Maquininha em ação: a Cielo manteve o retorno alto mesmo com mais concorrência (Lia Lubambo/EXAME.com/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2013 às 16h52.
São Paulo - Não tem sido fácil ganhar dinheiro no mercado brasileiro. Nos últimos cinco anos, a economia apresentou uma variedade inédita de desafios aos empresários. Aconteceu de tudo: desde a crise financeira que assolou o mundo em 2008, passando pela recuperação com direito a crescimento recorde em 2010, até o cenário de estagnação em 2012.
Por isso, os resultados do grupo de empresas que ilustram essa reportagem são notáveis: elas foram as recordistas em rentabilidade no país em meio ao sobe e desce dos últimos cinco anos. Em um dos casos, o da processadora de cartões Cielo, a rentabilidade acumulada superou os 1 400% — ou seja, gerou ganhos equivalentes a 15 vezes o capital colocado pelos acionistas.
“Uma empresa rentável é o reflexo de uma estratégia bem-sucedida, qualquer que seja o cenário macroeconômico”, diz Ricardo Almeida, professor de finanças da escola de negócios Insper, de São Paulo. “No caso da Cielo, além de dar garantias de retorno para o investidor, os números comprovam que a companhia soube criar barreiras de entrada para novos concorrentes e está dominando o mercado em que atua.”
As companhias que se deram melhor em lucratividade precisaram de disciplina para manter investimentos em anos difíceis e, às vezes, até abrir mão de crescer para manter a margem de lucro. A Cielo, que aparece como a mais rentável dos últimos cinco anos, passou por transformações profundas no período — incluindo a mudança do nome da empresa, que até 2009 era Visanet.
Há quatro anos, abriu o capital na Bovespa e fechou acordo com o governo para acabar com o duopólio que exercia ao lado da concorrente Redecard no mercado de credenciamento de cartões. Mesmo depois de ver a concorrência aumentar, a Cielo manteve a rentabilidade. Somente em 2012, o lucro da companhia foi de 1,2 bilhão de dólares — a receita cresceu 17% e chegou a 2,5 bilhões de dólares.
Para Rômulo de Melo Dias, presidente da Cielo, a chegada de novos competidores acabou estimulando a empresa. “Ficamos paranoicos e agora somos de fato uma empresa de serviços”, diz ele. “Evoluímos de uma companhia de pagamentos eletrônicos para uma corporação empenhada em auxiliar os lojistas nas estratégias para aumentar as vendas.”
Como exemplo das iniciativas, Dias destaca programas como o Cielo Crediário, que parcela as compras em até 48 vezes para clientes do Bradesco e do Banco do Brasil, e o Cielo Linkici, parceria com o Facebook que dá direito a promoções exclusivas aos clientes que registrarem nas máquinas da Cielo sua entrada em lojas e restaurantes cadastrados na rede social.
As empresas com maior rentabilidade têm características em comum. Costumam ser líderes em seus setores, como é a própria Cielo e também a metalúrgica CBMM, dona de 80% do mercado mundial de nióbio, metal usado para deixar o aço mais resistente e maleável.
Outra característica compartilhada é a atuação em mercados que, apesar da flutuação da economia, viveram um forte ciclo de crescimento nos últimos anos. É o caso do Grupo Boticário. Nos últimos 15 anos, a área de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos cresceu seis vezes no Brasil e chegou a um faturamento de 34 bilhões de reais em 2012.
Por isso, a Cálamo, braço responsável pela venda e distribuição dos produtos do Grupo Boticário, ocupou a quarta posição entre as empresas mais rentáveis de MELHORES E MAIORES — com ganho acumulado de 694%. Apesar de a rentabilidade ter sido próxima de 40% em 2012, esse índice já foi de 81% em 2008.
“A queda se deve principalmente ao aumento dos investimentos, com ampliação de fábricas, além de uma nova unidade e um centro de distribuição na Bahia”, afirma Fernando Modé, diretor financeiro do Grupo Boticário. De acordo com ele, também houve impactos da alta de tributos e da elevação do custo da mão de obra.
Para manter o lucro, as companhias da lista das mais rentáveis chegaram a optar por crescer menos que o previsto. A CBMM fez isso recentemente. Nos últimos 50 anos, a empresa do grupo Moreira Salles investiu pesadamente para desenvolver o mercado mundial de nióbio.
A especificidade do negócio proporcionou à CBMM rentabilidade acumulada de 734% nos últimos cinco anos. Mas o nióbio também sofreu os efeitos colaterais da crise mundial de 2009 — já que 95% da produção da empresa é exportada. “Perdemos em volume de vendas. Em 2009, vendemos 38 700 toneladas, quando nossa média era de 60 000 toneladas por ano”, diz Tadeu Carneiro, presidente da CBMM.
Mesmo assim, a rentabilidade da empresa naquele ano ficou próxima de 50%. “Mantivemos um índice alto porque aproveitamos o momento para desenvolver outros processos de aplicação do nióbio.” No ano passado, a companhia vendeu 64 000 toneladas do metal e espera chegar perto das 70 000 toneladas em 2013 — apostando no mercado chinês.
O que está por vir
É natural que, fortalecidas por ter mantido o lucro em um cenário adverso, as empresas mais rentáveis partam para planos mais ambiciosos. A fabricante de elevadores e escadas rolantes Atlas Schindler é um exemplo. Há 95 anos no Brasil, a Atlas Schindler já comercializou 180 000 elevadores.
A chegada do novo presidente, André Inserra, em abril, inicia uma nova etapa para a empresa de bens de capital, que acumulou 674% de rentabilidade nos últimos cinco anos. “Esse retorno é fruto da qualidade do serviço e de uma cultura atenta ao corte de custos”, afirma Inserra.
“Minha missão é dar continuidade ao histórico de sucesso e elevar os padrões da empresa, oferecendo no Brasil o mesmo nível de atendimento que os clientes têm em mercados como Estados Unidos e Alemanha.” Apesar de fazer parte de segmentos de atuação diferentes, as empresas mais rentáveis do país agora dividem o desafio de manter o desempenho mesmo se a economia continuar a andar de lado.
Alguns dos executivos que comandam essas empresas já admitem que será difícil manter a média nos próximos anos. Até as mais eficientes sofrem quando a economia de um país derrapa.