Revista Exame

Brasil poderá ter 'biênio de ouro' na diplomacia ao presidir G20 e COP30

Pais terá a chance de pautar debates globais até 2025, mas precisa se adaptar a um cenário mais polarizado

Encontro no G20: o premiê indiano Narendra Modi transmitiu a presidência do G20 para o presidente Lula, durante reunião em Nova Déli (PIB/AFP/Getty Images)

Encontro no G20: o premiê indiano Narendra Modi transmitiu a presidência do G20 para o presidente Lula, durante reunião em Nova Déli (PIB/AFP/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 10h45.

Inicia-se no próximo ano um período que pode ser considerado um biênio de ouro para as relações exteriores brasileiras. Em dezembro de 2023, o país assumiu a presidência rotativa do G20 por um ano. E, em 2025, sediará a COP30, em Belém, no Pará. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva pretende usar a liderança no grupo para avançar em três eixos: o combate à fome, pobreza e desigualdade, a reforma da governança global e o desenvolvimento sustentável.

A ideia é criar duas alianças globais, uma contra a fome e outra contra a mudança do clima. “Não é possível que tanto dinheiro continue na mão de tão poucas pessoas e que tantas pessoas não tenham dinheiro para comer”, disse o presidente Lula, em discurso para marcar o início da liderança brasileira no G20. “Não é possível que organizações financeiras criadas há quase 80 anos continuem funcionando com os mesmos paradigmas, sem levar em conta as alterações estruturais do século 21.”

O discurso de Lula lembra os seus primeiros governos, entre 2003 e 2010. E embora a pobreza continue sendo um problema global, o mundo se tornou mais polarizado e menos consensual. “O mundo não é mais aquele que Lula conheceu na primeira década do século 21, quando era mais fácil exercer protagonismo internacional. Hoje muitas questões dividem as grandes potências”, diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper. “Quando você quer agradar a todos, o perigo é não agradar a ninguém e sair chamuscado.”

Entre os temas atuais, há a disputa entre Estados Unidos e China e a guerra na Ucrânia. Impasses nesses temas travaram o último encontro do G20, na Índia, em setembro, que teve declaração final vaga: defendeu o respeito aos territórios, mas não condenou Moscou pela invasão.

As medidas defendidas pelo Brasil, como o combate à fome e às mudanças climáticas, devem causar menos controvérsia, mas esbarram na falta de disposição dos países de enviar recursos e mudar políticas que podem, ao fim do dia, reduzir sua competitividade econômica. Os avanços vão depender da capacidade brasileira de convencer outros países a não ficarem só na conversa. Caberá ao Brasil buscar resultados práticos, além do brilho e dos ganhos de imagem que as posições de liderança trarão. Afinal, nem tudo o que reluz é ouro.

Acompanhe tudo sobre:1258

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda