O mercado de criptoativos já vale 1,7 trilhão de dólares no mundo e, no Brasil, ETFs de criptomoedas acumulam mais de 2 bilhões de reais em patrimônio em menos de um ano (Travis Wolfe/EyeEm//Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de março de 2022 às 15h00.
O investimento do brasileiro em fundos tem se sofisticado nos últimos anos na esteira do avanço da tecnologia e da queda estrutural dos juros, ainda que as taxas tenham voltado a subir nos últimos meses. Novas categorias ganham a preferência dos investidores, em opções que vão muito além dos tradicionais fundos de ações e renda fixa. Nenhum ativo cresce tanto na carteira de grandes investidores quanto os chamados alternativos. E eles estão cada vez mais acessíveis ao investidor de varejo. Participação em companhias de capital fechado, dívidas judiciais, crédito privado, imóveis e até criptomoedas podem entrar nessa classificação. “Ativos alternativos são qualquer um que exija esforço extra para encontrar, administrar, comprar ou vender”, diz Guilherme Ferreira, sócio da Jive Investments, com 8 bilhões de reais sob gestão. A Jive abriu neste ano seu primeiro fundo para investidores qualificados, captando 300 milhões de reais em 15 dias.
Mudanças regulatórias têm permitido que o número de investidores aumente, como a permissão para que qualquer pessoa invista diretamente em ativos alternativos, de ativos judiciais e royalties de músicas a obras de arte, mediante a oferta por plataforma registrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em 2021, eram 35 plataformas credenciadas para selecionar e oferecer os investimentos por meio de crowdfunding. Juntas, realizaram 116 rodadas de investimentos em 2021 e captaram 204 milhões de reais, segundo a Efund.
Investidores que querem retornos descorrelacionados da economia têm procurado alternativas também no mercado tradicional. Fundos quantitativos, que utilizam a tecnologia para explorar as ineficiências de mercado, têm crescido nesse cenário. Essa busca levou à captação líquida de 4,4 bilhões de reais em fundos quantitativos em 2021, acima dos 4,2 bilhões de reais em fundos de ações. “Há programas que leem balanços e interpretam notícias. O machine learning avançado permite fazer coisas que eram impossíveis sem o avanço da tecnologia, como ler um arsenal estatístico poderoso e avaliar e negociar vários ativos ao mesmo tempo”, diz Moacir Fernandes, head de estratégias quantitativas da Clave Capital.
Mas a tecnologia não está presente somente na forma de fazer a gestão, mas no próprio ativo. Criptomoedas entraram de vez para o portfólio dos brasileiros em 2021, com o lançamento dos primeiros ETFs focados nesse mercado na B3. O HASH11, que busca capturar o crescimento de toda a indústria, já é o segundo ETF mais popular da bolsa, com 144.500 investidores. Outros cinco ETFs de criptos foram lançados de lá para cá na B3. A depender do mercado e da demanda, o número de alternativas não vai parar de aumentar tão cedo.
Entenda como funcionam os fundos que estão ganhando a preferência no mercado
1. Private equity
Empresas de capital fechado há tempos são alvo de grandes investidores. O que tem mudado é o acesso. Antes restritos a fundos de private equity ou venture e seed capital, o investimento está acessível ao investidor de varejo por meiode gestoras especializadas ou de ofertas de crowdfunding.
2. Obras de arte
Obras de grandes artistas, como quadros e esculturas, se tornaram acessíveis ao investidor de varejo por meio de plataformas de crowdfunding. Custos de transporte, avaliação etc. ficam a cargo da plataforma. O ganho eventual com a operação ocorre apenas com a venda da obra
3. Criptomoedas
O mercado de criptoativos já vale 1,7 trilhão de dólares no mundo e, no Brasil, ETFs de criptomoedas acumulam mais de 2 bilhões de reais em patrimônio em menos de um ano. Fundos de gestão ativa, que buscam retornos acima da média, chegaram a ter performance acima de 100% no último ano
4. Quants
Fundos quantitativos utilizam modelos matemáticos para encontrar oportunidades, com métodos de análise distintos dos de fundos tradicionais. Com a tecnologia como aliada, fundos quants costumam ter maior número de ativos em seu portfólio e podem operar em diversos mercados ao mesmo tempo
5. Música
São investimentos que se diferenciam pela previsibilidade em razão da compra de direitos sobre royalties, que consideram o histórico de pagamento de determinada canção ou artista, como David Bowie (acima). Ganhos de popularidade, como o uso da música em filmes, podem gerar retorno acima do esperado