Estande da Rolex no salão Watches & Wonders, em Genebra: o tamanho generoso do espaço reflete o momento de alta nas vendas. (Fabrice Coffrini/Getty Images)
Ivan Padilla
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
A mais recente edição do Watches & Wonders, o mais importante salão de alta relojoaria, realizado em abril passado, estava dividida em duas alas. De um lado do enorme salão Palexpo, em um bairro um pouco mais afastado de Genebra, na Suíça, estavam as marcas do grupo Richemont. Como sempre, a Cartier ocupou por lá o maior espaço, quase um bloco inteiro, um estande luxuoso em que revendedores, jornalistas e clientes muito especiais só podiam entrar com horário marcado para ver os lançamentos do ano.
Do outro lado do salão estavam as marcas de outros grupos. Naquele pedaço, a Cartier ganhou um rival à altura, com um estande das mesmas enormes proporções. O espaço da Rolex impressionava, com a forte identidade em verde da marca e os lançamentos do ano expostos para apreciação. No segundo andar os convidados da manufatura suíça tinham à disposição um restaurante exclusivo para confraternizações e encontros de negócios, com bons rótulos de pinot noir e uma excelente cozinha contemporânea.
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Em uma feira de relógios, assim como em um salão do automóvel, o tamanho do estande de uma marca tem um significado simbólico, mas com bases bem concretas. A Rolex é a marca de relojoaria de luxo mais vendida no mundo. No ano passado suas vendas atingiram 8,6 bilhões de dólares, segundo o relatório anual sobre a indústria do Morgan Stanley, em colaboração com a consultoria suíça LuxeConsult. Em 2020, esse resultado havia sido de pouco mais de 8 bilhões de dólares. De acordo com o estudo, a participação atual da marca atinge 29% do mercado global, quase um terço do total. No levantamento do ano anterior, a fatia era de 25%.
Enquanto a Rolex consolidou sua supremacia, uma importante movimentação aconteceu no segundo lugar do pódio. A Omega, talvez a rival mais tradicional da Rolex, caiu para a terceira posição. A Cartier subiu um degrau e terminou o ano passado na vice-liderança do segmento. As vendas da manufatura de origem francesa somaram 2,5 bilhões de dólares, um crescimento de cerca de 40% em relação ao ano anterior. A Omega apresentou um faturamento de 2,3 bilhões de dólares. Em 2020, esse resultado havia sido de 2,8 bilhões de dólares.
Rolex e Cartier são as donas da festa, mas há muitos outros convivas se divertindo nesse salão. O ano de 2021 foi o melhor da história para o mercado de relógios de luxo fabricados na Suíça, com 22,3 bilhões de francos suíços em exportações, segundo a Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse. Isso representa 2,7% acima de 2019, antes portanto da crise provocada pela pandemia, e 0,2% mais em relação a 2014, até então o ano recorde do setor.
Por que essa procura agora por relógios mecânicos, em tempos de smartphones e smartwatches? Alguns fatores ajudam a explicar. O crescimento em vendas foi impulsionado pelo consumo nos Estados Unidos, cujo PIB cresceu 5,7% em 2021, maior alta desde 1984. A China, apesar de sofrer com restrições de deslocamento devido à pandemia, apenas manteve constante a compra de bens de luxo. Os consumidores chineses deram as cartas antes da pandemia nesse setor, influenciando até tendências, como a de relógios com caixas menores.
De acordo com o relatório da Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse, o segmento também se beneficiou das oportunidades adicionais criadas pela digitalização, do direcionamento das poupanças acumuladas pelo público de alta renda durante o período de isolamento e das restrições relacionadas às experiências de luxo, principalmente o turismo. A redução das viagens diminuiu o volume de compras no exterior, mas favoreceu mercados internos.
Tudo indica que os bons resultados do ano passado se repetirão em 2022 — e um novo recorde pode ser batido. Até março, as exportações de relógios de luxo somavam 5,8 bilhões de francos suíços. No primeiro trimestre do ano passado, o melhor de todos os tempos para o setor, esse total foi de 5 bilhões. Novamente, esse consumo tem sido puxado pelo mercado americano, que em tempos incertos parece direcionar investimentos para produtos de marcas icônicas feitos para durar. Mesmo que as peças em questão sejam anacrônicos relógios de pulso.