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Transparência é fundamental para os negócios, diz chefe de ONG

O presidente da Global Reporting Initiative deu uma entrevista a EXAME explicando os padrões de relatórios de sustentabilidade no mundo

Mohin: análise de risco para mudanças climáticas preocupa investidores (Foto/Divulgação)

Mohin: análise de risco para mudanças climáticas preocupa investidores (Foto/Divulgação)

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Renata Vieira

Publicado em 7 de junho de 2018 às 05h00.

Última atualização em 7 de junho de 2018 às 05h00.

Depois de passar pela EPA, agência de proteção ambiental americana, e ocupar o posto de executivo de sustentabilidade nas  companhias de tecnologia Intel e Apple, o americano Tim Mohin assumiu a presidência da Global Reporting Initiative (GRI) no final de 2016. A ONG holandesa elabora os mais utilizados padrões de relatórios de sustentabilidade no mundo. Em visita ao Brasil, um dos cinco países com mais adeptos da metodologia, ele deu a seguinte entrevista a EXAME.

O número de empresas no mundo que seguem o padrão GRI para a publicação de relatórios cresceu 20% na última década. Hoje são mais de 500 adeptas. Qual tem sido o fator de atração para essas companhias?

Há uma barreira inicial: identificar o que será reportado. Isso pode ser difícil e custoso. Uma vez iniciado o processo, as empresas passam a ver valor nele. Os benefícios estão na percepção dos consumidores, dos investidores e dos funcionários — sobretudo os mais jovens. Hoje, 315 da lista de 500 maiores companhias listadas na Europa são adeptas do GRI.

O senhor acredita que relatórios que integram finanças e sustentabilidade podem se tornar regra no futuro?

Resultados financeiros e de sustentabilidade deveriam ser reportados juntos. Temos visto essa tendência mais forte na Europa. Mas o relatório integrado só é útil na medida em que essas informações de fato são usadas juntas nas tomadas de decisão.

Pode ser difícil integrar os dois temas dentro das empresas?

O foco das equipes de finanças está nas implicações financeiras que todo e qualquer evento pode ter para a companhia. Elas são treinadas para isso, não para lidar com direitos humanos ou questões ambientais. Nas áreas de sustentabilidade, o foco está exatamente nesses assuntos. É um mau encaixe. Mas, tendo de fornecer informações mais completas aos acionistas, as empresas vêm conectando números e sustentabilidade — porque os investidores querem saber.

Os investidores buscam qual tipo de informação?

Muitos deles estão atrás de informações sobre mudança do clima. Eles não querem apenas o dado, mas um planejamento de risco para vários cenários possíveis. O que vai ser do seu negócio se a temperatura média do planeta subir 2 ou 3 graus? Eles querem saber que empresas estão preparadas para um planeta mais poluído e mais cheio de gente.

E como fazer esse tipo de informação chegar ao público leigo?

Não adianta escrever 100 páginas de relatório, mas também não adianta só colocar nelas figuras com crianças plantando árvores. Simplificar mais as informações significa torná-las mais atuais e comparáveis entre empresas do mesmo setor.

O consumidor de hoje está mais interessado nisso?

O consumidor é fundamental nessa história. Felizmente, as mensagens sobre sustentabilidade estão circulando na propaganda institucional das empresas e de seus produtos, o que também fomenta uma competição saudável nos setores.

Qual é a situação do Brasil nesse cenário?

O país está num momento crítico no que se refere à corrupção e à proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, a ferramenta da transparência por meio dos relatórios é muito poderosa. O Brasil já está entre os cinco países com maior número de relatórios em nossa base de dados. E há espaço para avançar entre as pequenas e médias empresas.

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