Revista Exame

Câmbio e juros em alta farão parte do cenário

Para Emilio Garofalo Filho, ex-diretor do Banco Central, a desvalorização do real pode ajudar a economia brasileira — desde que não passe dos limites

Emilio Garofalo: “A taxa de câmbio será a que o Banco Central quiser” (Leandro Fonseca / EXAME)

Emilio Garofalo: “A taxa de câmbio será a que o Banco Central quiser” (Leandro Fonseca / EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de dezembro de 2014 às 05h00.

São Paulo - As mudanças no cenário internacional criaram um novo patamar — mais elevado — para os juros e o câmbio no Brasil, e isso não é necessariamente ruim para a economia. A opinião é de Emilio Garofalo Filho, que foi diretor da área externa do Banco Central (BC), secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior e hoje é diretor do banco Ourinvest, especializado em câmbio e investimentos.

1) EXAME - Com a deterioração da economia russa, o dólar e os juros deverão subir mais no Brasil?

Emilio Garofalo Filho - Sim. A situação na Rússia, aliada ao fortalecimento dos Estados Unidos e à queda do preço das commodities, especialmente do petróleo, é algo que obriga o Brasil a se ajustar. Para o bem ou para o mal, o câmbio e os juros em alta farão parte do novo cenário.

2) EXAME - Quanto ainda o dólar poderá subir?

Emilio Garofalo Filho - Estou cada vez mais convencido de que a taxa de câmbio será a que o Banco Central quiser. Há recursos, por exemplo, para conter uma valorização excessiva do dólar. Uma cotação entre 2,80 e 3 reais em 2015 ajudaria a equilibrar as contas externas.

3) EXAME - E se o dólar subir muito mais do que isso?

Emilio Garofalo Filho - Haverá um alto custo para as empresas endividadas em dólar, a começar pela Petrobras. Em economia, tudo tem efeito colateral.

4) EXAME - Além da atuação do BC, o que mais pode conter a valorização do dólar?

Emilio Garofalo Filho - Um choque de credibilidade da nova equipe econômica, o que poderia trazer mais recursos estrangeiros para o país. Mas não é desmanchando a Lei de Responsabilidade Fiscal que o governo vai conseguir isso. É preciso demonstrar que haverá austeridade e começar a praticá-la. A presidente Dilma Rousseff precisa mostrar que está engajada.

5) EXAME - Há outra maneira de reduzir o déficit externo que não seja por meio do câmbio?

Emilio Garofalo Filho - Sim. Dou um exemplo: quase todo o transporte de nossas exportações e importações é feito por empresas estrangeiras. Por quê? Questões trabalhistas? Deveria haver opções para manter esses recursos no Brasil. Da mesma forma, deveríamos oferecer alternativas para que os seguros dessas vendas externas fossem feitos aqui.

6) EXAME - Como controlar a inflação em meio à desvalorização do real?

Emilio Garofalo Filho - Há uma grande controvérsia sobre quanto da apreciação do câmbio é repassado para a inflação, mas, pelo que aprendemos nos últimos anos, esse repasse é baixo. É algo suportável. As facilidades exageradas de crédito, que criaram uma sensação de riqueza em várias camadas da população nos últimos anos, são mais inflacionárias do que um pouco mais de ajuste no câmbio.

7) EXAME - Quais impactos a esperada alta dos juros nos Estados Unidos pode ter no fluxo de recursos externos para o Brasil?

Emilio Garofalo Filho - Esse é um exercício de adivinhação. De toda forma, não espero um aumento que faça os juros ultrapassar os 2% ao ano nos Estados Unidos. Passado o primeiro impacto, tudo voltará ao normal, principalmente se a taxa Selic estiver em torno de 12% ao ano e a inflação razoa­velmente controlada.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioCapitalização da PetrobrasDólarEdição 1080EmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoMercado financeiroMoedasPetrobrasPetróleo

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025