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A recessão brasileira terminou há dez trimestres. Em outras épocas, isso teria sido tempo mais do que suficiente para uma recuperação plena da economia

Austrália: de produto per capita semelhante ao do Brasil em 1990, o país da Oceania — após décadas de persistência em reformas — agora tem o triplo de nossa renda por habitante | Getty Images

Austrália: de produto per capita semelhante ao do Brasil em 1990, o país da Oceania — após décadas de persistência em reformas — agora tem o triplo de nossa renda por habitante | Getty Images

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 05h22.

Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 10h51.

A recessão brasileira terminou há dez trimestres. Em outras épocas, isso teria sido tempo mais do que suficiente para uma recuperação plena da economia (nas recessões das décadas de 80 e 90, o país tinha recuperado o nível anterior à crise em sete trimestres).

Deveríamos estar, a esta altura, num momento de quase euforia, imaginando-nos como o país do futuro, até que o próximo ciclo nos derrubasse outra vez. Mas nem sequer recuperamos o bom humor pelo qual os brasileiros costumavam ser reconhecidos mundo afora. O que acontece?

Há duas explicações complementares para a dolorosa demora da recuperação econômica. A primeira: esta crise foi mais funda do que as outras. O estrago foi maior e durou mais tempo do que em ocasiões anteriores. Quando ficou claro que estávamos num curso ruim, ali pelo final de 2013, em vez de regressar, nós dobramos o passo na mesma direção. E isso faz com que a volta seja mais árdua, mais cansativa, mais lenta.

A segunda explicação traz em seu bojo uma esperança. É que não estamos tentando apenas voltar ao curso que trilhávamos antes da crise. Estamos tentando pegar a estrada de cima, asfaltada, arborizada, iluminada e segura. Estamos tentando, em suma, transformar nossa economia tão dependente do Estado em uma economia mais vibrante, inovadora, rica — conduzida em sua maior parte pela iniciativa privada. Isso requer reformas profundas. E reformas, especialmente em países complexos, levam tempo.

Não se trata de apequenar o Estado. É o oposto. Trata-se de libertá-lo da atuação esparsa (porque onipresente) e ineficiente (porque eterna), para maximizar a força onde ele é necessário: educação, segurança, criação de boas condições para a condução dos negócios — e da própria vida dos cidadãos. Como mostramos em nossa reportagem de capa desta edição, o Brasil ensaia seguir o caminho liberal desde o governo do ex-presidente Michel Temer. A boa notícia é que esse caminho já foi trilhado por vários países, com excelentes resultados.

O Reino Unido, que até o final da década de 70 tinha uma presença estatal asfixiante, deu uma guinada sob o comando de Margaret Thatcher e voltou a ser uma economia vibrante. A Polônia deixou a herança comunista e, persistindo em reformas ao longo de governos de todos os matizes, tornou-se a economia grande que mais cresceu nas últimas três décadas. A Austrália, que no início dos anos 90 tinha um produto per capita semelhante ao do Brasil em paridade de poder de compra, tornou-se um país rico, com mais que o triplo da riqueza por habitante que a nossa. Em todos esses casos, os efeitos benéficos demoraram para aparecer. Mas, quando surgiram, levaram seus cidadãos a outro patamar de vida.

É possível — infelizmente, bem possível — que as reformas brasileiras fiquem incompletas ou sofram reversões. Mas é também possível que essa sensação de persistência da crise seja o início de um novo e mais firme período de crescimento.

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