Rizzo, de BAKU, Azerbaijão