Revista Exame

Alguém se importa de US 50 bi terem sumido na Petrobras?

É difícil achar outra área na qual o governo tenha aproveitado tantas chances de errar quanto na Petrobras, nos últimos 11 anos infectada por todo tipo de nomeação política. Sumiram 50 bilhões de dólares? Paciência


	Os responsáveis: se a lei valer, o ministro Mantega (foto) e Graça Foster podem ser acionados pelas perdas da Petrobras
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Os responsáveis: se a lei valer, o ministro Mantega (foto) e Graça Foster podem ser acionados pelas perdas da Petrobras (Abr)

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Da Redação

Publicado em 25 de dezembro de 2013 às 07h00.

São Paulo - Num país onde há o hábito de respeitar as leis sobre o funcionamento das companhias que vendem ações ao público, e as regras do jogo existem para ser cumpridas, como estariam se sentindo os acionistas de uma empresa que perdeu mais de 50 bilhões de dólares de seu valor de mercado entre 2008, quando a cotação de suas ações estava no pico, e hoje?

Ou: de uma companhia que, em apenas um ano, de 2012 para cá, perdeu metade do que valia nas bolsas? O que achariam esses acionistas ao constatar, como é de conhecimento público, que as perdas pavorosas dos últimos anos se devem, não às circunstâncias e aos riscos do mercado, mas a decisões diretas de seus diretores?

Iriam considerar normal que eles gerissem a empresa levando em conta exclusivamente o interesse de um acionista, o majoritário, em detrimento claro dos interesses dos demais sócios? Ficariam olhando, passivamente, o patrimônio que têm em ações da companhia derreter dia a dia diante de seus olhos?

Não — tratariam, é óbvio, de defender na Justiça seus direitos a uma gestão racional e de responsabilizar os gestores pelos prejuízos que lhes causaram. Mas isso, como foi dito, nos tais países onde se respeitam as leis.

Já em certo grande país da América do Sul, onde existe uma megaempresa petrolífera da qual o Estado é o acionista controlador, não só podem acontecer todas as desgraças descritas acima — podem e acontecem.

Nada mais normal do que o governo, que representa os controladores e nomeia os diretores da empresa, dar ordens diretas na administração diária, como se estivesse lidando com uma repartição pública.

E se, por causa disso, há perdas para os demais acionistas (e mesmo para o sócio majoritário, que teoricamente é o povo, representado pelo governo), ninguém é culpado, principalmente quem provocou o problema. Sumiram 50 bilhões de dólares? É, sumiram. Paciência.

O país em questão é o Brasil, a companhia gigante é a Petrobras e quem está levando na cabeça é o povo brasileiro, quer o cidadão tenha ou não ações da empresa. Seria difícil encontrar outra área na qual o governo tenha aproveitado tantas oportunidades de errar como aconteceu com a Petrobras durante as administrações de Lula e de Dilma Rousseff.


Desde o início do governo petista, há 11 anos, uma empresa de classe mundial foi infectada por todo tipo de nomeações puramente políticas, enfiando-se companheiros e aliados em cargos que não tinham a menor condição de exercer.

A empresa, por ordem do governo, fez negócios ruinosos, como uma “sociedade” com a Venezuela de Hugo Chávez na construção de uma refinaria em Pernambuco — um conto do vigário no qual os venezuelanos até hoje não colocaram um único bolívar.

Mais que tudo, a Petrobras se tornou uma ferramenta de política econômica do governo, que a utilizou abertamente para conter a inflação; obrigou-a a segurar os preços dos combustíveis, o que leva a empresa ao excelente negócio de comprar petróleo no exterior e vendê-lo aqui por preço mais baixo do que gastou na compra.

A companhia precisa, com urgência, aumentar sua produção diária — mas para isso tem de arrumar dinheiro, 25 bilhões de dólares só em 2014, e os investidores não gostarão de ver parte desse dinheiro usada para segurar os preços da gasolina num ano eleitoral. Dias duros pela frente, portanto.

Mas eles podem ser ainda muito mais duros se, como acontece em países sérios, acionistas ou, eventualmente, qualquer grupo de cidadãos começarem a entrar na Justiça com processos responsabilizando pessoalmente membros do conselho de administração e da diretoria executiva pelos desmandos cometidos na Petrobras nestes últimos anos.

Processar o governo, ou a empresa, é pura perda de tempo. Mas processar individualmente o presidente do conselho, ministro Guido Mantega, ou a presidente executiva, Graça Foster, além de outros executivos, já é uma história bem diferente. No clima de exasperação que se vive hoje na Justiça brasileira, não é um bom momento para ser réu.

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